quarta-feira, 3 de setembro de 2025

CONTRAPONTO: "Homens fortes não batem no peito, se submetem, aprendem, evoluem e cuidam de si!"


OPINIÃO:
Olá, desculpa a invasão, mas precisei criar uma crítica ao artigo "Homens fortes não se submetem" (https://obaraoj.blogspot.com/2025/08/homens-fortes-nao-se-submetem-homens.html) de Amaro Barros publicado no vosso jornal usando uma visão mais atualizada do 'papel do homem'. Mais uma vez peço desculpas pela invasão.

Homens fortes não batem no peito, se submetem, aprendem, evoluem e cuidam de si!

O discurso de que “homens fortes não se submetem” é um retrato de uma masculinidade ultrapassada, que ainda sobrevive em setores conservadores da sociedade brasileira. Esse tipo de narrativa não é apenas antiquada, mas perigosa, porque alimenta a violência de gênero e perpetua a ideia de que ser homem é sinônimo de brutalidade.


Desde cedo, meninos são ensinados a esconder lágrimas, a não expressar afeto e a acreditar que seu papel é ser o oposto da mulher, sempre em posição de domínio. Como explica Heleieth Saffioti em Gênero, Patriarcado e Violência (2004), essa lógica patriarcal cria um campo de opressão em que os homens são condicionados a exercer poder sobre as mulheres, muitas vezes recorrendo à violência como forma de afirmar sua identidade. Não é coincidência que tantos homens criados nessa cartilha se tornem agressores, justificando seus atos com a desculpa de que “homem é assim mesmo”.

O problema é político. Essa masculinidade tóxica não é apenas um comportamento individual, mas uma estrutura de poder que sustenta desigualdades históricas. Marilena Chauí, em Cidadania e Violência (1999), já apontava que a naturalização da violência masculina serve como ferramenta de manutenção da ordem social injusta, onde o homem precisa reafirmar sua superioridade para não perder privilégios. Não se trata de força, mas de medo de perder o lugar que o patriarcado reservou.

Hoje, falar em masculinidade saudável é falar em democracia. A democracia exige empatia, diálogo, respeito às diferenças e à pluralidade de identidades. Homens que se escondem atrás do discurso de força e dureza, recusando a ternura e o cuidado, não fortalecem a sociedade, ao contrário, a enfraquecem. Como lembra Sérgio Carrara (foto abaixo) em seus estudos sobre masculinidades no Brasil, não existe um único jeito de ser homem, e impor um modelo único é perpetuar desigualdade e sofrimento.

O feminismo, tão atacado por esse tipo de texto, não ameaça a identidade masculina. Ele abre portas para que homens também possam se libertar das correntes de uma virilidade forçada, que os adoece e os empurra para a violência. Bell Hooks (foto abaixo), em O Feminismo é para Todo Mundo (tradução brasileira, 2018), reforça que o movimento feminista não é contra os homens, mas contra o sexismo que limita a todos.

Por isso, a verdadeira força política hoje não é a do homem que bate no peito e chama o outro de “mulherzinha” como ofensa, mas a do homem que enfrenta a cultura machista e mostra que empatia não é fraqueza. O homem que cuida, que divide responsabilidades em casa, que sabe chorar, que reconhece a igualdade como valor democrático, esse sim é forte.

O resto é apenas um resquício de atraso, de um patriarcado que insiste em sobreviver porque ainda encontra eco em quem confunde brutalidade com poder. Mas a história anda para frente, e os homens do futuro não serão aqueles que se negam a sentir, e sim os que se permitem viver plenamente sua humanidade.

Referências:

Heleieth Saffioti – Gênero, Patriarcado e Violência (2004)

Marilena Chauí – Cidadania e Violência (1999)

Sérgio Carrara – pesquisas sobre masculinidades no Brasil (diversos artigos na década de 2000 e 2010)

Bell hooks – O Feminismo é para Todo Mundo (tradução brasileira, 2018)

Texto opinativo de autor que solicitou anonimato