O presidente Jair Bolsonaro que nas últimas pesquisas apareceu com menos de 30% de aceitação, enquanto o Ministro da Saúde foi e é a grande estrela (e mais sensato no combate a pandemia) e apareceu com 70% de aceitação, convocou todos os seus 22 ministros e representantes de outros órgãos do governo federal para uma reunião no Palácio do Planalto na tarde desta segunda-feira. O encontro está previsto para as 17h, mesmo horário em que, desde a semana passada, ocorre entrevista coletiva capitaneada pelo ministro-chefe da Casa Civil, Walter Braga Netto, sobre as ações de enfrentamento ao novo coronavírus. Até o momento, no entanto, a coletiva não foi cancelada.
A convocação ocorre em meio à crise do presidente com o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, cuja permanência no cargo está em xeque, e que segundo Bolsonaro, usará no momento certo sua caneta contra ele, embora a grande maioria da população, empresários e políticos estejam ao lado do Ministro da Saúde.
No domingo, Bolsonaro disse a apoiadores na frente do Palácio da Alvorada que "algumas pessoas" do seu governo "de repente viraram estrelas e falam pelos cotovelos", e que não tem medo nem "pavor" de usar a caneta contra eles. Ele, no entanto, disse que "a hora deles não chegou ainda".
A declaração ocorreu três dias depois de o presidentedeclarar, em entrevista, que nenhum de seus ministros é 'indemissível' e que 'falta humildade' ao titular da Saúde, com quem admitiu estar "se bicando".
Mandetta diz que ‘semanas duras’ estão por vir no combate ao coronavírus
O ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, disse nesta sexta-feira que a pandemia do novo coronavírus será superada com dor, e que ele não vai “tampar o sol com a peneira”. Mandetta destacou, durante a entrevista coletiva, que o que vem pela frente é preocupante.
— Não existe superar sem dor. Serão semanas duras. Serão dias difíceis. Não estamos aqui para tampar o sol com a peneira não. Mas faremos com o máximo da nossa inteligência, com o máximo do nosso denodo, sempre pensando no paciente, sempre pensando na preservação do maior número de vidas — disse Mandetta.
Segundo ele, a ideia é fazer um “painel nacional” para enfrentar a epidemia:
— Quando tiver um problema maior na cidade A, a gente vai à cidade B, que está calma, reforça um pouco aqui, e vai trabalhando esse nosso barco com muita dificuldade. Mas vamos ver se a gente consegue ir balanceando e utilizando a a vantagem que a gente tem, de ter o Sistema Único de Saúde.
O ministro disse que está preocupado com todo o Brasil e que mesmo uma “cidade pequenininha” pode ter problema. Mas ele chamou atenção para alguns grandes centros do país. É o caso de São Paulo e Rio de Janeiro.
— É claro que nós temos uma cidade muito grande como é São Paulo, que tem 22 milhões na Grande São Paulo, onde uma espiral ali seria muito intensa. Temos um Rio de Janeiro, que a gente tem chamado atenção desde o início, que possui áreas de exclusão social com muita aglutinação de pessoas, difícil de fazer isolamento — afirmou.
Sobre a capital do país, o ministro explicou os números:
— Brasília, pelo fato de inúmeros voos internacionais, e muitas pessoas domésticas, voos de São Paulo, voos do Rio o dia inteiro para cá quando o Congresso está aberto, quando ela está efervescente. A cidade é cosmopolita. Por isso Brasília também um índice elevado.
Ministro diz que não vai ‘abandonar o paciente’
Durante a entrevista de ontem, o ministro Luiz Henrique Mandetta teve que responder a perguntas sobre as críticas públicas que tem recebido do presidente Jair Bolsonaro. Ao ser questionado se pensava em deixar o governo, ele afirmou que “médico não abandona o paciente”.
— Quanto a eu deixar o governo por minha vontade, eu tenho uma coisa na minha vida que eu aprendi com os meus mestres: “Médico não abandona paciente, meu filho”. Eu já cansei de terminar plantão na minha vida, e o plantonista que tinha que chegar para me render, para eu poder ir embora, não aparecer, por problemas quaisquer, e eu ficar 24 horas dentro do hospital — declarou.
Na quinta-feira, Bolsonaro afirmou que ele e Mandetta têm se “bicado há algum tempo” e que o ministro da Saúde “extrapolou” em meio à crise provocada pelo novo coronavírus. O presidente afirmou ainda que nenhum ministro é “indemissível”.
— O foco é do serviço. É do trabalho. Esse paciente chamado Brasil, quem me pediu para tomar conta dele neste momento é o presidente. E eu tenho dado para ele todas as informações. E entendo, entendo. Entendo os empresários que se queixam a ele. Entendo as pessoas que veem o lado político e colocam a ele. Entendo as pessoas que gostariam que a solução fosse uma solução rápida — acrescentou o ministro da Saúde.
Dificuldades com respiradores
Mandetta também admitiu que o Brasil tem tido dificuldades para comprar respiradores e outros insumos de auxílio no combate ao coronavírus e reforçou a necessidade de que as pessoas diminuem a atividade social para reduzir o avanço do contágio no país.
— O mundo inteiro compra da China, isso fez com que atravessássemos fevereiro e março sem adquirir de lá — disse, citando o fato que o país, que foi a origem da Covid-19, voltou inicialmente a sua produção de insumos apenas para abastecer o mercado interno.
— Temos aí uma coleção de problemas que vão se somando neste mercado.