domingo, 31 de agosto de 2025

“'Novidade': arqueologia de uma ideia tirânica" por Jeanne Guien

 Filósofa francesa provoca: culto ao novo não está na “natureza humana”. Ligado às lógicas mercantis e ao consumismo, ele é manejado em especial contra mulheres e trabalhadores, de quem se exige adaptação e obediência sempre renovadas

Jeanne Guien, entrevistada por Simon Brunfaut, no L’Écho | Tradução: Antonio Martins


E se nosso desejo pela novidade não fosse inato, mas construído? Em sua última obra, “Le désir de nouveautés. L’obsolescence au cœur du capitalisme” a filósofa e pesquisadora francesa Jeanne Guien, especialista na história do consumismo, desmonta a ideia de que o apelo pelo novo seria natural. Revistando cinco séculos de história econômica e cultural, ela mostra como o capitalismo moldou pacientemente esse desejo, do comércio colonial às estratégias do marketing moderno.

Você mostra que o desejo por novidades é instrumentalizado e moldado pelo sistema econômico em que vivemos. Por que a novidade vende tanto? Por que ela se tornou um valor comercial tão poderoso?

Observo frequentemente que tendemos a dizer: “A novidade agrada a todos, está na natureza humana.” E surge um monte de teorias antropológicas duvidosas. Evoca-se o humano como um ser que gostaria de mudança, como se fosse uma evidência biológica. Ora, cientificamente, não se pode fazer nada com esse tipo de afirmação. Nunca se encontrou um “centro da novidade” no cérebro humano. Em contrapartida, está comprovado que atores do mercado utilizaram produtos e meios de comunicação de massa para valorizar a novidade ou, ao contrário, ridicularizar a antiguidade. Se você tem os meios de martelar um discurso no espaço público, acaba por torná-lo crível. O poder das indústrias de comunicação permite impor qualquer valor. O desejo por novidades tal como o conhecemos hoje é forjado pelo nosso sistema econômico. É um valor construído. Podemos fazer sua história, sua arqueologia. O que ainda não se provou, em contrapartida, é que existiria em “nós” uma espécie de pulsão irresistível pela novidade.

Esse desejo por novidade seria, segundo você, uma construção cultural, moldada por um sistema mercantil?

É possível rastrear historicamente os discursos que construíram a valorização da novidade. Ao contrário das fantasias sobre uma pretensa atração inata por ela, podemos documentar os usos massivos e estratégicos dessa noção nos discursos comerciais, publicitários e políticos.

Sim, a novidade funciona porque ela promete. Ela projeta algo no futuro. Ela nos faz acreditar que o que é novo vai melhorar nossa vida, mudar nosso cotidiano. E quando a promessa não é cumprida, paciência, outra promessa assume o controle. E quando a promessa não basta mais, usa-se a ameaça: “Se você não comprar este produto, você ficará ultrapassado, cafona, pobre, velho…” É aí que entram em ação as discriminações: o etarismo, o classismo, o racismo…

[Jeanne Guien: "Nunca se vende apenas um produto. Vende-se também um corpo, uma imagem, uma classe social. 'O novo supostamente vem daqueles que têm o poder de ver o futuro'"]

Ou seja, a novidade valoriza sempre um grupo social em detrimento de outro?

Exatamente. Nunca se vende apenas um produto. Vende-se também um corpo, uma imagem, uma classe social. Uma novidade é sempre encarnada por uma figura — geralmente jovem, branca, urbana, masculina — que representa aquilo com o quê se deveria se parecer. Remete-se sempre a sistemas de dominação, a relações de força. O novo supostamente vem daqueles que têm “o poder de ver o futuro”.

Em outras palavras, por trás de cada promoção de novidade, há uma lógica de exclusão, segundo você?

Sim, porque para vender, é preciso mobilizar valores. E a publicidade não funciona apenas por palavras, ela utiliza corpos, status sociais, representações culturais. Associa-se o valor de um produto ao valor presumido da pessoa que o utiliza. E essa pessoa raramente é escolhida ao acaso. Por trás de cada objeto novo, há uma encenação de dominação. A publicidade não são apenas produtos e slogans, são também corpos e rostos. Associa-se um produto a corpos supostamente dotados de um valor superior: estrelas, pessoas jovens, brancas, magras, ricas. Eleva-se uma minoria a modelo a ser seguido, ao mesmo tempo que se relegam outras categorias à condição de arcaísmos.

Ou seja, a novidade é um revelador das relações sociais. Podemos ler na publicidade as normas, as hierarquias, as relações de força de um determinado momento. Isso não é apenas um problema simbólico. Cada inovação redistribui as relações de poder na sociedade que a adota. Alguns ganham, outros perdem. No entanto, continua-se a veicular a narrativa do progresso para todos. Mas os benefícios não são compartilhados de forma equitativa.

Você também fala dos estereótipos de gênero por trás dessa relação com a novidade…

Sim. As mulheres são frequentemente acusadas de serem frívolas, de gostarem de inovação no sentido do acessório, de ceder a caprichos consumistas. Em contrapartida, quando se fala de inovação de forma positiva, de tecnologia, de inteligência, são os homens que se valoriza. E quando é preciso justificar os excessos da sociedade de consumo, culpam-se as mulheres, os jovens, sobretudo as mulheres jovens.

A novidade gera, portanto, profundas desigualdades, segundo você?

Sim, a novidade é uma força de divisão muito mais do que um fator de democratização. A narrativa de que o consumo teria permitido a emergência de uma grande classe média é uma ilusão. As desigualdades nunca foram tão grandes. Em escala mundial, mais pessoas têm um plano de telefonia celular do que acesso à água potável. Isso não é progresso. O consumismo não democratiza. Ele divide. Gosta-se de contar que vivemos em uma sociedade unificada de classe média, mas as desigualdades aumentam.

Por trás desse desejo por novidades, há também a cultura do descartável?

As estratégias de obsolescência são múltiplas e complementares: materiais, comerciais, de software, comunicacionais. Tudo é feito para que o produto envelheça mal, seja dificilmente reparável e se torne desejável em sua versão mais recente.

Mas existe também uma obsolescência das pessoas, no mundo do trabalho notadamente, onde os apelos à renovação são permanentes…

Sim, é um fenômeno antigo. Desde o século XIX, os trabalhadores são confrontados com a atualização forçada de suas competências e com a obrigação de se adaptar. A gestão do século XX fez disso um modo de vida ideal. É preciso sempre rebater, se reinventar, aprender coisas novas. Hoje, isso é um business por si só. Existe uma indústria do coaching, da formação, da reconversão. Fala-se hoje em obsolescência de competências. Dizem a você que é preciso aprender sem cessar, renovar-se, ser adaptável. O coaching, o desenvolvimento pessoal, os balanços de competências… tudo isso se tornou uma indústria. E tudo isso serve para administrar um problema que o próprio sistema criou.

É possível resistir a esse culto da novidade?

Para mim, não é uma questão de “tomar consciência”. As pessoas sabem que a publicidade é manipuladora e que muitos produtos são inúteis. Mas isso não é suficiente. O que é preciso é fechar a torneira. Nós devemos regulamentar drasticamente a publicidade. Sou a favor da proibição da publicidade não solicitada. Deveria ser possível acessar a informação publicitária somente se a partir de uma demanta explícita. É preciso uma redução drástica da pressão publicitária. O objetivo não é impedir as pessoas de se informarem, mas limitar a agressão constante de anúncios não desejados, onipresentes no espaço público e nas redes sociais.

Pode-se pensar uma outra forma de novidade? Pode-se salvar esse conceito?

Meu objetivo não é salvar a novidade. A mudança existe, claro. Mas para mim, ela não é nem um valor, nem um ideal. É apenas um fato, e ainda por cima muito relativo: quanto tempo dura o status de “novo”? Não há razão para conceder-lhe um lugar central em nossas escolhas políticas ou sociais. Se uma ideia é correta, o fato de ser antiga ou recente não muda nada. O que importa é sua validade, não sua novidade.

Em suma, segundo você, é preciso dessacralizar a novidade?

Exatamente. É preciso neutralizar a novidade. A novidade não é um bem em si — nem um mal, aliás. É uma construção relativa, frequentemente instrumentalizada, e que não merece que a transformemos em um ideal. Nós devemos parar de moralizar a novidade.

"O consumismo é uma anomalia histórica recente" Jeanne Guien





24º Congresso BIEN Renda Básica e Economia Solidária: Novos Horizontes para a Proteção Social.

 Renda Básica: o que Maricá e Niterói nos ensinam?

Referências de transferência de renda com moedas sociais, cidades sediam congresso internacional. Sem condicionalidades, 116 mil pessoas recebem o benefício. Com impacto na economia local, beneficia especialmente mulheres e elevam índices de educação e saúde


Duas cidades do Estado do Rio sediaram na última semana de agosto, o 24º Congresso BIEN Renda Básica e Economia Solidária: Novos Horizontes para a Proteção Social. Maricá e Niterói foram escolhidas pelas suas experiências únicas de transferências de renda pagas por meio de suas moedas sociais. Os programas fazem parte de uma estratégia de desenvolvimento local que tem sido adotada por outras cidades do estado, atraindo atenção a nível internacional de entusiastas da Renda Básica Universal.

Fernando Freitas fez parte da equipe de pesquisa internacional que analisou o programa de Maricá e abaixo, relata alguns de seus resultados.

Maricá faz parte da região metropolitana do Rio de Janeiro. Devido à proximidade com cidades mais populosas, muitos de seus habitantes trabalham nas cidades vizinhas. Em 2013, a Prefeitura queria criar um programa de transferência de renda para movimentar a economia local. Porém, temia que o dinheiro do benefício pudesse acabar sendo gasto fora do território. A solução encontrada foi a criação da moeda Mumbuca, que só pode ser utilizada em comércios credenciados do município.

Durante a pandemia de Covid-19, quando se intensificou a vulnerabilidade econômica, a prefeitura de Niterói, vizinha de Maricá, criou um programa emergencial de transferência de renda. O benefício era pago aos estudantes da rede pública e certas categorias profissionais. Após alguns meses, foi decidido que o programa passaria a ser permanente e passaria a ser pago na moeda Arariboia, com o mesmo intuito de manter a renda dentro do município.

Atualmente, Maricá paga a Renda Básica de Cidadania para 71 mil pessoas. Cada indivíduo recebe 230 mumbucas, equivalente a R$ 230, que podem ser gastos em mais de 10 mil estabelecimentos comerciais. Em Niterói, o programa beneficia 45 mil famílias com no mínimo 308 arariboias (equivalente a R$ 308 reais) por domicílio, com 112 adicionais por pessoa.

Existem 182 moedas sociais comunitárias no Brasil. Países como Alemanha, Estados Unidos, Suécia e Japão também contam com moedas sociais. Diferente das experiências internacionais, as cidades fluminenses são as únicas a utilizá-las no pagamento de programas de transferência de renda municipais, fortalecendo seu uso com o apoio institucional.

A discussão sobre a Renda Básica Universal costuma ser pautada como uma das soluções para um futuro com menos empregos, ou ainda associada com experimentos temporários de garantia de renda para poucas centenas de pessoas. O acadêmico mais reconhecido da área, Philippe Van Parijs (que esteve no Brasil para o congresso!), defende em livros e entrevistas que a Renda Básica Universal ideal deveria beneficiar a todos os habitantes, não ter condicionalidades, e ser paga em dinheiro para assegurar liberdade de uso.

O Brasil se destaca pela tentativa de tornar a ideia mais concreta. Foi o primeiro país a instituir a Renda Básica de Cidadania, através da lei nº 10.835/04, de autoria do Senador Suplicy (foto acima). Os programas de Maricá e Niterói não tem condicionalidades, são pagos na moeda local com liberdade de uso, e beneficiam maior proporção da população local em relação a programas comparáveis. A Renda Básica de Maricá beneficia cerca de 35% dos habitantes, enquanto o Bolsa Família beneficia 20%. Em Niterói, a moeda Arariboia alcança 45 mil famílias, número três vezes maior que o das 15 mil contempladas pelo programa federal.

Pesquisas mostram resultados positivos e potencial futuro

De 2020 a 2024, Fernando Freitas fez parte da equipe de avaliação do programa de Maricá, em uma parceria entre a Universidade Federal Fluminense e o Jain Family Institute, instituto de pesquisa estadunidense. Um estudo que integra a pesquisa identificou que famílias chefiadas por mulheres e aquelas com crianças foram as mais beneficiadas, mesmo que o programa seja direcionado para todo o público do Cadastro Único de políticas sociais.

As transferências resultaram em acréscimo da renda dos beneficiários, com parte significativa direcionada ao consumo. Há impactos positivos na educação e na saúde de jovens e crianças beneficiadas, com aumento das consultas médicas realizadas. É interessante notar que esses resultados foram obtidos mesmo sem o programa exigir qualquer condicionalidade comportamental. A segurança do acréscimo de renda pode ter melhorado o bem-estar geral das famílias beneficiadas, o que contribuiu para manter a regularidade escolar e os cuidados com a saúde.

Críticas frequentes apontam que transferências de renda gerariam preguiça e estimulariam o desemprego, como argumentado por um empresário crítico do Bolsa Família recentemente. Mas todas as evidências apontam na direção contrária, a Renda Básica de Cidadania em Maricá teve papel central para que o município criasse mais empregos formais do que outras cidades comparáveis.

O resultado do pagamento das transferências de renda não ficou restrito aos beneficiários, tendo impactos no desenvolvimento econômico local. A renda adicional dos beneficiários é gasta no comércio da cidade, aumentando o faturamento, e contribuindo para induzir ciclo econômico positivo com expansões e contratações.

O acréscimo de renda das famílias beneficiadas pela Renda Básica não causou redução significativa nas horas trabalhadas. Simultaneamente, os autores observam que a renda obtida no mercado de trabalho diminuiu. Isso pode ser um reflexo de maior liberdade na escolha por ofícios mais desejáveis, embora menos remunerados. Por exemplo, com a segurança econômica assegurada pela renda do benefício, uma mãe solo tem maiores possibilidade de sair de um emprego precarizado em escala 6×1 para ganhar renda em um ofício mais flexível.

Os resultados da Renda Básica de Cidadania de Maricá inspiraram outras cidades a criarem seus próprios programas de transferência de renda pagos em moeda social. Além de Maricá e Niterói, ao menos outras seis cidades do estado do Rio de Janeiro seguiram esse caminho: Cabo Frio, Campos dos Goytacazes, Iguaba Grande, Itaboraí, Macaé e Saquarema. Embora todos paguem transferência de renda em moedas sociais, cada município teve escolhas próprias quanto aos valores pagos e o número de habitantes que seriam beneficiados.

Em artigo que Fernando Freitas é coautor, são analisadas as características dos programas e os resultados de circulação da moeda no território, concluindo que os programas que beneficiam mais habitantes (como no caso de Maricá e Niterói) tendem a ter maior aceitação no comércio e na cidade, sendo mais efetivos para promover o desenvolvimento local do que os outros mais focalizados.

Foi sugerida a adoção de medidas para estimular a circulação da moeda em maior intensidade nos territórios e potencializar os impactos. Um mecanismo de cashback para compras na moeda local poderia incentivar mais habitantes a usarem. Estimular o uso em comércios de menor porte com descontos na moeda local também seria positivo, pela tendência dos empreendimentos de comprar seus produtos na cidade com a moeda, mantendo a renda circulando no território por mais tempo. Também acreditamos ser importante que todos os municípios criem uma instituição gestora para lidar com as demandas cotidianas da moeda e planejar a circulação no longo prazo.

Transferências em moeda social melhoram a vida dos beneficiários em múltiplas frentes e dinamizam o desenvolvimento local. Os resultados sugerem que os programas funcionam tanto para fomentar o crescimento quanto para reduzir a pobreza simultaneamente, o que abre um caminho promissor para que outros municípios se inspirem no exemplo das cidades fluminenses.

por Fernando Freitas, no The Conversation Brasil

Maricá vive problema com término e cortes em programas sociais

EDITORIAL: Desde a posse do atual prefeito, Washington Siqueira (o Quaquá), alguns programas sociais estão passando por ajustes e recadastramentos (perfeito, já era hora, pois o benefício era pago para vários não moradores e para muitos que não necessitavam), porém, o principal deles o PPT - Programa de Proteção ao Trabalhador, foi abruptamente cancelado deixando milhares de beneficiários sem o auxílio, com dívidas contratadas e sem poder concluí-las, alguns fechando seus comércios e serviços, outros até passando fome.

O que vemos hoje, é uma cidade triste, com várias pessoas passando necessidades, lojas fechando, investidores desistindo de vir para o município e cerca de R$ 12 milhões a menos circulando mensalmente na economia da cidade.

Estes casos precisam ser bem VISTOS, REVISTOS e ANALISADOS para que problemas como os que Maricá passa hoje, não se repitam, voltando a vida florescer como aconteceu nos oito anos do governo anterior, de Fabiano Horta.

por Pery Salgado (jornalista)






sábado, 30 de agosto de 2025

CULTURARTE 292 - agosto de 2025 (segunda edição)

CULTURARTE 292
agosto de 2025 (segunda edição)



- Nosso editor e diretor completou 65 anos muito bem vividos. Conheça um pouca da história do jornalista Pery Salgado

- Vem ai, SAMOR (Sacis e Morganas), um encontro místico, com muita música, diversão, feira de artesanato e produtos holísticos e esotéricos, terapeutas, oraculistas, música, variada gastronomia, concurso de fantasias e muita diversão para a criançada e para toda a família. 05 de outubro das 11 às 20 horas, na COM VOCÊ - Casa de Festas e Eventos, na Alameda Maricá, no Condado.

- "O importante é ter um coração rico para ajudar os outros", uma história real da vida de Bill Gates

- ESTOICISMO: Quando você aceita a vida como ela é, você vive com mais leveza!

- Recomeçar aos 53: a história de vida de Marluce de Oliveira

- É fácil amar uma pessoa sensitiva?

Tudo isso na segunda edição de agosto do Informativo CULTURARTE, já circulando nas versões on-line e revista eletrônica.










'A morte é uma sacanagem. Sou cada vez mais contra': O adeus ao mestre Luis Fernando Verissimo

O Brasil se despediu do escritor e cronista Luis Fernado Verissimo que morreu no sábado (30/8), aos 88 anos, em Porto Alegre (RS).


Verissimo estava internado desde o domingo (17/8) na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital Moinhos de Vento em Porto Alegre (RS), com princípio de pneumonia.

O escritor gaúcho, nascido em Porto Alegre em 26 de setembro de 1936, enfrentava há anos uma série de complicações de saúde que incluíam a doença de Parkinson, sequelas de um Acidente Vascular Cerebral (AVC) sofrido em 2021, além de problemas cardíacos.

Ao fim da vida, enfrentava dificuldades de fala e as poucas palavras que ainda balbuciava, eram em inglês, conforme relato de Lúcia Verissimo, de 81 anos e esposa do escritor por 61 deles, à Folha de São Paulo.

Filho de Mafalda e Erico Verissimo (1905-1975), também escritor, Luis Fernando Verissimo mudou-se aos 16 anos para os Estados Unidos, onde o pai trabalhou como professor na Universidade da Califórnia, de 1943 a 1945.

Em solo americano, Verissimo começou a desenvolver suas habilidades literárias e seu amor pelo jazz, tornando-se mais tarde saxofonista e integrante da banda Jazz 6.

Durante sua extensa carreira, o escritor construiu um vasto legado com mais de 70 livros publicados e 5,6 milhões de cópias vendidas.

Sua produção literária abrangeu gêneros diversos, desde crônicas humorísticas até contos e romances que retrataram com graça e maestria o cotidiano brasileiro.

Além dos livros publicados, Verissimo também teve presença cativa na imprensa nacional, colaborando como colunista em veículos como O Estado de São Paulo, O Globo, Veja e Zero Hora.

Entre as principais obras do escritor, estão O Analista de Bagé (1981), A Grande Mulher Nua (1975), Ed Mort e Outras Histórias (1979), O Santinho (1991) e Comédias da Vida Privada (1994), livro de crônicas que foi adaptado para uma série de televisão pela Rede Globo, entre 1996 e 1997.

"Eu comecei a escrever tarde, com mais de 30 anos. Até então só tinha feito algumas traduções do inglês e não tinha a menor intenção de ser jornalista ou escritor", lembrou Verissimo, então aos 80 anos, em entrevista à revista Época, em 2016.

"Quando me deram um espaço assinado no jornal, eu, por assim dizer, me descobri. (...) O resto, os contos e os romances são decorrências do trabalho como cronista. Na música, apenas realizei o sonho de ser jazzista, ou pelo menos poder brincar de ser jazzista", completou.

Conhecido por seu posicionamento político de esquerda, Verissimo foi um duro crítico do governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e sempre elogiou os primeiros governos petistas pela inclusão social e diminuição da desigualdade no Brasil.

Ele também defendia que "todo mundo deve ter lado, e deixar claro qual é".

"Talvez ingenuamente, eu não entendo como uma pessoa que enxerga o país à sua volta, vive suas desigualdades e sabe a causa das suas misérias pode não ser de esquerda. Ser de esquerda não é uma opção, é uma decorrência", disse o escritor, em entrevista à Folha de São Paulo em 2020.

Sucesso das páginas às telas

Além de sua prolífica carreira como escritor e cronista, Verissimo teve uma significativa participação na televisão brasileira, com trabalhos como roteirista e criador de séries de sucesso.

Na rede Globo, foi redator de programas como Planeta dos homens, Viva o gordo e TV Pirata.

Mas seu maior sucesso nas telas veio com A Comédia da Vida Privada (foto acima), série de 21 episódios, exibida pela Globo entre 1995 e 1997.

Criada por Jorge Furtado e Guel Arraes, teve roteiros de grandes nomes Pedro Cardoso, Fernanda Young, Guel Arraes e do próprio Verissimo, que teve suas crônicas adaptadas e também escreveu roteiros originais para alguns episódios.

Exibida às terça-férias, a série tinha como enredo histórias do cotidiano de pessoas da classe média brasileira, com um estelar elenco de mestre da comédia nacional, como Marco Nanini, Pedro Cardoso, Fernanda Torres, Marieta Severo, Andréa Beltrão, Luiz Fernando Guimarães, entre outros.

"Diálogos ágeis e engraçados, edição rápida, efeitos eletrônicos e interpretação teatral de texto baseado na obra do escritor Luis Fernando Verissimo fazem o sucesso do programa. Mesmo que muitos dos termos e situações abordadas estejam há muito fora de circulação. Ou talvez por isso mesmo", escreveu a crítica Esther Hamburger sobre a série.

Verissimo teve ainda suas crônica adaptadas em quadros de humor no programa dominical Fantástico, e nas séries Sexo Frágil (Globo, 2003-2004), Aventuras da Família Brasil (RBS, 2009) e Amor Verissimo (GNT, 2014-2015).

"Sou um gigolô das palavras. Vivo à custa delas. E tenho com elas a exemplar conduta de um cáften profissional. Abuso delas", escreveu Verissimo sobre seu ofício, na crônica O gigolô das palavras.

Frases de Veríssimo sobre a morte

Na velhice, já debilitado pelos anos e pelos sucessivos problemas de saúde, o escritor falava da morte com um misto de tristeza e doçura, com a leveza típica de sua obra.

"A morte é uma injustiça, esse é a melhor descrição. Mas a gente tem de conviver com isso", disse ele à Folha de São Paulo, em 2011.

"A gente vai ficando mais lento de pensamento. Nesse sentido, estou sentindo a velhice. Mas aí é tentar aproveitar a vida da melhor maneira. Enquanto der para aproveitar a nossa neta, ir ao cinema, viajar, a gente vai levando."

Em 2013, após deixar o hospital onde havia sido internado na UTI, em função e um gripe que evoluiu para um quadro de infecção generalizada, foi ainda mais radical, em nova declaração à Folha.

"A morte é uma sacanagem. Sou cada vez mais contra."

Corpo do escritor Luis Fernando Verissimo é sepultado em Porto Alegre

Cerimônia foi restrita aos familiares. Autor de 88 anos estava hospitalizado há cerca de três semanas e morreu por complicações decorrentes de uma pneumonia.

O corpo do escritor Luis Fernando Verissimo foi enterrado às 18h deste sábado (30) no Cemitério São Miguel e Almas, em Porto Alegre. A despedida foi restrita aos familiares. Ele foi sepultado ao lado da mãe da avó. O corpo do pai dele, o escritor Érico Verissimo, também está enterrado no mesmo local.

Mais cedo, houve a cerimônia de velório, aberta ao público, na Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul, também em Porto Alegre. Familiares, amigos e admiradores começaram a chegar ao Salão Júlio de Castilhos por volta das 11h30 para prestar as últimas homenagens, que se estendeu até por volta das 16h45.

O autor tinha 88 anos e morreu devido às complicações causadas por um quadro de pneumonia. Ele estava internado desde 11 de maio e morreu por volta de 0h40, segundo o Hospital Moinhos de Vento.

Verissimo tinha Parkinson e problemas cardíacos – em 2016, implantou um marcapasso. Em 2021, o escritor sofreu um Acidente Vascular Cerebral (AVC), e segundo a família, enfrentava dificuldades motoras e de comunicação.

O escritor deixa a esposa, Lúcia Veríssimo, e três filhos, Fernanda, Mariana e Pedro, além de dois netos.







sexta-feira, 29 de agosto de 2025

CÂMARA REALIZA AUDIÊNCIA PÚBLICA DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA

 


Aconteceu na tarde da quarta feira 27 de agosto, a 2ª Audiência Pública da Pessoa com Deficiência, presidida pelo vereador Felipe Paiva (presidente da comissão de defesa da pessoa com deficiência). Este vereador realizou em 2018 a 1ª audiência e a população clamava por outra audiência sobre o tema, em função do crescimento do número de PCDs em Maricá e apesar dos avanços do município na questão, são muitos os problemas de mobilidade, acessibilidade e INCLUSÃO.

Estranhamente, as falas da vereadora Adriana Costa e do vereador Ricardo Netuno tiveram vários cortes (confira no vídeo abaixo), especialmente deste último, primeiro ao saudar a presença do jornalista Pery Salgado (pcd ostomizado) e depois ao colocar os diversos problemas que afligem o município, principalmente na questão de mobilidade urbana.

Na fala de Aldair de Linda (sem cortes) este se emocionou ao falar de sua filha (pcd) com deficiência visual e depois falou da alegria primeiro do Auxílio Cuidar e agora do auxílio Cuidar de quem cuida, para ajudar as pessoas que cuidam dos pcds.

Dando prosseguimento, a secretaria Tatiana Castor falou dos avanços da secretaria da pessoa com deficiência e inclusão que hoje tem 2604 beneficiários do auxílio cuidar, sendo que 40 estavam foram do escopo do programa e foram excluídos na auditoria que está sendo realizada. Disse também que hoje estão na fila de espera 3311 pessoas que estão sendo analisadas se estarão aptas a receber o auxílio, mas que a secretaria precisará de reforço no orçamento da pasta, uma vez que só o auxilio cuidar hoje leva R$ 50 milhões dos R$ 78 milhões destinados a pasta.

Aldair de Linda falou que seja enviada uma solicitação para remanejamento de verba.

Foram citadas as necessidades de ampliação dos serviços do SAREM I e II onde a fila de espera nas duas unidades chega a 400 pessoas.

Foi falado da criação do SAREM III (Inoã e Itaipuaçu) e da Casa do Autista II também para atendimento da população dos dois distritos, além da expansão de serviços para todos os distritos de Maricá das diversas especificidades de atendimento aos pcds.

Na questão de urbanização da cidade, foi citado os diversos problemas de calçadas, quiosques que saíram do CECOP e invadiram de modo errôneo as vias públicas, além de acessibilidades em lojas e locais públicos.

Cecília presidente da Casa do Autista, falou dos diversos serviços aos autistas a partir dos 12 anos, onde cerca de 450 atendimentos são realizados por semana e a fila de espera hoje com quase 200 pessoas, cresce a cada dia, lembrando que cada autista é um autista, e que não existem dois autistas iguais. O desenvolvimento da socialização é o fator mais importante empregado nos tratamentos da Casa do Autista.

O jornalista Pery Salgado falou sobre os pcds invisíveis e em especial dos ostomizados, que hoje não tem minimamente uma ducha nos banheiros públicos para uma higiene mínima, agradecendo o esforço da vereador Adriana Costa em tentar mudar essa situação. Aproveitou para lamentar a ausência dos demais veículos de imprensa da cidade, que ali deveriam estar apoiando a audiência e todas as demandas dos pcds de Maricá.

Maria Aparecida falou das diversas dificuldades pelas quais a Pestalozzi de Maricá vem passando, dificuldades essas que o NAIR (com 24 anos em Maricá) também passa.

Georgia diretora do NAIR sugeriu que o auxílio a essas duas entidades entre no orçamento do PPA de Maricá (para 2026 a 2029) que será discutido no início de setembro.

Viviane do GAMAM falou de diversas especificidades que não tem nenhum tipo de atendimento em Maricá, lembrando que o pcd também envelhecem, assim como toda sua família e quem irá cuidar destes pcds quando a família faltar?

Vários outros participantes fizeram uso da palavra e a seguir foi passada a palavra ao público presente, onde o primeiro a falar foi o humorista Jefinho (o ceguinho da Praça é Nossa), que falou de todas as dificuldades que os pcds passam também na área cultural, principalmente na questão de acessibilidade e inclusão, e convidou à todos a Primeira Parada do Orgulho PCD que acontecerá em Maricá no dia 06 de dezembro, desenvolvida pelo Instituto Terra do Saber.

Luana Gouvea, do Simplifica Down, falou das dificuldades e portas fechadas que os pcds e grupos de auxílios encontram em tentar fazer eventos para gerar recursos para estes necessitados. Luana pediu de todos e em especial da secretaria da pessoa com deficiência e inclusão, uma atenção especial ao público com Síndrome de Down, dizendo que as mães atípicas estão cansadas.

O jornalista Pery Salgado aproveitou para solicitar ao executivo municipal, que este deixe de lado (com todo respeito a memória de Niemeyer) os projetos faraônicos e que este dinheiro seja gasto com aparelhos públicos necessários aos pcds de Maricá.

Um fato lamentável, é que nenhum representante da secretaria de saúde se fez presente.

Assista abaixo a audiência pública da pessoa com deficiência (com alguns cortes nas falas da vereadora Adriana Costa e do vereador Ricardo Netuno):