terça-feira, 10 de janeiro de 2023

MORADORES E COMERCIANTES RECLAMAM DE DESCASO COM RIO MUMBUCA, EM MARICÁ


Após matéria do jornal Barão de Inohan sobre o descaso e assoreamento do Rio Mumbuca (https://obaraoj.blogspot.com/2022/12/esquecido-rio-mumbuca-pede-socorro-ou-o.html), o repórter do jornal A TRIBUNA - Marcus Vinicius Cabral em contato com o jornalista Pery Salgado (editor do Barão de Inohan), informou que iria à Maricá para nova matéria sobre o assunto e viu que a SOMAR já começou a realizar algum trabalho de limpeza do rio após matéria do Barão, mas ouvindo moradores e comerciantes do local, viu que o problema ainda é enorme e preocupante. Abaixo, reproduzimos na integra a matéria publicada no jornal A TRIBUNA.


MORADORES E COMERCIANTES RECLAMAM DE DESCASO COM RIO MUMBUCA, EM MARICÁ

Tradicional e histórico em Maricá, o Rio Mumbuca tem causado dor de cabeça a moradores e comerciantes do município. No bairro homônimo, cortado pela extensão do rio que vai da nascente no Silvado à foz em Araçatiba, algumas pessoas reclamam sobre o descaso da Prefeitura em não realizar periodicamente a limpeza do rio.

No entanto, mês de recomeço para todos que fazem planos e esperam coisas boas no Ano Novo, janeiro é encarado com medo pelas pessoas no município de Maricá. Isso porque com as fortes chuvas de verão que chegam às cidades nesta época do ano, muitos rios transbordam e invadem casas e lojas causando prejuízos aos moradores e comerciantes do município.

“O Rio Mumbuca estava há quase dez meses sem ser desassoreado ou qualquer tipo de manutenção. Nas chuvas de janeiro, apesar de forte, suportamos, mas em abril do ano passado, todo mundo do bairro perdeu alguma coisa. Eu, por exemplo, perdi tudo. Corri e deu tempo de salvar duas TV’s”, relembra R.S, morador da Rua 22 de Novembro, no bairro Mumbuca.

Já Elinelsa Alves, de 55 anos, proprietária do Brechó 620, diz que teve que pedir ao marido para fazer obras na casa e erguer uma barreira de contenção de 80 centímetros para não ter a casa tomada pela água. “Meu marido que fez essa obra. Quando chovia, esse rio que fica aqui próximo do meu comércio, transbordava e água entrava na casa dos moradores e comércios. Ainda bem que me precavi em relação a isso”, contou.

Já o desempregado Fabrício Villaça, de 40 anos, revela que o Rio Mumbuca é esquecido pela Prefeitura por se tratar de um grande rio que corta toda a Região Central de Maricá. “Olha, eu estou até surpreso com essa máquina aí estacionada ao lado do canal, mas é tão raro ver isso que inclusive já está até chovendo. Maricá é uma cidade que se preocupa em ser bela e não em sanar os problemas”, revoltou-se.

Outras revoltada com o estado do Rio Mumbuca é Carla Damasceno, de 53 anos, contadora e moradora de Maricá há 47. “Me entristece ver o descaso com o rio que corta a cidade de Maricá. Lembro que este rio era destino para refrescar os moradores nos verões de Maricá. O Rio Mumbuca hoje é um depósito de lixo. Gostaria de pedir que a Prefeitura retirasse as lixeiras que foram colocadas nos postes, pois todo o excesso cai dentro do Rio. É muito triste e preocupante assistir este rio morrendo, ainda vemos cardumes de peixes sufocados nas águas, hoje sujas do Mumbuca”, contou e disse que o mau cheiro é outro problema enfrentado pelos moradores.

A Prefeitura de Maricá foi procurada por A TRIBUNA para repercutir as reclamações dos moradores e comerciantes do município. Por meio de assessoria, ela disse que “sobre o Rio Mumbuca, a Autarquia Municipal de Serviços de Obras de Maricá (SOMAR) informa que realiza ações periódicas de limpeza e manutenção para manter o fluxo e escoamento das águas, com foco na prevenção de enchentes. E, que após as fortes chuvas que atingiram o município em abril de 2022, a Prefeitura implementou uma série de medidas para ajudar as vítimas de enchentes. Uma delas foi a instituição do Auxílio Recomeço, que beneficiou mais de 3.500 famílias com pagamento de 5 mil mumbucas (equivalente a 5 mil reais) para aquisição de móveis e eletrodomésticos perdidos na enchente”, revelou o comunicado.

Além disso, prossegue a nota “que os moradores cadastrados receberam o aluguel social de 1.500 mumbucas; beneficiários do programa Renda Básica de Cidadania (RBC) tiveram aumento de 170 para 200 mumbucas; e os inscritos no Programa de Amparo ao Trabalhador (PAT) tiveram o benefício prorrogado, entre outras medidas de assistência a moradores da cidade”.

A TRIBUNA procurou também por Cézar Brum, de 66 anos, historiador e autor do livro Contando a História de Maricá, que falou sobre a importância do Rio Mumbuca para o município. “Uma boa parte parte dos rios que existem no município, desaguam no Rio Mumbuca. O curso deste rio, que foi desviado, não é mais o original, pois na década de 1970, era um rio piscoso em que as pessoas tomavam banho. Infelizmente o esgoto acabou com rio. Antigamente, a Estrada Férrea de Maricá passava por cima dele e foi construído uma ponte, também de ferro, no final do século XIX, que veio do Estaleiro Mauá, que funcionava em Niterói. Está sendo realizado um trabalho de revitalização, no entanto, nos tempos áureos, podiam navegar lanchas, canoas e barcos”, revelou.

Para Mário Moscatelli, ambientalista, biólogo, especialista em gestão e recuperação de ecossistemas costeiros, o rio não é tratado como deveria ser. “Historicamente, o destino dos rios no Brasil é a sua transformação em valões de lixo e esgoto. Por outro lado, o poder público municipal praticamente se nega em ordenar o uso do solo, obrigação das prefeituras, o que gera a ocupação desordenada das bacias hidrográficas gerando direta e indiretamente ainda mais assoreamento desse tipo de ecossistema estratégico. Portanto, a grande vítima são os rios. Os culpados pelo estado terminal dos rios e suas consequências em termos ambientais (inundações) e de saúde pública (multiplicação de doenças), sem qualquer dúvida, é do Poder Público que se omite em relação ao combate das causas que geram a degradação e da sociedade que participa por ação e omissão diante da degradação da qual também se torna uma vítima secundária”, contou e finalizou dizendo que “a natureza não se protege, se vinga!”.

Matéria de MARCOS VINICIUS CABRAL - jornal A TRIBUNA edição 35.839 de 7, 8 e 9 de janeiro de 2023