Além da queda contínua nos casos e óbitos na capital, o coronavírus dá sinais de desaceleração na maior parte do interior do Rio. Um levantamento realizado pelo GLOBO com base em dados oficiais da Secretaria estadual de Saúde mostra que, dos 92 municípios fluminenses, 79 (86%) registraram, na semana passada, queda no total de notificações de testes positivos de Covid-19, na comparação com os sete dias anteriores. Duas cidades — Araruama e Pinheiral — mantiveram o mesmo patamar. Quando a análise é feita por regiões, o mapa da doença no estado indica que houve aumento de casos apenas no Norte Fluminense, impulsionado por uma alta significativa em Macaé.
Quanto às mortes, os números continuam oscilando, mas prefeituras e especialistas acreditam que boa parte deles é referente a óbitos antigos — que estavam em investigação ou demoraram a ser lançados no sistema de controle — e que há, sim, um achatamento da curva epidemiológica.
— Há mais ou menos três semanas, começamos a verificar o início dessa queda progressiva no estado. Ficamos até assustados com o fenômeno. O que pode explicá-lo é a hipótese de muito mais gente do que esperávamos ter pegado a doença. O certo, no entanto, é que a população precisa manter a disciplina, tomando medidas como o uso de máscaras. Afinal, continuaremos convivendo com o coronavírus por um bom tempo — afirma o professor Lisandro Lovisolo, integrante do Observatório Fluminense sobre a Covid-19, da Uerj.
Menos notificações
As cidades populosas do interior que, na virada do mês, ainda inspiravam grande preocupação, agora experimentam um certo alívio. Volta Redonda (com 180 novos casos), Campos dos Goytacazes (139), Angra dos Reis (118), Cabo Frio (86) e Itaperuna (56) são alguns dos municípios que tiveram, entre os dias 5 e 11 deste mês, os menores números de confirmações nas últimas quatro semanas.
Em Campos, a prefeitura ressalta que, em linhas gerais, há uma melhora do quadro da pandemia na cidade, com o número de pacientes recuperados consideravelmente maior que o de casos ativos da doença. No entanto, afirma que a ocupação dos leitos continua alta, acima de 90% em UTIs e maior que 75% em enfermarias. O município destaca que, após o governo do estado cancelar a construção do hospital de campanha prometido para a cidade, foi preciso aumentar os esforços para abrir leitos dedicados ao tratamento da Covid-19, com uma ampliação da rede própria e busca por parcerias.
Angra, por sua vez, está com a ocupação dos leitos públicos para a Covid-19 perto dos 39%, o que impactou positivamente nos resultados da Baía da Ilha Grande. A região teve, em média, 22,6 casos por dia na semana passada, 50% a menos que na anterior (45,1) e 60% abaixo do resultado de 21 a 27 de junho (56,9).
Na Região Metropolitana I, que inclui o Rio e grande parte da Baixada Fluminense, a média também segue em queda. De um quadro alarmante de 1.552 testes positivos diários, entre 14 e 20 de junho, passou para 709,3 na semana entre os dias 5 e 11 do mesmo mês. Só para se ter uma ideia, apenas uma cidade da região (Magé, com 100 notificações) apresentou aumento de casos positivos na semana passada, em relação à anterior.
Apesar disso, os efeitos das últimas medidas de flexibilização do isolamento social na cidade do Rio, como a abertura de bares e restaurantes, ainda podem aparecer nas estatísticas dentro de alguns dias. Na semana passada, o município com mais casos da doença, depois da capital, foi Macaé, com 759 novos registros. Uma das hipóteses é que o crescimento esteja relacionado a uma testagem massiva.
Uma das medidas tomada pela prefeitura foi agendar testes para trabalhadores, sócios e proprietários de alguns segmentos da economia que já puderam retornar às atividades. A experiência focou em equipes de lojas com acesso para a rua ou que funcionam dentro de pequenas galerias, centros de treinamento em saúde e também de segurança voltada para o setor de petróleo.
Contrastes no interior
Outras cidades do interior, como Sapucaia — um dos primeiros municípios com menos de 20 mil habitantes a registrar casos da doença —, vêm investindo na desinfecção em perímetros urbanos, barreiras sanitárias e rastreamento dos contatos das pessoas que apresentam sintomas da Covid-19.
A nota dissonante, porém, é o aumento das mortes notificadas em cidades como Saquarema, Rio das Ostras, Magé e Volta Redonda. Nesta última, as mortes divulgadas nos boletins do estado passaram de oito, entre 28 de junho e 4 de julho, para 23, na semana passada. Na noite da última sexta-feira, a prefeitura precisou interditar uma casa de festas onde acontecia um evento de música eletrônica com grande aglomeração de pessoas.
Numa análise por região, o aumento na quantidade de mortes ocorreu na Baixada Litorânea, no Médio Paraíba, no Noroeste do estado, no Norte Fluminense e na Região Serrana. Juntas, essas regiões registraram, na semana passada, 159 óbitos. Mas, até o boletim de anteontem, só 43 (27% do total) tinham ocorrido, de fato, nesse período.
— Esses resultados nas mortes podem ser um diagnóstico de semanas passadas, quando os números estavam mais altos — observa Lovisolo.
As prefeituras afirmam o mesmo. Rio das Ostras, que na manhã de ontem tinha 40% dos leitos de Covid-19 ocupados, aponta um descompasso entre os seus números e os que são divulgados pelo estado. No dia 6 de julho, por exemplo, o município contabilizava 36 mortes, mas só 26 apareciam nas estatísticas da Secretaria estadual de Saúde. Essa diferença só começou a ser compensada nos dias seguintes da última semana, perfazendo um total de 41 mortos.
Já em Magé, segundo a prefeitura, há apenas um paciente internado em estado grave e quatro em leitos de isolamento. E o município afirma que as mortes divulgadas pelo estado na semana passada são casos antigos, que foram investigadas e confirmados como Covid-19.
Não obtivemos respostas das prefeituras de Saquarema e Volta Redonda.