São Paulo - O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva avaliou na
quarta-feira, 5, em reunião com deputados estaduais e dirigentes
petistas, em São Paulo, que, ao contrário do escândalo do mensalão, em
2005, quando o bom desempenho da economia ajudou o PT a superar a
tempestade e vencer a eleição do ano seguinte, os efeitos da Operação
Lava Jato não poderiam ser suplantados nem por uma repentina e milagrosa
melhora das finanças sob a gestão Dilma Rousseff.
Conforme o cenário projetado pelo ex-presidente, a diferença é que,
desta vez, existem indícios de enriquecimento pessoal dos envolvidos nos
desvios da Petrobras, ao contrário do que ocorreu no mensalão, cujo
objetivo, segundo Lula, era financiar o "projeto político" do PT.
Lula se reuniu na quarta-feira com os 14 deputados estaduais do PT de
São Paulo e os presidentes nacional e estadual do partido, Rui Falcão e
Emídio de Souza, na sede do Instituto Lula, no Ipiranga, zona sul de São
Paulo.
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Lula não citou nominalmente em momento algum o ex-ministro da Casa Civil
José Dirceu, preso na segunda-feira pela Lava Jato sob suspeita de
receber dinheiro desviado da Petrobras para pagar despesas pessoais como
viagens de avião e reformas de imóveis.
Os dois não se encontram pessoalmente desde antes da primeira prisão de
Dirceu, pela condenação no processo do mensalão, em novembro de 2013.
A fala de Lula, no entanto, foi interpretada como uma referência à
prisão do ex-ministro. Participantes notaram diferenças em relação ao
discurso de Lula antes da prisão do ex-ministro, quando o ex-presidente
dizia que, se Dilma e a economia saíssem da crise, levantariam o PT.
Agora, ao contrário de 2005, Lula avalia que a economia pode reerguer o governo, mas não é suficiente para salvar o PT. O enriquecimento pessoal de envolvidos na Lava Jato diferencia o partido das demais legendas e o PT precisa de uma nova "narrativa" para explicar os desvios.
Ainda segundo relatos, Lula chegou a dizer que confia nos companheiros
presos, fez a ressalva de que é preciso provar as suspeitas de
enriquecimento pessoal e reclamou várias vezes dos "vazamentos
seletivos" contra o PT.
Para o ex-presidente, diferentemente do mensalão, quando o até então
insuspeito PT foi jogado na vala comum dos partidos que praticam caixa 2
eleitoral, a Lava Jato diferencia a sigla das demais legendas, o que
dificulta a elaboração do discurso de defesa.
"Não entendo como pode o dinheiro da mesma empresa ser sujo para o PT e
limpo para outros partidos. É como se tivessem dois caixas. Um para o PT
e outro para o PSDB", disse Lula.
Segundo participantes, Lula ouviu atentamente avaliações e sugestões de
cada um dos convidados durante mais de uma hora e só então falou, por
aproximadamente 20 minutos. "Ele está claramente em processo de
consulta, procurando o discurso", afirmou um deputado.
Apesar do tom "duro e cru" adotado em sua avaliação, nas palavras de um
dos convidados, o ex-presidente também apontou sinais otimistas.
Economia
Para o ex-presidente, a recuperação da economia é uma "certeza absoluta"
e pode ocorrer antes do que foi previsto inicialmente pelo próprio
governo, a depender das condições internacionais.
A recuperação da economia seria suficiente para afastar as ameaças
imediatas contra Dilma - Lula também não usou a palavra impeachment - e
garantir o término do mandato.
O petista também fez uma análise positiva sobre o comportamento da
presidente Dilma Rousseff diante da crise. Segundo ele, a presidente
passou a dar mais atenção aos políticos, se abrindo ao diálogo e
rompendo o isolamento que marcou o primeiro mandato dela.
REVISTA EXAME