terça-feira, 2 de abril de 2024

Morre Ykenga Mattos, que denunciou o racismo em seus cartuns


Morreu na manhã da segunda-feira (02/4) aos 71 anos o professor, sociólogo e cartunista carioca Bonifácio Rodrigues de Mattos, mais conhecido como Ykenga Mattos. Vítima de um infarto fulminante, ele morreu em casa, na cidade fluminense de São Gonçalo, região metropolitana do Rio de Janeiro. Ykenga também tinha casa no bairro de Cordeirinho, em Maricá.

Ykenga começou sua carreira aos 18 anos ao iniciar profissionalmente a carreira no tabloide "O Pasquim". Anos depois, em 1978, abandonou a carreira de desenhista técnico para exercer a de cartunista, em jornais sindicais.

Depois, migrou para outras publicações, como O Dia, Jornal dos Sports, Última Hora, O Fluminense, O Povo, e finalmente o jornal Extra além de publicações do movimento negro, como o jornal Maioria Falante.

Seus trabalhos, sempre em tom muito cheio de humor e deboche, tratavam do racismo na sociedade brasileiro.

A sátira visava através dos quadrinhos combater o mito da democracia racial, referência do pensamento do sociólogo pernambucano.

Em 2015, Ykenga publicou o livro “Casa Grande & Sem Sala”, pela editora Nitpress, uma paródia bem-humorada ao livro de Gilberto Freyre, “Casa-Grande & Senzala”, com prefácio do colega e amigo Chico Caruso.

Ao jornal Extra, sobre o livro, ele declarou: “Tinha muitas charges sobre a questão do preconceito racial, mas é difícil conseguir espaço para publicá-las, nem sempre elas cabiam. Fui juntando algumas e resolvi fazer um livro”, contou o artista. “O livro é uma paródia do ‘Casa-Grande & Senzala’, a bíblia da sociologia, do Gilberto Freyre. Parti para o contraponto, botando o dedo na ferida.”

Três anos depois, voltou ao livro com a obra “Humor à la Carte” e em texto de Haroldo Costa, ilustrou o romance gráfico “A História do Samba Contada em Quadrinhos”. No ano de 2021, recebeu o prêmio Ângelo Agostini de mestre do quadrinho nacional.

Os trabalhos do cartunista são espalhados em países como o Japão, onde participou de exposições no Yomiury Shimbum, na França, na galeria Angulenie, no Canadá, no São Internacional de Caricatura.

Ilustrou também livros do parceiro Martinho da Vila, a quem incentivou para se candidatar para a Academia Brasileira de Letras e divulgou muitos trabalhos autorais.

Militante do movimento negro, o material de trabalho de Ykenga foi a denúncia do racismo na sociedade brasileira. O artista reencena nos seus traços a morte do líder quilombola Zumbi dos Palmares e liga, de forma crítica, os navios negreiros aos camburões da atualidade.

Ykenga foi diretor da Associação Brasileira de Imprensa e membro da Academia Brasileira da Cachaça.

O velório do carioca Bonifácio Rodrigues de Mattos será na quarta-feira dia 03 a partir das 07 horas e o sepultamento às 15h no Cemitério da Paz, no bairro de Pacheco, em São Gonçalo.

Que Deus o receba em sua infinita misericórdia Guerreiro! Siga em Paz Ykenga!