APÓS CÂNCER NO INTESTINO, EMPRESÁRIA PASSOU A PRODUZIR E VENDER CINTAS ADAPTADAS PARA BOLSAS DE COLOSTOMIA. ATÉ PARA NAMORAR!
O ano de 2011 estava quase terminando quando a empresária Leda da Mata, então com 67 anos, começou a ter sangramentos toda vez que ia ao banheiro. “Sentia pontadas e muita dor ao evacuar e vi que o vaso sanitário ficava cheio de sangue. Demorei um pouco para marcar uma consulta com o proctologista porque estava com medo do diagnóstico”, recorda.
Moradora de Cabo Frio, na Região dos Lagos, no estado do Rio, ela decidiu fazer a biópsia no Hospital Naval Marcílio Dias, na Zona Norte da capital, porque considerava que a instituição teria melhor estrutura para acolhê-la, caso precisasse de tratamento. O resultado sairia em aproximadamente 20 dias, mas, antes disso, outro acontecimento a pegou de surpresa. Leda enfartou e teve que ser levada às pressas ao Hospital Santa Isabel, próximo de sua casa.
Ainda se recuperando, conseguiu a transferência para a unidade hospitalar desejada desde o início. E, então, sofreu outro infarto. “Foram dois em um intervalo de 11 dias. Só depois que me recuperei soube que estava com câncer no intestino. Tive que fazer transfusão porque o sangramento não passava e fiquei com anemia”, lembra.
Ao todo, foram necessárias 39 sessões de químio e de radioterapia, de segunda a sexta. “Foi uma luta de cinco ou seis meses; confesso que não contava o tempo. Só me lembro que ri quando a médica me falou do câncer. Ela estranhou, porque o assunto era sério. Eu disse, então, que o meu Deus fazia da minha vida o que quisesse e que não teria medo de nada”, conta Leda, que passou o tempo todo internada no Marcílio Dias.
VISÕES DURANTE A INTERNAÇÃO
Tanta confiança fez a empresária vivenciar o tratamento de maneira mais leve. Certa vez, durante uma sessão de radioterapia, fechou os olhos e cantou: “A minha vida é do meu Mestre, meu coração é do meu Mestre”. “Foi assim que consegui passar por esse sofrimento, cantando louvores. Adquiri uma fé imensurável, que não tinha antes”, diz, emocionada.
No entanto, ela, que é diabética e sofre de hipertensão, também teve momentos sombrios. “Sorria, abraçava os médicos e recebia muito carinho de todos.
Mas cheguei a ter uma experiência estranha no hospital. Eu me vi dentro de um caixão, parecia que estava flutuando. Vi o cemitério da cidade onde moro. Só que, no final, anjos me resgatavam”, lembra.
O tratamento provocou queda de cabelos e unhas, além de escurecimento da pele de um modo geral. Terminadas as sessões de químio e de radioterapia, Leda passou por uma cirurgia para a retirada de 25 centímetros do intestino grosso e o reto. E se viu obrigada a usar uma bolsa de colostomia (em procedimentos cirúrgicos na parte terminal do intestino grosso, é necessária a construção de um novo trajeto no abdômen para a saída das fezes).
EMPREENDEDORISMO E SOLIDARIEDADE
Mas era um incômodo. Leda não dormia bem, pois o coletor saía do lugar e ela acordava. E quando ia à rua, sentia o peso do objeto, que ficava pendurado.
Foi quando começou a participar de reuniões de ostomizados para saber se as pessoas passavam pelas mesmas dificuldades que ela. Descobriu que sim e que muitos tinham vergonha de sair por causa da bolsa. De espírito empreendedor e solidário, decidiu elaborar uma cinta especial, que mantivesse o coletor mais justo ao corpo.
O movimento começou a tomar forma em 2012, quando Leda reativou uma empresa que estava inadimplente há quase 30 anos, conseguiu um empréstimo de R$ 24 mil e terceirizou os serviços de confecção. Surgia, assim, a LP da Mata.
“Usei a bolsa durante um ano e oito meses, mas sei que existem pessoas que podem ficar com ela a vida toda”. Era muito desconfortável andar com aquilo pendurado, não me aceitava. Comecei a pensar em um modelo de lycra e criei a cinta adaptada: parecia que estava recuperando a alegria de viver”, recorda a empresária.
A mesma alegria que pode proporcionar a mulheres portadoras de bolsa de colostomia, abandonadas por seus maridos após a operação. “Passei a frequentar congressos e vi muitas se queixando.
Pensando nisso, criei um modelo adaptado para quem quer namorar. É uma cinta horizontal, que disfarça mais a bolsa”, conta Leda. Em outros casos, ela fez doações. “Nas reuniões de ostomizados, escutei também que o peso da bolsa poderia causar hérnia e isso seria mais um problema para quem já estava tão fragilizado. Não tive dúvida. Fabriquei e comecei a doar algumas cintas. Sabia que Deus tinha me deixado viver porque tinha um propósito”, diz.
NOVOS MODELOS PATENTEADOS
As cintas da LP da Mata são vendidas pela internet, nas redes sociais e diretamente com Leda, pelo telefone. No momento, é o único produto à venda. Mas ela afirma que existem mais oito patenteados, todos voltados para ostomizados. Tratam-se de modelos adaptados de roupas esportivas, moda praia e até calça jeans. A empresária está à espera de parceiros para comercializá-los.
As cintas custam, em média, R$ 160. Elas são fornecidas para várias partes do Brasil e algumas seguirão para países como Estados Unidos e França, além de unidades hospitalares, lojas especializadas e instituições voltadas para ostomizados. “Não penso muito em dinheiro. A minha maior preocupação é pagar as pessoas que me ajudam. Se chegar alguém pobre perto de mim e pedir, eu faço uma doação”, diz.
Segundo Leda, muitos a veem como exemplo de superação. Ela, porém, se descreve como uma mulher simples, que tem poucos amigos e hoje vive em um hotel. “Não sou nada especial. Sou uma pessoa comum, que fala um palavrãozinho de vez em quando, uma bobagenzinha. Não tenho orgulho, nem vaidade. Só quero fazer o bem e, principalmente, ajudar quem está passando por um sofrimento que conheço”, descreve-se a empresária, que é viúva e mãe de três filhos.
D. LEDA CONTA SUA HISTÓRIA E É HOMENAGEADA NO RJ TV
Em março de 2020, em uma das edições do RJ TV 1 da InterTV (afiliada da Rede Globo), D. Leda foi entrevistada, contou sua história e recebeu homenagens no mês da mulher. Confira abaixo o vídeo na íntegra: