O que se viu em Belém, sob o calor das luzes e dos microfones, foi um espetáculo de vaidade disfarçado de emoção popular. Janja, a primeira-dama que parece ter assumido a função de voz paralela do governo, falou com fervor e desatino — e, no embalo das frases feitas, declarou haver “cinquenta milhões de pessoas na Amazônia”.
Cinquentas milhões!
Um número arrancado do nada, jogado ao público como se fosse verdade, sem o menor cuidado com a realidade, sem compromisso com o país. É o retrato de um governo que confunde entusiasmo com competência, retórica com verdade, propaganda com consciência nacional.
O discurso foi uma mistura de ufanismo e ataque, de emoção ensaiada e cálculo político. Não havia ali a espontaneidade que nasce da convicção — apenas a teatralidade de quem aprendeu que o aplauso é mais importante do que o conteúdo.
Janja repete chavões como quem busca legitimar um papel que nunca lhe foi atribuído. Sua fala, mais performática do que coerente, é um reflexo de um poder conjugal que se estende para além da intimidade. Não é difícil perceber que sua presença política não nasceu de mérito, mas de uma intimidade convertida em influência.
Enquanto o país se divide, ela encena um amor à pátria que soa forçado, tentando, com palavras infladas, encobrir a fragilidade de um governo que se sustenta em narrativas e não em resultados.
O ufanismo é perigoso quando nasce do vazio. Ele transforma o erro em virtude e o engano em bandeira. A Amazônia, usada como símbolo, torna-se cenário de discursos e não de políticas. E o povo — esse sim, real — continua à margem das decisões que deveriam ser tomadas em seu nome.
Em Belém, o que se viu não foi um gesto de grandeza, mas uma exibição de desconexão com a realidade. E é dessa mistura de ignorância e vaidade que se alimenta o desgoverno que hoje ocupa o poder...






