sábado, 26 de agosto de 2023

RENATO MACHADO NEGA "ORGIA NA PREFEITURA"


 A informação de que houve uma orgia na prefeitura de Maricá, fato investigado e incluído num relatório sigiloso da Delegacia de Homicídios de Niterói, São Gonçalo e Itaboraí (DHNSG), que apura cinco assassinatos brutais naquela cidade, foi negado pelo deputado estadual Renato Machado (PT). No entanto, segundo uma pessoa ligada ao parlamentar, que pediu para não se identificar, Renato, pastor evangélico, não nega que se relacionou com Vanessa da Matta Andrade, a "Vanessa Alicate", acusada pela polícia de ser a mandante do assassinato do ex-companheiro Thiago André Marins e do pai dele, o vereador Ismael Breve de Marins.

Conforme o Extra informou na sexta-feira (25) em seu site, num relatório da DHNSG, obtido com exclusividade, consta que, como resultado da suposta orgia, ocorrida em 2018, Vanessa teria engravidado do Pastor Renato. O fato, segundo o documento redigido pelos investigadores, foi "veiculado pelas mídias locais" na época e, após a esbórnia na sede da prefeitura, Vanessa "teria se aliado a Robson Giorno, dono do Jornal O Maricá, a fim de obter vantagens financeiras e cargos dentro daquele governo municipal, situação que, posteriormente, levou à morte de Giorno".

A DHNSG e o Grupo de Atuação Especializada no Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do Ministério Público do Rio (MPRJ) cumpriram, na quinta-feira (24), os mandados de prisão contra três pessoas envolvidas nos homicídios de Maricá, ocorridos em 2019. Além de Vanessa, foram presos: Rodrigo José da Silva Barbosa, o "Rodrigo Negão", suspeito de cinco homicídios, e o subtenente reformado da Polícia Militar Davi de Souza Esteves. Só este último se encontra foragido.


"FOFOCA MALDOSA", DIZ PESSOA LIGADA A DEPUTADO

Segundo ainda a pessoa ligada ao deputado Renato, a orgia não passa de uma "fofoca maldosa", pois, logo após os "encontros íntimos passageiros", o político disse que, se Vanessa estivesse grávida dele, assumiria a criança e a trataria da mesma forma que os demais filhos — atualmente o parlamentar tem três filhos.

— Ele disse que assumiria e daria carinho para a criança. Falou, inclusive, que seguraria os problemas com a esposa dele, o que acabou resultando num estremecimento na relação pessoal dele e posterior separação. Mas, como ficou claro, foi uma farsa, invenção dela ("Vanessa Alicate") — comentou a pessoa vinculada a Renato.

Em nota, a assessoria do parlamentar informou que: "O deputado Renato Machado está indignado em ver seu nome citado em uma trama tão macabra, que dá margem a ilações maldosas e inverídicas sobre ele. Renato já prestou depoimento à polícia e está totalmente à disposição do Ministério Público. Ele tem o mais absoluto interesse na elucidação dos fatos".

O deputado estadual Renato Machado, de acordo com suas redes sociais e amigos, se considera um homem de sucesso. De servente de pedreiro da orla de Bambuí, em Maricá, passou a pedreiro, empreiteiro, chefe de gabinete, secretário de governo da cidade, além de secretário municipal de Obras e, atualmente, deputado estadual. Ligado ao prefeito reeleito de Maricá, Fabiano Horta (PT), desde à época em que foi seu chefe de gabinete na Câmara dos vereadores, passou a ser, segundo amigos de ambos, uma sombra do prefeito. Logo após a suspeita da orgia, Renato passou a ser diretor da autarquia Somar, responsável pelas obras realizadas pela Prefeitura de Maricá.

NOTA DA PREFEITURA    

A Prefeitura de Maricá também mandou nota em que declara: "A Prefeitura de Maricá sempre esteve e estará à disposição das autoridades policiais para colaborar com as investigações, pois tem total interesse na elucidação de todos os crimes, ainda mais crimes bárbaros. É fundamental que seja feita justiça. A Prefeitura ressalta que zela pelo respeito às instalações públicas". No entanto, a assessoria não dá detalhes se houve o uso indevido do local, alegando que as investigações estão em andamento pela DHNSG.

DETALHES DO RELATÓRIO DA DHNSG

No relatório da Delegacia de Homicídios de Niterói, São Gonçalo e Itaboraí (DHNSG) consta que, como resultado da suposta orgia, ocorrida naquele mesmo ano, Vanessa teria engravidado do Pastor Renato — identificado como Renato Machado, que ocupa uma cadeira na Assembleia Legislativa do Rio como deputado estadual pelo PT. O fato, segundo o documento redigido pelos investigadores, foi "veiculado pelas mídias locais" na época. Após a orgia, conforme o relatório, Vanessa "teria se aliado a Robson Giorno a fim de obter vantagens financeiras e cargos dentro daquele governo municipal, situação que, posteriormente, levou à morte de Giorno".

As investigações da DHNSG e do Grupo de Atuação Especializada no Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do MPRJ também apontam para a existência de uma organização criminosa com a atuação de matadores de aluguel. Diz o relatório sigiloso da especializada, ao qual o GLOBO teve acesso: "É de extrema relevância e oportuno o destaque da informação sobre a existência de investigações, nesta especializada, que versam sobre a possível existência de uma Organização Criminosa (Orcrim) que atua predominantemente no Município de Maricá, composta por um núcleo político e armado, tendo como objetivo direto o fortalecimento financeiro e/ou político mediante a prática de vários crimes, dentre eles homicídios" (sic).

Quem são os suspeitos das mortes em Maricá?

Ao se aprofundar em cada homicídio, os investigadores identificaram como integrantes do bando armado, ou seja, executores dos crimes: Rodrigo José da Silva Barbosa, o "Rodrigo Negão" que comandaria uma milícia na região; e o subtenente reformado da Polícia Militar Davi de Souza Esteves. A periculosidade de Rodrigo é ressaltada num trecho do relatório policial: "Com relação à contemporaneidade do poder ostentado por Rodrigo “Negão” e sua Orcrim, não resta muito tempo que ele teve a coragem de ameaçar um Deputado Federal eleito e com muito poder na região. Se Rodrigo “Negão” é capaz de fazer isso com uma pessoa de tamanha importância no município de Maricá, imagina para o cidadão comum que atenta contra qualquer de seus interesses".

Quem teria ordenado as mortes em Maricá?

Nas mortes de Thiago e do pai dele, o vereador Ismael, a polícia e o MP já têm evidências de que o crime foi por ordem de "Vanessa Alicate", motivada pela raiva do ex-companheiro que reduziu sua pensão. O casal teve uma filha. O vereador teria sido executado por "queima de arquivo", ao ouvir o barulho de tiros na casa. Por se amiga de infância de Rodrigo, ela teria pedido, segundo a polícia, para que matasse Thiago. Rodrigo e o subtenente Davi foram direto ao quarto de Thiago e nenhuma porta foi arrombada. A investigação revela ainda que os criminosos já tinham pesquisado o local. A dupla também quebrou câmeras de segurança da prefeitura para que os equipamentos não registrassem o veículo que usaram no trajeto do local do crime.

Matadores de aluguel seguem um ritual para cometer assassinatos

Para a polícia e o MPRJ, há uma constância no modo de agir dos suspeitos. Além de monitorarem suas vítimas antes da execução, eles atiram na cabeça e, em três casos, eles usaram a mesma arma: uma pistola Glock. O relatório da DHNSG informa que: "as semelhanças dos calibres das armas utilizadas, os quais seriam uma possível pistola da marca Glock, calibre 9 mm e um revólver .38", demonstram essa forma de ação.

Qual teria sido a motivação para morte de jornalista?

No caso do jornalista investigativo Romário Barros, de 31 anos, morto em junho de 2019, a organização criminosa estaria incomodada com as reportagens dele que denunciavam escândalos envolvendo políticos. O repórter também sofreu uma emboscada quando voltava de carro para casa, como fazia sempre, após dar uma caminhada. As câmeras do local flagraram a ação dos criminosos. Tais imagens serviram de base para compará-las com as fotos de Rodrigo, em redes sociais. Uma análise biométrica corporal do suspeito serviu de prova para o Gaeco apostar na sua participação no crime. O joelho de Rodrigo é valgo, o que os ortopedistas definem como um desalinhamento nas pernas.

A outra vítima seria Sidnei da Silva. De acordo com as investigações, ele foi morto por vingança — após uma discussão em via pública, poucos dias antes do crime, entre a vítima e a sua ex-cunhada, esposa do acusado Rodrigo.

As defesas de Rodrigo, Vanessa e Davi não foram localizadas.

matéria de Vera Araújo para O Globo, G1 e Extra