quinta-feira, 11 de agosto de 2022

Violência contra mulher foi tema de conturbada audiência pública

 Debate contou com representantes de diversos movimentos sociais de Maricá, representantes do legislativo estadual e municipal e das Secretarias de Participação Popular, Direitos Humanos e Mulher e de Ordem Pública


Após a morte da jovem Ysabelly - 18 (https://obaraoj.blogspot.com/2022/07/tragedia-corpo-de-jovem-moradora-de.html), moradora de Inoã, cansadas de tanta violência, mulheres maricaenses começaram a se movimentar em suas defesas, cobrando dos três poderes ações práticas no município. A primeira delas a levantar a bandeira de movimentos em locais públicos, foi Luana Silva (com dois encontros - dias 28 e 30 de julho na praça Orlando de Barros Pimentel), seguida pela advogada Ingrid Menendes do MJM (Movimento das Mulheres Juntas por Maricá), na manhã do domingo 31/7 em frente a delegacia. Ainda no dia 28, Ingrid esteve em um ato político na casa da vereadora Andréa Cunha (PT), onde cobrou da mesma e da Deputada Zeidan (também presente), ações práticas em benefício e SOCORRO às mulheres maricaenses.

Surtiu efeito, tanto que no dia 02 de agosto, a vereadora marcou uma audiência pública para tratar do assunto no dia 09/08 no Banco Mumbuca, adiado posteriormente para 10/08 no Cine Henfil.

AUDIÊNCIA CONTURBADA

Participaram da audiência da violência contra as mulheres, representantes das Secretarias de Participação Popular, Direitos Humanos e Mulher (Luciana Pireda) e de Ordem Pública e Gestão de Gabinete Institucional (Cel. Julio Veras e João Damasceno, além do comandante da GM Jean Medeiros), os vereadores Andréa Cunha (autora da audiência) e Danilo Santos (presidente da comissão de direitos da mulher), Igor Correa e Hadesh, a deputada estadual Rejane Enfermeira e a representante da deputada estadual Rosângela Zeidan - Adriana Mota.

Da imprensa maricaense, representantes apenas do Jornal Barão de Inohan, CULTURARTE, Gazeta, MaricáTotal e da imprensa oficial.

Promovida pela Câmara Municipal de Maricá com tema “A Segurança da Mulher em Maricá e o Feminicídio”, o debate (que por pouco não virou um embate), contou também com a presença de diversos movimentos sociais do município e populares, que lotaram o cine teatro Henfil, no centro de Maricá.

Foram abordados temas como a aplicação da lei Maria da Penha, casos de feminicídio, tipos de violência e a pouca celeridade da justiça na atuação nos casos de violência.

MARICÁ É CAMPEÃ EM NEGAR MEDIDAS PROTETIVAS

Coordenadora de Políticas para Mulheres, Luciana Piredda ressaltou a luta no enfrentamento da violência contra a mulher na cidade.

“Nossa luta é grande e os desafios são diários. Na cidade temos a Casa da Mulher que atende mulheres vítimas de violência. Nosso objetivo é ser um instrumento de luta por uma vida livre de violência e que todas as mulheres tenham atendimento digno”, destacou e informou que Maricá é campeã no estado em negar medidas protetivas.

O secretário de Ordem Pública e Gestão de Gabinete Institucional, Cel. Júlio Veras, ressaltou a importância da atuação do Grupamento Maria da Penha da Guarda Municipal, que estava presente na audiência.

“O Grupamento Maria da Penha vem atuando na cidade e na última semana foi registrado o crime de stalker, perseguição pela Internet, na 82ª Delegacia (Maricá). Devido à especialização dos agentes da Guarda Municipal foi possível o registro desse tipo de crime e o agressor foi preso”, contou lembrando que Disque SEOP (96809-1516) também está disponível para denúncias de crimes contra as mulheres.

MOVIMENTOS E PARENTES DE VITIMAS GRITAM POR SOCORRO

Após a palavra dos participantes, foi dada voz aos representantes dos Movimentos Sociais. Luana Silva, criadora do primeiro movimento abriu os discursos dizendo (o que o jornalista Pery Salgado do jornal Barão de Inohan que apoiou estes movimentos) que movimentos como o ABRAÇO COLETIVO devem acontecer todos os dias em cada esquina de Maricá até que as mulheres voltem a ter paz.

Vanusa, mãe da jovem Ketlen (na época de sua morte com 20 anos), reclamou do descaso da justiça, dizendo que o assassino da sua filha só foi preso por que ela (com ajuda da polícia militar) fizeram um trabalho de investigação em conjunto e que não teve nenhum apoio da polícia civil e que o assassino foi preso em julho de 2021 e solto em maio deste ano por falta de audiências, inclusive invertendo a medida protetiva em seu favor.

Douglas, marido da jovem Rafaele (moradora do Espraiado https://obaraoj.blogspot.com/2022/06/tragedia-moradora-do-espraiado-e.html), também falou da total falta de apoio da 82 DP e da polícia civil, ressaltando que algo só foi feito após intervenção da advogada Ingrid Menendes que foi com ele no dia 1º de agosto na delegacia de Saquarema para dar andamento ao caso.

Após a fala de Raiane Medeiros e da jovem mulher trans Maria Alice (do Divercimais), quem fez uso da palavra foi a advogada Ingrid Menendes, pedindo ajuda de todos, inclusive de mais colegas advogadas, pois em vários momentos se vê sozinha nessa luta, a afirmou que o judiciário de Maricá, além de não deferir grande parte das medidas protetivas, as mulheres não recebem o devido tratamento dentro da 82 DP.

Inclusive, reclamou a ausência de qualquer membro do judiciário municipal e da 82 DP na audiência pública, e também confirmou que por várias vezes, não encontra o delegado titular na delegacia.

Ao dizer e também afirmar que apesar dos atendimentos feitos pela casa da Mulher, estas não recebem o devido acolhimento após os casos de violência doméstica, física (e/ou sexual) em diversos locais. 

Aplaudida por grande parte do público presente, sua fala não foi aprovada pela "claque oficial" (infelizmente sempre presente em audiências públicas), o que começou a gerar atritos na assembleia, fazendo com que uma outra advogada me manifestasse a favor da Casa da Mulher, o que gerou mais tumulto e revolta por grande das mulheres presentes.

Ratificando o pedido de Ingrid Menendes e acolhendo e abraçando a outra advogada que acabara de falar, a professora Márcia (ativista muito atuante), pediu que todas se unissem e que mais advogadas viessem abraçar a causa.

"O CHORO DE UMA MÃE É O CHORO DE TODAS"

Muito emocionada, D. Lucimara, mãe de Ysabelli, declarou que também não recebeu nenhuma atenção e acolhimento dos policiais da 82 DP e só teve apoio da advogada Ingrid Menendes, mas após o triste desenlace. Chorando, pedindo socorro encerrou sua fala emocionante dizendo que o "choro de uma mãe é o choro de todas".

MOMENTOS DE LUCIDEZ

De todas as representantes dos movimentos femininos e sociais que estiveram presentes, Sol (foto abaixo) das "Mulheres Super Poderosas de Inoã", parabenizou a vereadora pela iniciativa, mas disse que os aplausos só virão após medidas concretas em prol das mulheres, mas a grande fala, o grande momento de lucidez onde foi ouvida atentamente por todos os presentes e muito aplaudida no final, foi da ativista Eva representante da Associação de Mulheres Filhas de Eva. 

Em sua fala (confira o vídeo na integra abaixo) ela disse que no panfleto distribuído na audiência, a Casa da Mulher tem endereço e tem horário de atendimento, onde diz que o serviço atende de segunda a sexta e que no sábado e domingo ninguém atende, que atende durante a semana das 8 às 17h e que depois desse horário "todo mundo vai dormir" e que ninguém atende e questionou: "a casa da mulher funciona?" e de imediato, ela mesmo respondeu "a casa da mulher funciona sim, mas funciona para 10 mulheres, pois não tem funcionários para todas as mulheres".

Sempre muito aplaudida durante sua fala, Eva continuou: "...vocês precisam de uma secretaria, as filhas de Eva (movimento ao qual preside), atende mulheres invisíveis, que o sistema não conhece. Aqui a gente não tem, os direitos públicos, a gente não tem cesta básica, a gente não tem médicos, não tem nem papel para atender a gente... então está faltando direitos públicos para atender as mulheres" e continuou "na casa da mulher vocês dão consultas - vocês dizem 'olha vocês tem fazer isso'..."

E concluiu: "eu não estou pedindo nada, só que vocês façam funcionar o que já existe" sendo a fala mais correta, lucida e aplaudida da audiência.

E na manhã da quinta feira, ao enviar o vídeo de sua fala ao jornalista Pery (editor do Barão de Inohan), escreveu: "ISSO É O QUE TODAS NÓS PRECISAMOS, DE APOIO!"

Que sua fala (calma, serena e CONTUNDENTE), ecoe nos corredores do executivo, legislativo e judiciário de Maricá e que esta audiência pública, traga efeitos reais o mais breve possível.

N.R.: O Jornal Barão de Inohan lamenta a ausência de qualquer representante do CCS Maricá (Conselho Comunitário de Segurança), que é presidido por uma mulher (advogada) e da mesma forma de representantes da FAMMAR (Federação das Associações de Moradores de Maricá), também presidida por uma mulher.