Corte foi de 0,6 ponto percentual em relação a abril; perspectiva para os EUA foi reduzida em 1,1 percentual
WASHINGTON - O Fundo Monetário Internacional (FMI) acompanhou os principais agentes de mercado e a própria equipe econômica brasileira e reduziu, pela quinta vez consecutiva, a projeção de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil em 2014. De acordo com as novas previsões do relatório trimestral “Perspectivas para a Economia Mundial”, divulgadas esta manhã na Cidade do México, a economia brasileira terá expansão de apenas 1,3% este ano, 0,6 ponto percentual abaixo do número de abril. A redução foi da mesma magnitude na estimativa para 2015, que passou a 2%. Como O GLOBO revelou esta semana, a avaliação reservada do governo é a de que o Brasil está neste momento em recessão, que vai durar até o fim do terceiro trimestre.
O corte na projeção para o Brasil está entre os maiores do relatório do Fundo, que destaca as principais economias do planeta. O país é acompanhado por México (2,4% de crescimento em 2014, contra 3% anteriormente) e África do Sul (1,7%, contra 2,3% na versão de abril). Em pior situação aparecem apenas os EUA — que sofreram com o inverno rigoroso do primeiro trimestre, registrando retração significativa no período — e a Rússia — afetada por conflitos geopolíticos. Nos dois casos, a previsão foi derrubada em 1,1 ponto percentual.
Não são apenas os números que confirmam o momento desalentador da economia brasileira, mas também a dinâmica da desaceleração, segundo o economista-chefe do Fundo, Olivier Blanchard, lembrando que países como o México estão sendo particularmente afetados pela expansão mais lenta de economias como a dos Estados Unidos:
— No caso do Brasil, a questão está mais relacionada à demanda interna. O investimento e o consumo estão fracos. E nós achamos que esta fragilidade marcará não appenas este ano, mas se estenderá ao próximo.
TURBULÊNCIA GLOBAL É AMEAÇA
No relatório, o FMI afirma que a confiança de investidores e das famílias nos rumos do Brasil está abalada, o que justifica o pé no freio de seus desembolsos. A equipe de Blanchard alerta ainda que o Brasil está sentindo os efeitos do aperto nas condições financeiras globais, que significou menos capitais disponíveis e custo mais elevado de financiamento.
Esta situação não está sanada, diz o FMI. Uma vez definido para outubro o fim do programa de estímulos americano, os mercados agora se dedicam à especulação sobre o momento em que o Federal Reserve (Fed, banco central dos EUA) voltará a subir a taxa básica de juros local, atraindo os capitais que nos últimos anos inundaram economias emergentes como a brasileira.
Neste cenário, emergentes com a casa desarrumada — o Brasil tem condições fiscais deterioradas e luta para derrubar uma alta inflação — deverão sofrer mais. Podem ser alvo do mau humor acentuado do mercado e ter menos espaço para implementar as políticas públicas necessárias. Em casos de pouca margem de manobra, recomenda o FMI às nações emergentes, é hora do dever de casa.
— O primeiro (desafio) é implementar reformas para reequilibrar as economias e fortalecer o crescimento. Alguns países, notadamente o México, já estão embarcando em reformas ambiciosas, que deverão ajudar a impulsar investimentos e expansão. O segundo é se adaptar à mudança do ambiente econômico mundial (...) Investidores estrangeiros estão menos condescendentes e as fragilidades macroeconômicas terão custo maior. Turbulências financeiras como as de maio de 2013 poderão ocorrer novamente — adverte Blanchard.
CRESCIMENTO MUNDIAL REVISADO PARA BAIXO
A desaceleração do Brasil, porém, não é um caso isolado. O desempenho da economia global entre janeiro e março e os resultados do início do segundo trimestre revelaram um ritmo mais fraco do que o esperado tanto nas nações emergentes quanto nas ricas. Por isso, o FMI revisou de 3,7% para 3,4% a estimativa de crescimento mundial em 2014, com recuperação a 4% em 2015.
A previsão para o conjunto dos países ricos caiu 0,4 ponto este ano, para 1,8%, movimento influenciado especialmente pelos EUA, que amargou uma queda estrondosa de 2,9% no seu PIB entre janeiro e março. A economia americana deverá expandir-se 1,7%, contra 2,8% estimados anteriormente.
— Mas esta é uma história passada. Daqui em diante, o cenário é de recuperação, não mexemos na previsão (dos EUA) de 2015, por exemplo — explicou Blanchard.
Na zona do euro, foi mantido o número de 1,1%, apesar de Itália e França estarem operando abaixo do esperado. O Japão caminhou na direção contrária e teve forte resultado entre janeiro e março, e por isso a projeção do FMI foi elevada em 0,3 ponto, para 1,6% em 2014.
— O fortalecimento dos países ricos ainda não está completo, e não se vê uma recuperação muito forte adiante. Por isso é preciso que as políticas monetárias (expansionistas, com estímulos e juros baixos) continuem ajudando na retomada e seja ajustada de forma muito gradual adiante. Esperamos que EUA e Reino Unido recuperem-se antes, enquanto na zona do euro e no Japão o processo será mais longo — afirmou Gian Maria Milesi-Ferretti, vice-diretor do Departamento de Pesquisas do FMI.
EMERGENTES E EM DESENVOLVIMENTO DEVEM CRESCER 4,6%
Apesar de uma redução menor na expectativa de crescimento conjunto (0,2 ponto, para 4,6% este ano) das nações emergentes e em desenvolvimento, o grupo registrou uma cascata de revisões negativas no relatório trimestral do Fundo. A Rússia deverá crescer apenas 0,2% em 2014, após as tensões geopolíticas afetarem a confiança e congelarem investimentos.
Para a China, o recuo foi modesto, de 0,2 ponto, para uma alta de 7,4% do PIB este ano. A avaliação do FMI é a de que Pequim está conseguindo calibrar a rearrumação doméstica, migrando de forte investimento para consumo. Na Índia, a expectativa é que a moderação dos investimentos no período eleitoral seja revertida, assim como perdas na agricultura durante o regime de chuvas. A economia indiana teve a projeção de crescimento mantida em 5,4% em 2014.