Diante da reta final do processo de impeachment de Dilma Rousseff, o clima interno no PT parece instável. Sobram acusações dentro do próprio partido a respeito de quem seria a culpa pela queda do poder. Agora, o principal medo dos integrantes do partido político é de que, confirmado o impeachment, Dilma publique sua biografia e revele a avalanche de problemas do PT às vésperas das eleições municipais.
O receio dos companheiros de Dilma tem fundamento. A presidente afastada declarou que o PT precisa assumir seus erros, do ponto de vista ético, e passar por uma “grande transformação”. Rousseff já havia dito anteriormente que não autorizara caixa 2 em sua campanha e que qualquer responsabilidade pelo pagamento de dívidas deveria ser debitada na conta do PT. Com a visível crise interna, especula-se que Dilma Roussef pode deixar o partido futuramente.
Mesmo abatida após se tornar ré no processo do impeachment, Dilma afirmou que pretende ir ao Congresso para se defender no julgamento que acontecerá no final do mês. Reforçou também que apoiará a proposta de plebicito para antecipar as eleições presidenciais, na Carta aos Senadores, a ser divulgada até terça-feira.
Traições
Quem convive com a petista, no entanto, afirma que a ficha dela só “caiu completamente” depois que o Senado decidiu julgá-la. Mais uma vez, ela se decepcionou com traições de antigos aliados e se mostrou inconformada com o senador Cristovam Buarque (PPS-DF). Ele esteve quatro vezes com Dilma, fez sugestões para a carta, mas votou a favor da sua deposição.
Em conversas reservadas, ex-ministros do PT argumentam que o próprio partido a abandonou. “Beijaram a mão dela e depois a deixaram na torre”, resume um deles, numa alusão à Torre das Donzelas, no Presídio Tiradentes (SP), onde Dilma ficou encarcerada três anos, na ditadura militar.
“O PT dá apoio incondicional à presidente Dilma e continuará na luta contra o golpe”, diz o presidente do PT, Rui Falcão, que classificou de “inviável” a proposta de plebiscito, principal bandeira defendida por ela para pacificar o País.
Apesar das negativas oficiais, dirigentes petistas avaliam, a portas fechadas, que manter Dilma nessas condições seria “sangrar” até a eleição de 2018, um cenário que favoreceria o PSDB, . Além disso, observam que a carta a ser lançada por ela, planejada para conter as diretrizes de um “programa da volta”, perdeu o sentido político.
Em reunião com deputados e senadores do PT, na quarta-feira, Lula disse que o partido precisa se preparar para ser oposição, após quase 14 anos à frente do Planalto.
O acerto de contas será feito em dezembro, quando haverá um encontro extraordinário do partido. “Tanto a presidente como nós reconhecemos os erros, mas precisamos propor saídas e fazer a reforma política”, diz o senador Jorge Viana (PT-AC).