Um novo app na praça, chamado Plinq, criado pela empreendedora Sabrine Matos, propõe fazer uma análise de segurança sobre homens, a fim de ajudar mulheres a tomarem "decisões seguras e confiantes antes de qualquer date".
Uma brasileira lançou a Plinq, plataforma que reúne informações públicas para que mulheres verifiquem se pretendentes possuem antecedentes criminais, processos na Justiça ou mandados de prisão.
A ferramenta, criada pela empresária Sabrine Matos, foi desenvolvida para ampliar a segurança das usuárias e dar mais autonomia antes do início de um relacionamento.
É possível acessar a plataforma pelo site: www.plinq.com.br.
Quem é SABRINE MATOS?
Aos 28 anos, ela criou um site para alertar mulheres quando o 'boy' é cilada
Sem saber uma linha de código, Sabrine Matos criou o Plinq, uma plataforma que, em dois meses, já projeta R$ 2,2 milhões em receita
A curitibana Sabrine Matos não sabia programar. Tampouco tinha um plano de negócios em mãos. Mas depois de ver o caso de feminicídio de uma jornalista, morta por um homem com histórico de violência que ela desconhecia, decidiu agir.
A ideia virou realidade com o Plinq, um site que permite checar antecedentes criminais usando apenas nome, CPF ou telefone. Em menos de dois meses após o lançamento, a ferramenta ultrapassou 10 mil usuárias e viralizou em redes sociais.
Sabrine comanda o projeto com o sócio Felipe Bahia — nenhum dos dois com formação técnica em tecnologia. Para tirar o projeto do papel, eles usaram a plataforma no-code da Lovable. “Queríamos algo funcional e rápido, não perfeito", disse a criadora.
O site americano é uma das empresas de IA que mais cresceu nos últimos anos, e já vale US$ 1,8 bilhão com pouco menos de um ano de operação. A ferramenta permite que qualquer pessoa — mesmo sem formação técnica — crie protótipos de produtos com nível de refinamento que, em muitos casos, supera o que seria entregue após semanas por um time tradicional de design.
Como tudo começou?
O espírito empreendedor acompanha Matos desde os 15 anos, quando fundou a Made For Fun, marca de camisetas com estampas de artistas como Demi Lovato e Justin Bieber.
“Comecei com um kit de sublimação que minha mãe me deu. Ia vender em shows, inclusive em São Paulo, sozinha”, lembra. Na época, chegou a faturar R$ 50 mil em uma semana de turnê — tudo no orgânico, com parcerias com fãs-clubes.
Aos 18, a marca deu lugar a projetos na área de marketing e consultoria. Matos passou por diversas startups, atuou como profissional de growth e chegou a fundar uma agência especializada em outbound sales, com 20 funcionários. "Foi um aprendizado importante sobre errar rápido, iterar e entender que o sucesso raramente é linear", diz.
Após encerrar essa operação em 2024, assumiu um trabalho mais estável e viu o tempo livre virar combustível para outra ideia. “Estava acompanhando muitas notícias de feminicídio e minha mãe um dia soltou: ‘você tem que fazer alguma coisa com isso, cria uma plataforma’. E eu fui.”
Um botão que pode salvar vidas
O Plinq nasceu da indignação com o caso de Vanessa Riccardi, jornalista do Mato Grosso do Sul morta pelo ex-namorado. Ela havia feito tudo “certo”: denunciou o agressor, pediu ajuda da polícia, alertou amigos. Mesmo assim, foi assassinada com facadas ao tentar retornar para casa.
“A Vanessa era como eu, como você. E morreu porque não sabia com quem estava lidando. Descobrimos depois que ele tinha histórico de agressão contra mulheres da própria família. E ela morreu por falta de informação”, afirma Matos.
O Plinq não usa dados privados. A base vem de informações públicas, extraídas de tribunais e bases oficiais.
"Achamos que isso poderia ser um desafio, mas o que descobrimos é que as mulheres sempre dão um jeito de conseguir essas informações", diz Matos.
Em poucos segundos, a plataforma informa a presença de processos criminais, mandados de prisão ou outras ocorrências, com um sistema de 'alertas' (verde, amarelo e vermelho) para facilitar a visualização.
"Se aparece que ele tem uma red flag (bandeira vermelha), aí ela já pode ficar em alerta. Nós mostramos também quais são as ocorrências registradas", diz.
Cada busca equivale a um crédito — hoje, o plano mais comum custa R$ 97 por mês, com acesso ilimitado. “A ideia não é ganhar por volume, mas permitir que as usuárias usem sempre que precisarem”, diz.
Afinal, é legal ou ilegal?
O Plinq opera com dados públicos, disponíveis em tribunais de justiça e registros oficiais. O que a plataforma faz é organizar essas informações de forma acessível (como, por exemplo, é o caso do Jusbrasil), sem violar sigilos ou invadir sistemas fechados. Por isso, o serviço é legal.
Ainda assim, o tema gera debates jurídicos: existe o risco de ações por parte de pessoas expostas na ferramenta — mesmo que os dados já estejam disponíveis em outras fontes.
A startup conta com apoio jurídico e monitora de perto mudanças na legislação, especialmente em relação à LGPD, a Lei Geral de Proteção de Dados. “Trabalhamos com o que já é público. Só damos poder à usuária de acessar isso de forma simples”, resume a fundadora.
Casos reais e o futuro do Plinq
Matos estima mais de 100 casos em que a plataforma ajudou a evitar situações perigosas. Em um deles, uma amiga prestes a sair com um homem da academia decidiu fazer a verificação. “Ele tinha oito ocorrências, incluindo racismo, tráfico e violência doméstica. Isso muda tudo”, diz.
Em outro caso, uma cliente descobriu que o parceiro com quem se relacionava havia cometido homicídio. “Ela ficou tão abalada que cancelou a assinatura e disse que nunca mais ia namorar”, conta.
O próximo passo é o aplicativo móvel, que vai incluir novos recursos. Entre eles:
- Verificação social: onde mulheres podem comentar se já saíram com determinada pessoa e qual foi sua experiência;
- Botão de emergência: envia a localização para contatos de confiança em tempo real;
- Check-in de segurança: se a pessoa não confirmar que está tudo bem no tempo combinado, o app alerta os contatos de emergência.
Rodada de investimento só com mulheres
Matos também prepara uma rodada pré-seed, primeira captação oficial da empresa. O detalhe? A startup quer fechar a rodada apenas com mulheres investidoras. “Queremos criar um negócio feito por e para mulheres. E isso começa desde quem aposta na gente”, diz.
Ela já tem conversas avançadas com executivas com histórico no setor de tecnologia e acredita que a rodada, estimada em R$ 1 milhão, deve ser fechada em até 40 dias — um ritmo mais acelerado que o padrão do mercado, onde esse tipo de captação costuma levar até seis meses.
O plano de negócios inclui uma receita projetada de R$ 2,2 milhões no primeiro ano, impulsionada por assinaturas individuais e também, eventualmente, por vendas para empresas. "Tem psicólogo, corretor de imóveis, locador de kitnets... todo mundo quer mais segurança".
Mesmo diante de riscos jurídicos — lidar com informações sensíveis não é tarefa simples —, Matos segue confiante. “Claro que pode ter processo, mas o direito à vida vem antes do direito à privacidade. Se a gente salvar uma mulher, já valeu.”












