quinta-feira, 18 de janeiro de 2024

EDITORIAL: FALTA DE CONHECIMENTO NOS LEVA A FALAR BESTEIRAS; Abayomis Nunca foram Vodus!

EDITORIAL



Uma publicação feita por uma figura pública de Maricá por total falta de conhecimento daquilo que quis mostrar, levantou a ira de várias pessoas (com razão) e questionamentos, que nos dias de hoje, ONDE TODOS SÃO LEÕES nas redes sociais e uns CORDEIRINHOS no dia a dia, poderia e PODE levar a resultados indevidos, onde já vimos em outras situações, de agressões físicas e até a MORTE.

'Ah, não vamos generalizar', poderia dizer um internauta, mas a questão não é generalizar, e sim, ANTES DE PUBLICARMOS ALGUMA COISA QUE ATINJA A SOCIEDADE (ou parte significativa dela), que tenhamos não só o devido cuidado, mas PLENO CONHECIMENTO DAQUILO que queremos mostrar, denunciar, apontar, criticar, ressaltar ou até mesmo PARABENIZAR!

E começo falando do FATO que na verdade deu origem à tudo isso, quando o padre mandatário da igreja Matriz de Nossa Senhora do Amparo (Max o seu nome, que graças ao bom Deus está sendo transferido para Iguaba Grande), PROIBIU a tradicional lavagem das escadarias da igreja matriz, em janeiro de 2023.

Como sabem, sou jornalista, resido em Maricá há 43 anos (tenho 47 anos de jornalismo e 40 de engenharia mecânica) e FUI O ÚNICO a fazer matéria CONDENANDO O LAMENTÁVEL ATO DO PADRE, mas, se lerem a matéria que fiz na época (este é o link: https://obaraoj.blogspot.com/2023/01/padre-max-proibe-tradicional-lavagem.html), enquanto muitos condenavam o ato como PRECONCEITO RELIGIOSO, eu deixei claro na matéria (e todas as outras que vieram a seguir, que o padre DESCUMPRIU UMA LEI MUNICIPAL promulgada em 2014 pelo ex-prefeito Washington Siqueira (o  Quaquá), de um evento que neste ano completou 25 anos.

Sim, ele, líder religioso, que como qualquer outro líder de qualquer segmento deveria dar e COBRAR bons exemplos, cuspiu na cara do prefeito, dos vereadores, da sociedade e sim, de todos os seguidores e simpatizantes das religiões de matrizes africanas. E para piorar, PROIBIU novamente neste ano, a mesma lavagem em 13 de janeiro passado, evento que faz parte do calendário RELIGIOSO, CULTURAL e TURÍSTICO de Maricá (https://obaraoj.blogspot.com/2024/01/padre-fechou-os-portoes-mas-oxala-lavou.html), mas de pouco adiantou a não abertura dos portões da igreja matriz, pois na mesma hora, vindo dos CÉUS, enviado por Deus (pelo pai Oxalá como queiram), veio uma chuva maravilhosa, que não só lavou as escadarias, como toda a igreja matriz, e a alma de todos que ali estavam na belíssima celebração.

AULAS DE MACUMBA, ENSINANDO A FAZER VODU?

Para completar a celeuma, um vídeo foi ao ar na semana seguinte ao lamentável ato do padre, onde, no vídeo informava que a secretaria de cultura estaria 'ensinando macumba' para crianças e jovens e com aulas de dança, música e criação de bonecas 'vodu'.

Não questiono aqui (que fique claro), como e por quem o vídeo teria sido feito e editado, mas me deparei em um dos comentários postados na publicação: POR QUE ESTÃO DANDO AULAS DE RELIGIÕES DE MATRIZES AFRICANAS, e não estão dando aulas das religiões católicas ou evangélicas.

Bom, vamos tentar explicar sem gerar mais polêmicas: as aulas da religião católica são dadas nas paróquias, nas CATEQUESES, e apesar de serem a base da sociedade moderna pelo livro mais lido pela humanidade, a BÍBLIA, ali não se fala da nossa cultura. Da mesma forma, as aulas para crianças e jovens em igrejas evangélicas são dadas em cultos específicos, dentro das igrejas e templos da religião e se formos levar ao pé da letra, nem eles estudam (como deveriam) a base do PROTESTANTISMO, criado por Martin Lutero e João Calvino (que muitos nem sabem quem são).

E ai vem a diferença, pois as religiões de matrizes africanas, SÃO (como o nome diz) vindas do outro continente, mas algumas são genuinamente brasileiras, como a UMBANDA criado por Zélio Fernandino de Moraes e contam sim, muito da nossa história, tanto que existe uma lei, a 10.639/2003 que obriga as escolas de ensino fundamental e médio a ensinarem sobre história e cultura afro-brasileira (isso não quer dizer que sejam ensinadas somente atos e fatos das religiões de matrizes africanas), onde até a FEIJOADA aparece como uma parte desta história (que não excomunguem a deliciosa feijoada).

Infelizmente, essa lei ou NÃO É APLICADA na grande maioria das escolas do país, ou são pouco aplicadas e difundidas, e quando, no período de férias, uma secretaria (de cultura - tudo a ver) resolve fazer oficinas sobre o tema, SÃO MAL INTERPRETADAS.

O vídeo que causou repulsa e indignação por parte da sociedade, mereceu até manifestações em casas de religiões de matrizes africanas e Moção de Repúdio destas entidades. 

Sobre as aulas oferecias pelo Maricá das Artes, vi que são aulas de dança e música que fazem parte inclusive no nosso FOLCLORE e sobre a oficina de confecção de bonecas que POR FALTA DE CONHECIMENTO chamaram de vodu, utilizo o belíssimo e esclarecedor texto da artista plástica Priscilla Fontes, que se segue na íntegra abaixo:

𝘼𝙗𝙖𝙮𝙤𝙢𝙞𝙨 são bonecos de panos artesanais construídos pelas próprias mãos das crianças em Oficinas de Artes onde desenvolvem o potencial criativo utilizando material reciclado (sobras de pano coloridas) para construção de seus próprios brinquedos e contação de histórias.

Os Bonecos(as) 𝘼𝙗𝙖𝙮𝙤𝙢𝙞𝙨 com corpos negros, pouco encontrados no mercado consumidor, é um método construtivo e criativo de combate ao racismo desenvolvido pela Professora Lili Dias Dias nas oficinas culturais do Maricá das Artes da Secretaria de Cultura - Maricá da Prefeitura Municipal de Maricá.

Lili Dias também é escritora do livro infantil Bakari publicado pela Editora Afeto e com participação em Feiras Literárias Internacionais. 

A palavra 𝘼𝙗𝙖𝙮𝙤𝙢𝙞 de origem iorubá, boneca negra, significa aquilo que traz felicidade e alegria, e quer dizer encontro precioso, abay= encontro e omi=precioso, servindo o nome indistintamente para meninos e meninas.

A criação original foi realizada pela Artista Lena Martins na década de 1980 em oficinas criativas no Rio de Janeiro, se tornando popularmente conhecida como Lena Abayomi, que deixa claro que estas bonecas precisam ser 'bem pretas' (grifo do jornalista).

Parabéns à Professora Lili Dias pelo método inovador que resgata o incentivo à construção de brinquedos, prática comum aos nossos avós que vem se perdendo em um mundo cada vez mais tecnológico, que não estimula a criatividade e produção de inventos.

Nunca foi vodu!

(publicação feita pela artista plástica Priscilla Fontes)

E para terminar este editorial que tenho certeza irá despertar a ira de IGNORANTES (aqueles que IGNORAM, NÃO TEM CONHECIMENTO POR FALTA DE CULTURA), só lamento que justamente no ano eleitoral que será mais uma vez polarizado em nossa cidade, o clima já comece tão tenso e acirrado.