quarta-feira, 31 de janeiro de 2024

Casos de dengue aumentam quase 1.000% no Rio de Janeiro em relação a 2023.

Estado já tem 17 mil casos da doença em janeiro, segundo dados da Central de Inteligência em Saúde (CIS). Ministério da Saúde em alerta em todo o Brasil.

Em apenas quatro semanas, mais de 217 mil casos e 15 óbitos são confirmados. Distrito Federal decreta emergência e ministra da Saúde faz apelo pela ação conjunta de governo e cidadãos para conter proliferação do mosquito e combater automedicação.

RIO DE JANEIRO


O estado do Rio registrou 17.544 casos prováveis de dengue em janeiro. O número representa um aumento de quase 1.000% em relação ao mesmo período de 2023. Os dados foram atualizados nesta terça-feira (30) e constam na Central de Inteligência em Saúde (CIS). Só neste primeiro mês do ano, 676 pacientes foram internados na rede pública com a doença.

Oito das nove regiões do estado estão com números de casos acima da média. Resende, Itatiaia e Rio das Ostras aparecem com alta acima do esperado para a sazonalidade da doença que, historicamente, costuma ocorrer entre os meses de março e abril. 

Na última semana, o governo estadual anunciou a compra de equipamentos e insumos que serão distribuídos aos municípios com maior incidência de casos para a montagem de 80 salas de hidratação, que terão capacidade para atender, ao todo, até 8 mil pacientes por dia. O investimento é de R$ 3,7 milhões.

As ações de enfrentamento à doença fazem parte do "Plano Estadual de Combate à Dengue" que envolve uso de tecnologia, qualificação e apoio aos municípios. Entre as ações está o treinamento de 2 mil médicos de emergências e profissionais de saúde para garantir o diagnóstico mais preciso e o tratamento correto.

Monitoramento

A secretária de Estado de Saúde, Claudia Mello, explicou que o monitoramento da incidência de casos de dengue é realizado em tempo real por meio da Central de Inteligência em Saúde (CIS). Dentro do plano, o estado ainda poderá converter 160 leitos de nove hospitais de referência para tratamento da dengue, como ocorreu na pandemia da covid-19. 

"Essa leitura de dados pelos técnicos da saúde é que permite ao Governo do Rio direcionar as ações necessárias para conter o avanço dos casos e garantir cuidado à população. Mas é fundamental que as prefeituras atuem conosco nesta tarefa e nos informe suas necessidades para que possamos agir rápido e apoiá-las com envio de equipamentos, insumos e promovendo treinamento de suas equipes", disse a secretária.

Segundo governo do Rio, no estado circulam os sorotipos 1 e 2 do vírus que causa a dengue. Foi identificado um caso do sorotipo 4, mas sem circulação. O tipo 3 não é registrado no Rio desde 2007, mas está em circulação em Minas Gerais e São Paulo.

A Vigilância Epidemiológica da Secretaria de Estado de Saúde (SES-RJ) está monitorando os sorotipos circulantes nas rodovias que fazem a integração com outros estados do Sudeste. As amostras dos mosquitos são enviadas ao Laboratório Central Noel Nutels (Lacen).

A Organização Panamericana de Saúde (Opas) realizou capacitação teórica e prática, com equipe da Secretaria de Saúde, simulando resposta a uma possível epidemia. O treinamento incluiu apoio às prefeituras na elaboração de seus planos de contingência.

Vacinação

De acordo com o Ministério da Saúde, a vacina contra a dengue chega à população a partir de fevereiro. O Brasil é o primeiro país do mundo a oferecer o imunizante no sistema público universal. Neste primeiro momento, serão contemplados os municípios de grande porte com alta transmissão do vírus nos últimos 10 anos.

O público-alvo são crianças e adolescentes de 10 a 14 anos, por serem a faixa etária que concentra o maior número de hospitalizações pela doença. O esquema vacinal contra a dengue é de duas doses com intervalos de três meses. 

No Rio de Janeiro, a capital e os municípios de Belford Roxo, Duque de Caxias, Japeri, Itaguaí, Mesquita, Magé, Nilópolis, Nova Iguaçu, Queimados, São João de Meriti, Seropédica receberão a vacina. O grupo dos idosos, também bastante atingido, não teve a vacina liberada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).

Sintomas e prevenção

A dengue é uma doença febril aguda que faz parte de um grupo de doenças denominadas arboviroses. No Brasil, o vetor da dengue é a fêmea do mosquito Aedes aegypti.

A pessoa que apresentar febre repentina (39°C a 40°C) associada a pelo menos dois dos seguintes sintomas deve procurar um serviço de saúde: dor de cabeça, prostração, dores musculares e/ou articulares e dor atrás dos olhos.

Segundo o Ministério da Saúde, a maioria dos doentes se recupera, porém, parte deles podem progredir para formas graves, inclusive virem a óbito. Dor abdominal, vômitos, acúmulo de líquidos em cavidades corporais (ascite, derrame pleural, derrame pericárdico) e sangramento de mucosa são alguns dos sinais de alerta de piora.

O tratamento é baseado principalmente na reposição de líquidos e repouso, conforme orientação médica. A principal forma de prevenção da doença são medidas de manutenção para evitar criadouros do mosquito, como a vedação dos reservatórios e caixas de água, desobstrução de calhas, lajes e ralos.

BRASIL

O número de brasileiros com suspeita de dengue passou de 200 mil só nas quatro primeiras semanas deste ano, três vezes mais do que nos mesmo período de 2023.

O governo do Distrito Federal armou nove tendas em lugares estratégicos para atender a população com ajuda do Corpo de Bombeiros e do Exército. O atendimento consiste em uma triagem, verificação de temperatura e pressão, o teste rápido e a prova do laço, para ver se há manchas no corpo, que é um dos sintomas da dengue.

Teste rápido

O resultado do teste rápido sai em dez minutos. Dependendo da situação, o atendimento é no local mesmo: soro na veia. Os casos mais graves seguem de ambulância para uma UPA ou, em última instância, para um hospital.

O Distrito Federal lidera o ranking de incidência de casos prováveis da doença e já decretou situação de emergência, assim como Minas Gerais, Acre e alguns municípios de Goiás.

Em Rio Branco, agentes têm aplicado o fumacê para combater o mosquito. Em Belo Horizonte, a prefeitura está usando drones para aplicar veneno em locais de risco. Em Curitiba, a população foi convocada para um mutirão de limpeza.

As autoridades estão preocupadas não só com esses estados, mas com a situação do Brasil inteiro. Mal começou o ano e já houve uma explosão de casos: são mais de 217 mil casos prováveis de dengue no Brasil nas quatro primeiras semanas, mais do que o triplo do mesmo período de 2023.

Quinze mortes foram confirmadas em 2024; outras 149 estão sendo investigadas. Nesse mesmo período, em 2023, foram 41 mortes.

A situação é ainda mais alarmante porque, historicamente, os meses com maior número de casos de dengue são março, abril e maio.

Na terça-feira (30), em reunião com organizações e conselhos representantes de estados e municípios, a ministra da Saúde reforçou a importância de todos se envolverem no enfrentamento da doença:

"Não podemos esquecer de que 75% da transmissão ocorre dentro das casas. Então, esse apelo é para um trabalho de governo, mas também dos cidadãos, das cidadãs, de cada família, para cuidar desse ambiente. O que nós temos que ter é, seguramente, essa ação coordenada nas duas pontas: evitar a proliferação dos mosquitos, cuidar dessa prevenção desde casa e, ao mesmo tempo, organizar a nossa rede de atenção para cuidar das pessoas de forma adequada", disse Nísia Trindade.

A ministra e a representante da Organização Pan-americana da Saúde (OPAS), Socorro Gross, fizeram um alerta contra a automedicação. Quando houver suspeita de dengue, é melhor buscar uma unidade de saúde.

O SUS vai oferecer vacina contra a dengue a partir de fevereiro. Segundo a ministra, a distribuição ainda não começou porque falta traduzir a bula para o português. O laboratório japonês está finalizando o processo exigido pela Anvisa e, como a oferta de doses é limitada, terão prioridade crianças e adolescentes de 10 a 14 anos que moram em cidades onde há mais casos da doença.