quarta-feira, 3 de julho de 2024

MAIS UM RELATO DE SOFRIMENTO PARA MÃE E BEBÊ NO CONDE MODESTO LEAL

 


Depois do lamentável fato do ASSASSINATO do pequeno Joaquim Darmont Silva (neto do jornalista Pery Salgado, editor do jornal Barão de Inohan) ocorrido em 08 de junho passado (https://obaraoj.blogspot.com/2024/06/mais-uma-crianca-nao-consegue-nascer.html), várias mulheres começaram a perder o medo, e enviaram para a redação do Barão de Inohan, fatos ATERRADORES de descaso com a vida humana e erros grotescos de pseudos profissionais da saúde.

Abaixo, temos um detalhado relato da jornalista Paula Celestino - responsável pelo blogsite JOVEM NA MÍDIA, filha do jornalista Paulo Celestino, que também passou pelo mesmo problema, felizmente tendo a sorte de ter seu filho vivo apesar de todo o sofrimento para ambos.

Relato gestacional – Paula Celestino Monteiro

Minha primeira gestação foi perfeita até as 40 semanas, sempre cercada dos meus familiares e o acompanhamento do pré natal em dia. Comecei a sofrer com contrações e perda de líquido amniótico no dia 29 de janeiro de 2019, onde fui ao hospital municipal Conde Modesto Leal e a médica de plantão informou que não havia dilatação e eu poderia esperar até mais de uma semana para o meu bebê nascer. Não satisfeita, procurei a maternidade do hospital estadual Azevedo Lima, em Niterói, lá consegui realizar exames onde vi que minha placenta já estava no grau de maturação III, ainda estava com bastante líquido amniótico, meu bebê já tinha tamanho e peso compatível para idade gestacional e para nascimento, porém, como era primeira gestação, me disseram que era preciso esperar a dilatação aumentar para possível parto normal.

Uma coisa que ninguém te conta quando você engravida, é que a saúde pública não está preparada para atender e cuidar de mulheres. Ouvimos muitas vezes, no decorrer da vida: – “Você não quis ter filho? Agora aguenta.” – E isso, infelizmente, acontece dentro dos próprios postos de saúde. Lembro de uma vez que reclamei do toque no procedimento de rotina do posto de saúde, com a minha médica que acompanhava minha gestação Dra. Suely (já aposentada), e a mesma me falou: – “Tá reclamando por quê? Não foi bom na hora de fazer?” – É uma humilhação atrás da outra e aguentamos muito por não ter rede de apoio e acreditar que estamos fazendo o melhor para os nossos filhos, grande besteira!

Voltando aos fatos: após voltar a Maricá, apresentei o exame que fiz no Azevedo Lima e conversei a médica no hospital, expliquei que era meu primeiro filho e havia casos na minha família de mulheres que não conseguiram dilatar o suficiente e fizeram cesárea, mas nada adiantou. Ela me informou que o hospital só poderia fazer uma cesárea em último caso, pois tem um índice de partos e o parto normal deveria ficar sempre acima da média.

Insatisfeita e totalmente desinformada, voltei para casa e fiquei madrugadas sem dormir, meu conforto era ficar agachada, onde diminuía um pouco minhas contrações. Voltei outras vezes ao hospital e a mesma negativa: – “Não podemos te internar, só quando já estiver dilatada”.

Na segunda-feira, dia 4 de fevereiro de 2019, bati outra ultra e meu liquido amniótico já estava mais baixo que o anterior. Já andava com uma pasta com todos meus documentos para quando o momento chegasse, eu estaria precavida. Cheguei ao hospital, a médica me deu um toque e falou que eu estava começando a dilatar, fez os cálculos para saber com quantas semanas eu estava e saiu da sala. Voltou dizendo que era pra eu ir pra casa e voltar com uma dilatação maior. Eu já estava fisicamente e, principalmente, mentalmente, exausta. Não contestei. Fui. Chorei a noite inteira pedindo ajuda ao meu marido, para cessar aquela dor que não me deixava sentar ou deitar.

Na manhã da terça-feira, dia 5 de fevereiro, eu comecei a sangrar. Me arrumei e já fui pro hospital com tudo, pronta pra ter meu filho. Mais uma vez não fizeram um ultra, nenhum exame para ouvir o coração do meu filho e só me mandaram para casa. Eu comecei a chorar de desespero, não sabia mais o que fazer, o que poderia acontecer comigo e com ele e estava sendo tão maltratada que pensei inúmeras vezes em não ser mais mãe. De tarde fui em outro hospital em São Gonçalo e tive outra negativa. Voltei pra casa.

Na quarta-feira, dia 6 de fevereiro, eu conhecia o médico que estava de plantão. Fui até o hospital e pedi pra ele me examinar, o mesmo me informou que eu estava com 1cm de dilatação e que era pra voltar a noite, para me internar, porque já daria tempo de dilatar mais. Foi um alívio ouvir isso. Porém, quando voltei a noite, ainda estava com 1cm de dilatação. Ele pediu que eu esperasse um pouco, andasse pelos corredores, para tentar dilatar mais e ele poder me internar. Segundo ele, a maternidade do HMCML só interna uma gestante com 4cm de dilatação e eu não estava enquadrada. A maternidade estava lotada, fiquei até tarde sentada em uma cadeira esperando liberar leito. Não consegui. Dr. Max me pediu para ir embora e voltar na manhã seguinte, que ele ia deixar avisado à médica que pegaria o plantão dele que era para me internar.

Voltei na manhã da quinta-feira, dia 7 de fevereiro, e encontrei a tal médica citada pelo médico do dia anterior. Ela me examinou, falou que eu ainda estava com 1cm de dilatação e falou que o método dela de trabalhar era diferente, como eu ainda estava com 41 semanas e 2 dias nesse dia, eu poderia esperar até às 42 semanas completas. Caso meu bebê não nascesse até lá, ela me internaria na próxima terça-feira. Nós discutimos, fui até a administração do hospital, chamamos a equipe de enfermagem e todos alegaram a mesma coisa: se tem dilatação, tem chance de ter normal. Fui para Niterói novamente, fiz exames novamente em Niterói, fiquei no soro, descobri uma infecção urinária e para quem não sabe uma infecção é um risco altíssimo de aborto. Nada aconteceu.

Voltei ao HMCML na quinta de tarde, com todos meus exames, convoquei todo mundo novamente e declarei que não ia sair dali sem saber se meu filho estava bem. Me colocaram em uma cadeira na sala de espera e me deixaram horas esperando, achando que eu iria desistir. Toda hora eu ia na enfermagem e perguntava sobre meu leito. Consegui depois de tanto insistir. Meus familiares levaram minhas coisas e eu fui internada. Logo me colocaram no soro com ocitocina, alegando que é a forma mais rápida de dilatar. Depois de muito estudo que eu soube que é uma das formas de indução de parto, podendo causar até aborto.

Cheguei a tomar 2 frascos de 500ml de ocitocina, me contorcia e gemia de dor na sala da pré parto. Tomei banho quente, sentei na bola de pilates, caminhei, agachei inúmeras vezes. Desloquei a mão da minha mãe de tanto apertar, com dor. Ainda sem dilatação. Às 4h da manhã, do dia 8 de fevereiro, eu senti uma dor tão forte que eu gritei. Gritei de dor, de desespero, de cansaço físico e emocional, de medo, de nervoso... Como era tão difícil alguém me dar meu filho? Será que todas as mulheres passavam por isso? Sim. E eu só descobri depois de passar o mesmo.

A médica veio até a sala de pré parto e perguntou o motivo de eu estar tão agitada, como se eu não pudesse me expressar ali. Ela foi tão bruta no toque, que eu sangrei de todo e meu filho que já não estava encaixado, subiu e ficou embaixo das minhas costelas, atravessado. Ela subiu na maca, subiu em mim e com as mãos ficou empurrando meu filho, como se quisesse que ele encaixasse novamente. Falou que se eu não fizesse força para encaixar meu filho novamente, eu iria ter mais tempo sofrendo, que isso só eu poderia fazer. Eu voltei a chorar. Um pouco depois das 5h da manhã, eu já não tinha mais forças para nada, estava tão cansada que não conseguia mais me mexer, estava fraca, pálida, sem comer e beber desde o dia anterior. Minha mãe, preocupada, chamou a enfermeira falando que eu ia desmaiar. Quando ela veio e aferiu minha pressão, eu estava com a pressão 200 x 180, meu filho não mexia mais, eu não tinha mais força. A enfermeira saiu rápido e foi chamar a médica que estava dormindo, minha mãe foi atrás preocupada. A médica veio nada feliz, como se eu estivesse dando trabalho por estar ali, aferiu novamente minha pressão, me deu toque e colocou o estetoscópio na minha barriga. Saiu rápido falando que ia me levar pra cirurgia naquele momento. Vi muitos enfermeiros em volta de mim naquela hora, uma me colocando a sonda, outra segurando minha mão e acariciando minha barriga e outra com a cadeira de rodas já me esperando. Foi tão rápido aquele momento que parecia que elas queriam se livrar de algo.

Fui para a sala de cirurgia, não conseguia me mexer, não senti a hacker e só lembro do bipe da máquina com a minha pressão altíssima. Meu filho nasceu às 7h20 da manhã do dia 8 de fevereiro de 2019, todo roxo, sem água e foi levado direto para incubadora. Só fui vê-lo às 9h da manhã, quando levaram ele pra mim, todo furado e me forçaram a sentar depois de uma cesárea que só tinha 2h. Ficamos internados durante 5 dias, ele teve hipoglicemia e foi levado de mim diversas vezes. Eu tive sintomas decorrentes da eclampsia e estourei um dos pontos da minha cesárea, sendo forçada a sentar e a ficar em pé.

Alguns dias depois de chegar em casa fui ao posto e pedi acompanhamento psicológico para meu puerpério, devido a tudo que passei, eu não estava bem para cuidar de um bebê. Minha família me ajudou muito nesse momento. Mas até hoje, 5 anos depois, não consegui uma avaliação psicológica no posto de saúde. Entrei numa depressão, me divorciei e até hoje tenho traumas desse evento e fobia de entrar no hospital municipal Conde Modesto Leal.

QUE FATOS COMO ESSE, DE DUPLO SOFRIMENTO, DE PROFISSIONAIS ASSASSINOS E DESPREPARADOS, NÃO MAIS ACONTEÇAM.

QUE A MORTE DO PEQUENO JOAQUIM TENHA SIDO A ÚLTIMA NA MATERNIDADE DA MORTE, DO CONDE MODESTO LEAL.