sexta-feira, 17 de setembro de 2021

Merendeiras de Maricá pedem respeito e trabalho digno


No dia 15 de setembro, as merendeiras que trabalham nas escolas municipais de Maricá realizaram um protesto na Praça Orlando de Barros Pimentel, no centro da cidade, reivindicando salários, férias, passagens e vale-alimentação atrasados, conseguindo nos dias seguintes, a regularização dos pagamentos. As merendeiras reclamam constantemente dos atrasos no salários.

A reportagem do Barão de Inohan ouviu algumas merendeiras sobre a situação da categoria. Por temor de represálias, as profissionais pediram para não serem identificadas.

As merendeiras trabalham para a Solar Serviços, terceirizada da prefeitura de Maricá. Sabemos como os processos de terceirização atuam não apenas para cortar direitos das trabalhadoras e trabalhadores, mas também para evitar e sufocar o direito de greve e mobilização.

Uma das profissionais soltou o verbo:

"Os atrasos vem ocorrendo desde dezembro do ano passado, à partir dali começaram os atrasos de salário e do vale-alimentação. À partir de uma data, que não estou bem lembrada qual é, o vale-alimentação deixou de ser pago num mês corrente e atrasou um mês. Nós sempre recebíamos, um mês atrasado. Porém, hoje, a empresa alega que não existe atraso. O mês de agosto eles pagaram integral e o mês de setembro eles parcelaram em quatro vezes e já depositaram duas parcelas. 

O fundo de garantia nunca foi pago em dia e depois da pandemia, eles passaram a não recolher. A gente sabe que tem um decreto que permite o atraso e que pode ser pago depois, mas esse atraso já vem acontecendo muito tempo antes da pandemia. Não houve inscrição da empresa, das merendeiras, no sindicato referente durante a pandemia. Já tínhamos um ano de contrato e a gente não estava inscrita. Não houve correção salarial. Apenas esse ano que corrigiram o salário" explicou indignada.

Outra profissional falou sobre as férias: "Nós teríamos férias ano passado mas não tivemos. Nós também não tiramos férias até o mês de julho de 2021. Eles simplesmente fizeram com que nós assinássemos um acordo, abrindo mão, das férias e da multa. Apenas uma merendeira não assinou esse acordo. Eles pagaram o valor referente às férias, mas não gozamos as férias nem recebemos a multa. E foi dito pela supervisora 'ou assina, ou eu não sei o que vai acontecer com vocês'. 

Uma merendeira perguntou para essa supervisora 'vocês vão nos mandar embora se não assinarmos?' e ela respondeu 'possivelmente'" denunciou.

COVID

Existe também a denúncia de muitas merendeiras com covid e que são obrigadas a entregar as cestas básicas que a prefeitura dá aos alunos:

"Na minha escola mesmo, tivemos uma merendeira jovem que contraiu duas vezes. Na minha escola nós trabalhamos todo o período de covid. Nós ficamos um mês em casa. No dia 18 de março nós paramos. Ficamos um mês, quarenta dias em casa. Mas logo em seguida começaram as entregas de cestas básicas que a prefeitura dá para todos os alunos da rede e nós entregávamos. Era responsabilidade nossa ir pra escola pra entregar as cestas. Trabalhávamos com o protocolo mas trabalhamos todo o período", explicou.

Tanto a empresa quanto a prefeitura tomou conhecimento que as merendeiras fariam greve, mas um funcionário da empresa, foi nas escolas informando as funcionárias da SOLAR que não adianta ficarem reclamando, nem fazendo protesto, pois eles estão com garantias em relação a pandemia e que eles podem alegar que isso (os atrasos no pagamento) seria por conta da pandemia, e que se ficarem reclamando muito irão perder o emprego, pois tem muita gente que quer e precisa trabalhar.

"Ouvi de outras pessoas, que a Secretária de Educação disse que nós estamos reclamando muito, que o país inteiro está desempregado, que tem muita gente querendo trabalhar e que se alguém está insatisfeita, sai do trabalho. É muito triste a gente ouvir isso. O assédio é muito grave. Quando uma merendeira protesta, o nome dela é passado para a empresa e para a secretaria de educação. Ela corre o risco de ser mandada embora. Essa é a parte que mais me incomoda" disse chorando uma outra merendeira.

"Nós não sabemos onde é a empresa, nós não temos o direito de ter o endereço, o telefone da empresa. O único contato que nós temos em relação a empresa é uma supervisora de nutrição, que agora atende a gente para tudo. Na verdade ela é nutricionista e a obrigação dela é supervisionar o nosso trabalho na cozinha. Porém, hoje ela é o único contato que nós temos da empresa que nos dá tudo: uniforme etc. Mas nunca sabe nada. Não nos passa nada. Essa é a parte que mais nos incomoda" disse indignada outra merendeira.

Quem é a Solar Serviços?

É uma empresa de serviços terceirizados localizada na cidade de Belo Horizonte e com um escritório no Rio de Janeiro. A empresa se localiza no bairro Alto Caiçaras, em Belo Horizonte (MG). A empresa está no nome de Renan Correa de Souza, que responde como sócio administrador único da sociedade. Há poucas informações sobre a empresa na internet. A obscuridade é outro traço dos processos de terceirização, que seguem recortando os direitos de trabalhadoras e trabalhadores em Maricá.