Jornalista que trabalha para mensaleiro preso comandou ‘media training’, em que ex-diretor da estatal foi orientado a como se portar na comissão
BRASÍLIA — Tido como
“homem-bomba”" no início do debate sobre a compra da refinaria de
Pasadena, o ex-diretor da área internacional da Petrobras Nestor Cerveró
submeteu-se a um treinamento para depor na CPI da Petrobras, com um
profissional de comunicação ligado ao PT. Ednilson Machado, que comandou o
“media training” com Cerveró, é assessor de imprensa do ex-ministro José Dirceu
e manteve a função, mesmo após a prisão do petista por sua condenação no
processo do mensalão. Por seu advogado, Cerveró negou ter feito acordo para
mudar sua versão dos fatos.
Machado confirmou ao GLOBO ter realizado um treinamento de
"alinhamento de mensagem" com Cerveró. Não deu detalhes nem disse
quem pagou pelo serviço.
— Faço media training no mercado. Não posso entrar em detalhes por uma
questão contratual. A gente fez um treinamento só com Cerveró, de alinhamento
de mensagem, mas não posso entrar em detalhes — disse Machado.
O treinamento ocorreu no Rio, em maio, pouco antes do depoimento de
Cerveró à CPI, no dia 22 daquele mês. A equipe de Machado simulou o ambiente da
comissão, com o uso de câmera e a realização de questionamentos. Uma
fonoaudióloga acompanhou o desempenho do ex-diretor e ajudou a orientá-lo. O
jornalista afirmou que o trabalho não tem relação com as suas atribuições na
assessoria de Dirceu.
Cerveró era diretor da área internacional quando foi comprada a
refinaria de Pasadena e elaborou o resumo executivo que balizou a decisão do
Conselho de Administração. A presidente Dilma Rousseff, que integrava esse
conselho, disse que o material era falho e tinha "informações
incompletas". Afirmou que não teria aprovado a compra se soubesse de duas
cláusulas, que obrigavam a Petrobras a comprar os 50% restantes da belga Astra
Oil e garantiam rentabilidade mínima à sócia.
Para Dilma, essas cláusulas teriam causado o prejuízo de US$ 530 milhões
admitido pela estatal. Cerveró saiu da Petrobras em 2008 e tornou-se
diretor-financiero da BR Distribuidora. Em março deste ano deixou o cargo,
quando Dilma criticou seu parecer.
Na CPI, ele disse que não quis enganar Dilma e atribuiu a omissão das
cláusulas ao fato de serem “detalhes contratuais”. Para ele, a compra seria
aprovada mesmo que as cláusulas estivessem em seu resumo. Disse não ser
possível avaliar se a compra foi um bom ou mau negócio, porque o projeto de
ampliação não foi concluído e houve mudanças no setor de petróleo desde então.
Edson Ribeiro, advogado de Cerveró, disse não ter informações sobre o
treinamento, mas negou algum acordo.
“Não fiz acordo ou alinhamento de declarações com ninguém. Meu
compromisso é com a verdade”, disse Cerveró, por meio de seu advogado.