sexta-feira, 13 de junho de 2014

Assessor de José Dirceu treinou Nestor Cerveró para depor em CPI

Jornalista que trabalha para mensaleiro preso comandou ‘media training’, em que ex-diretor da estatal foi orientado a como se portar na comissão

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BRASÍLIA — Tido como “homem-bomba”" no início do debate sobre a compra da refinaria de Pasadena, o ex-diretor da área internacional da Petrobras Nestor Cerveró submeteu-se a um treinamento para depor na CPI da Petrobras, com um profissional de comunicação ligado ao PT. Ednilson Machado, que comandou o “media training” com Cerveró, é assessor de imprensa do ex-ministro José Dirceu e manteve a função, mesmo após a prisão do petista por sua condenação no processo do mensalão. Por seu advogado, Cerveró negou ter feito acordo para mudar sua versão dos fatos.
Machado confirmou ao GLOBO ter realizado um treinamento de "alinhamento de mensagem" com Cerveró. Não deu detalhes nem disse quem pagou pelo serviço.
— Faço media training no mercado. Não posso entrar em detalhes por uma questão contratual. A gente fez um treinamento só com Cerveró, de alinhamento de mensagem, mas não posso entrar em detalhes — disse Machado.
O treinamento ocorreu no Rio, em maio, pouco antes do depoimento de Cerveró à CPI, no dia 22 daquele mês. A equipe de Machado simulou o ambiente da comissão, com o uso de câmera e a realização de questionamentos. Uma fonoaudióloga acompanhou o desempenho do ex-diretor e ajudou a orientá-lo. O jornalista afirmou que o trabalho não tem relação com as suas atribuições na assessoria de Dirceu.
Cerveró era diretor da área internacional quando foi comprada a refinaria de Pasadena e elaborou o resumo executivo que balizou a decisão do Conselho de Administração. A presidente Dilma Rousseff, que integrava esse conselho, disse que o material era falho e tinha "informações incompletas". Afirmou que não teria aprovado a compra se soubesse de duas cláusulas, que obrigavam a Petrobras a comprar os 50% restantes da belga Astra Oil e garantiam rentabilidade mínima à sócia.
Para Dilma, essas cláusulas teriam causado o prejuízo de US$ 530 milhões admitido pela estatal. Cerveró saiu da Petrobras em 2008 e tornou-se diretor-financiero da BR Distribuidora. Em março deste ano deixou o cargo, quando Dilma criticou seu parecer.
Na CPI, ele disse que não quis enganar Dilma e atribuiu a omissão das cláusulas ao fato de serem “detalhes contratuais”. Para ele, a compra seria aprovada mesmo que as cláusulas estivessem em seu resumo. Disse não ser possível avaliar se a compra foi um bom ou mau negócio, porque o projeto de ampliação não foi concluído e houve mudanças no setor de petróleo desde então. Edson Ribeiro, advogado de Cerveró, disse não ter informações sobre o treinamento, mas negou algum acordo.

“Não fiz acordo ou alinhamento de declarações com ninguém. Meu compromisso é com a verdade”, disse Cerveró, por meio de seu advogado.