Vanessa da Mata canta e encanta na Flim. Cantora participou do talk show sob o comando de Maurício Pacheco e encerrou a penúltima noite da Festa Literária de Maricá. Logo depois, o "Papo FLIM" recebeu Stepan Nercessian (presidente do Retiro dos Artistas e mediador do debate), Jandira Feghali, Alexandre Cabral, Bruno Paes Manso e Felipe Eugênio, falando sobre Fé, Saúde e Política
Pela terceira vez, o talk show ‘Conversas e Canções’ levou um grande público à tenda ‘Papo Flim’ no sábado (09/11), desta vez para assistir à cantora Vanessa da Mata. Sob a mediação do músico e produtor Maurício Pacheco (que integra sua banda), a artista mato-grossense falou sobre sua carreira e suas inspirações para compor seus sucessos, além de cantar alguns deles para a plateia. No primeiro final de semana, o projeto criado por Maurício já havia levado à 9ª edição da Festa Literária Internacional de Maricá (Flim) os cantores e compositores Lenine e Paulinho Moska.
Antes de chamar a cantora ao palco, Maurício Pacheco falou sobre o poder que a música brasileira tem para tratar males da alma das pessoas através de letras e melodias. “Para mim, a MPB deveria ser prescrita nas farmácias, tamanho poder até curativo que tem”, afirmou o músico, que em seguida recebeu Vanessa para iniciar a conversa.
“Concordo plenamente com o Maurício, pois para mim a canção sempre foi um alucinógeno barato, que me fazia sair da realidade mais dura. Venho de uma família multirracial de Alto Garças, em Mato Grosso, cidade que hoje cresce com o agronegócio, mas onde eu cresci vendo e ouvindo caminhões passando e trazendo música de todas as partes do país. Ouvia também os cantos das lavadeiras dos rios próximos, acompanhando minha avó que ia para lá”, contou a cantora e compositora, ao revelar que compôs “A Força que Nunca Seca” em homenagem à avó.
Vanessa falou também sobre o feminismo, quando Maurício lembrou que o álbum “Vem Doce’ foi lançado por ela no ano passado, no dia 8 de março, Dia Internacional da Mulher. “Geralmente nos dão rosas neste dia, talvez para trazer beleza a um dia que, na verdade, é tão duro para nós. Mas o dia não é sobre isso, é sobre trabalhadoras oprimidas num protesto em 1917, ou seja, é um dia de luta”, lembrou ela.
Entre uma fala e outra, a artista cantou hits dela como “As Palavras” e “Ainda Bem”, além de recitar letras de Roberto Carlos e Chico Buarque. No final, ela exaltou a postura do governo municipal de investir em cultura e educação ao realizar um evento como a Flim.
“Se na minha cidade tivesse a verba voltada para a educação, como existe aqui, e que é dificílimo encontrar em outras cidades, teríamos outro país. É preciso exigir cultura, e peço que vocês continuem exigindo, para que as crianças daqui queiram ser alguém”, finalizou ela, que depois tirou fotos com parte do público.
À noite, Vanessa da Mata subiu ao palco principal para um show com os grandes sucessos de sua carreira. O público cantou e dançou com hits como “Não Me Deixe Só”, “Boa Sorte”, “Amado” e “Ai Ai Ai”, entre outros.
Ela ainda fez uma homenagem a Gal Costa, lembrando os dois anos de sua morte, ao cantar o refrão de “Força Estranha”, uma das marcas da cantora baiana.
FLIM traz discussão sobre fé, saúde e política
Com mediação de Stepan Nercessian (presidente do Retiro dos Artistas), Jandira Feghali, Alexandre Cabral, Bruno Paes Manso e Felipe Eugênio debateram o tema no sábado (09/11)
O penúltimo dia da 9ª FLIM - Festa Literária Internacional de Maricá, realizada na orla do Parque Nanci, reuniu convidados para uma roda de conversa sobre fé, saúde e política no sábado (09/11), na tenda Papo Flim. Com mediação do ator Stepan Nercessian, a mesa reuniu os escritores Alexandre Cabral e Bruno Paes Manso, a médica e deputada Jandira Feghali e o representante da Fiocruz Felipe Eugênio.
Na abertura, o mediador destacou a importância da discussão do tema em Maricá porque a cidade, afirma Nercessian, “tem sido uma referência em políticas públicas, mostrando que é possível fazer ações para mudar a vida das pessoas”. Bruno Paes Manso pontuou que os principais desafios políticos a serem mediados nos centros urbanos têm relação com as violências policiais, de milícias e das facções criminosas. Autor de “A guerra: a ascensão do PCC”, ele também é jornalista e pesquisador do Núcleo de Estudos da Violência da USP e veio para o Rio de Janeiro para entender como funciona a milícia.
“A diferença dos crimes entre Rio e São Paulo é uma histórica ligação do crime de contravenção com a polícia, de pessoas envolvidas com jogo do bicho. Em São Paulo, a venda de drogas não depende do domínio territorial”, afirma o pesquisador.
Jandira ressaltou o tema central da roda de conversa, onde a política é transversal e precisa ser discutida coletivamente pelo direito de todos.
“Fé tem uma relação direta com a democracia que é liberdade de culto. A saúde precisa ter acesso universal e a política é colocada pelo bem comum com direito à vida, de pensar, criticar, organizar e se manifestar. A desigualdade também se estabelece no recorte de classe, raça e gênero. Tudo isso é um debate que nos coloca na seguinte reflexão, todos nós temos direitos iguais perante a lei que está escrito na Constituição, ou não? Na minha opinião, não. Isso é um direito formal, ele está escrito, mas ele não está realizado”, destacou.
A deputada também citou a importância de eventos como a FLIM com livros que tragam conteúdo para desmitificar a desigualdade que, segundo ela, o capitalismo trouxe para a humanidade.
“É preciso que a criança e a juventude entendam que a igualdade de raça se forma sem preconceito, discriminação, violência e ódio, com uma cultura democrática de paz e isso a gente não faz sem a educação, sem o livro. A cultura é poder e é hoje o movimento mais transformador e emancipador da política pública brasileira. Tenho certeza que feiras como essa vão contribuir para que pessoas entendem o poder da palavra”, enfatizou a parlamentar, que também citou a guerra de Israel contra a Palestina que tem vitimado muitos civis desarmados. A organização da Flim também estendeu uma bandeira da Palestina no palco em apoio à população do país.
Felipe Eugênio, coordenador da Periferia Brasileira de Letras, iniciativa da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), afirmou que o órgão federal tem o compromisso da saúde com a democracia, onde trabalham com literatura nas periferias.
“Identificamos que inúmeros coletivos literários, como saraus poéticos, bibliotecas comunitárias, rodas de leitura e teatro de rua, nos territórios da favela, têm sido as experiências mais interessantes de mobilização social e de formação crítica”, disse Felipe.
Alexandre Cabral ressaltou que o poder macropolítico na comunidade que é exercido pela Igreja Universal produz o racismo religioso, o discurso homofóbico e a culpabilização da pobreza. Para o filósofo, não tem como pensar em processo de libertação se não tiver um diálogo com os protestantismos históricos e os movimentos evangélicos contemporâneos, com as culturas de terreiros, mas, sobretudo, com o que chamou de “o racismo religioso cristão em terras brasileiras”.
“Somente a Constituição de 1988 leva a sério a livre consciência religiosas dos cidadãos e cidadãs do país. Até então, o cristianismo católico era a religião oficial da construção desse país. Se nós queremos brasilidade com voz a quem nunca teve lugar, se não questionarmos qual é a cruz que está em todas as instituições públicas do Brasil, nós continuaremos a ver preto com Bíblia de baixo do braço fechando terreiro em nome da bandeira de Israel que não tem nada a ver com Israel na Bíblia”, enfatizou.
A Festa Literária Internacional de Maricá iniciada no dia 01/11 na orla do Parque Nanci, terminou no domingo (10/11) com sucesso absoluto de vendas, de visitação e de satisfação. Agora, imaginem tudo isso em um parque de exposições e local para eventos? Seria ainda melhor!!!
Maricá, os maricaenses e os visitantes merecem isso!!!