sexta-feira, 25 de agosto de 2023

GLOBO ABRE A CAIXA PRETA DAS 5 MORTES EM 2019

 Com o impactante título "Orgia na prefeitura, matadores de aluguel e extorsão a políticos estão por trás de cinco mortes em Maricá em 2019", os jornais do grupo Globo (G1, O Globo - impresso e on line e Extra - impresso e on line), abrem a caixa preta contando tudo o que motivou as 5 mortes em 2019


Em seis meses de 2019, a cidade da Região dos Lagos foi palco de crimes bárbaros que começam a ser desvendados pela Polícia Civil e o Gaeco do MP

Durante as investigações de cinco assassinatos brutais em Maricá, a Polícia Civil e o Ministério Público do Rio (MPRJ) esbarraram numa teia de interesses políticos que conta com uma rede de apoio de matadores de aluguel. Para puxarem o fio da meada dos crimes ocorridos em seis meses, de fevereiro a agosto, descobriu-se até que teria ocorrido uma orgia na prefeitura daquela cidade da Região dos Lagos, com a suposta participação de Vanessa da Matta Andrade, a "Vanessa Alicate", acusada pela polícia de ser a mandante do assassinato do ex-companheiro Thiago André Marins e do pai dele, o vereador Ismael Breve de Marins.

ABERTA A CAIXA PRETA

No relatório da Delegacia de Homicídios de Niterói, São Gonçalo e Itaboraí (DHNSG) consta que, como resultado da suposta orgia, ocorrida naquele mesmo ano, Vanessa teria engravidado do Pastor Renato — identificado como Renato Machado, que ocupa uma cadeira na Assembleia Legislativa do Rio como deputado estadual pelo PT. O fato, segundo o documento redigido pelos investigadores, foi "veiculado pelas mídias locais" na época. Após a orgia, conforme o relatório, Vanessa "teria se aliado a Robson Giorno (proprietário do Jornal O Maricá e bastante polêmico na região) a fim de obter vantagens financeiras e cargos dentro daquele governo municipal, situação que, posteriormente, levou à morte de Giorno, na noite do dia 25 de maio de 2019 - Dia Municipal do Evangélico, em frente à sua casa com cerca de 10 tiros a queima roupa, vários na direção da cabeça, na presença da então sua esposa na época, poupada da violência".

As investigações da DHNSG e do Grupo de Atuação Especializada no Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do MPRJ também apontam para a existência de uma organização criminosa com a atuação de matadores de aluguel. Diz o relatório sigiloso da especializada, ao qual o GLOBO teve acesso: "É de extrema relevância e oportuno o destaque da informação sobre a existência de investigações, nesta especializada, que versam sobre a possível existência de uma Organização Criminosa (Orcrim) que atua predominantemente no Município de Maricá, composta por um núcleo político e armado, tendo como objetivo direto o fortalecimento financeiro e/ou político mediante a prática de vários crimes, dentre eles homicídios" (sic).

Ao se aprofundar em cada homicídio, os investigadores identificaram como integrantes do bando armado, ou seja, executores dos crimes: Rodrigo José da Silva Barbosa, o "Rodrigo Negão" que comandaria uma milícia na região; e o subtenente reformado da Polícia Militar Davi de Souza Esteves. A periculosidade de Rodrigo é ressaltada num trecho do relatório policial: "Com relação à contemporaneidade do poder ostentado por Rodrigo “Negão” e sua Orcrim, não resta muito tempo que ele teve a coragem de ameaçar um Deputado Federal eleito e com muito poder na região. Se Rodrigo “Negão” é capaz de fazer isso com uma pessoa de tamanha importância no município de Maricá, imagina para o cidadão comum que atenta contra qualquer de seus interesses".

Nas mortes de Thiago e do pai dele, o vereador Ismael, a polícia e o MP já têm evidências de que o crime foi por ordem de "Vanessa Alicate", motivada pela raiva do ex-companheiro que reduziu sua pensão. O casal teve uma filha. O vereador teria sido executado por "queima de arquivo", ao ouvir o barulho de tiros na casa. Por se amiga de infância de Rodrigo, ela teria pedido, segundo a polícia, para que matasse Thiago. Rodrigo e o subtenente Davi foram direto ao quarto de Thiago e nenhuma porta foi arrombada. A investigação revela ainda que os criminosos já tinham pesquisado o local. A dupla também quebrou câmeras de segurança da prefeitura (denunciado na época em matérias locais) para que os equipamentos não registrassem o veículo que usaram no trajeto do local do crime.

Matadores de aluguel seguem um ritual para cometer assassinatos

Para a polícia e o MPRJ, há uma constância no modo de agir dos suspeitos. Além de monitorarem suas vítimas antes da execução, eles atiram na cabeça e, em três casos, eles usaram a mesma arma: uma pistola Glock. O relatório da DHNSG informa que: "as semelhanças dos calibres das armas utilizadas, os quais seriam uma possível pistola da marca Glock, calibre 9 mm e um revólver .38", demonstram essa forma de ação.

No caso do jornalista investigativo Romário Barros, de 31 anos, morto em junho de 2019, um mês após Robson Giorno, a organização criminosa estaria incomodada com as reportagens dele que denunciavam escândalos envolvendo políticos. O repórter também sofreu uma emboscada quando voltava de carro para casa, como fazia sempre, após dar uma caminhada. As câmeras do local flagraram a ação dos criminosos. Tais imagens serviram de base para compará-las com as fotos de Rodrigo, em redes sociais. Uma análise biométrica corporal do suspeito serviu de prova para o Gaeco apostar na sua participação no crime. O joelho de Rodrigo é valgo, o que os ortopedistas definem como um desalinhamento nas pernas.

A outra vítima seria Sidnei da Silva. De acordo com as investigações, ele foi morto por vingança — após uma discussão em via pública, poucos dias antes do crime, entre a vítima e a sua ex-cunhada, esposa do acusado Rodrigo.

Respostas dos citados

O EXTRA procurou o deputado estadual Renato Machado (PT) e a assessoria de imprensa da prefeitura de Maricá para se pronunciarem sobre as investigações da DHNSG e MPRJ, mas até o momento ainda não houve resposta. As defesas de Rodrigo, Vanessa e Davi não foram localizadas.

Conheça os suspeitos de cinco mortes em Maricá: 'Vanessa Alicate', 'Rodrigo Negão' e 'subtenente Davi'

Amigos de infância e matadores de aluguel, o elo entre acusados de homicídios num único ano: 2019

Vanessa da Matta Andrade, conhecida como "Vanessa Alicate" (por ter pernas arcadas) é amiga de infância de Rodrigo José Barbosa da Silva, o "Rodrigo Negão". Já ele seria parceiro do policial militar Davi de Souza Esteves, o "subtenente Davi", formando uma dupla de matadores de aluguel que atua em Maricá. Assim cada suspeito é descrito no relatório da Delegacia de Homicídios de Niterói, Itaboraí e São Gonçalo (DHNSG), que investiga com o Grupo de Atuação Especializada no Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do Ministério Público do Rio (MPRJ), cinco homicídios em 2019.


Entre os casos sob investigação, o primeiro deles, é o duplo homicídio contra o vereador Ismael Breve de Marins e seu filho, o advogado Thiago André Marins. Os corpos foram encontrados em casa, no bairro Zacarias, no mesmo município, em 22 de agosto de 2019. Vanessa é acusada de ser mandante do crime e os executores seriam Rodrigo e Davi. Vanessa era ex-companheira de Thiago e não teria se conformado em ter a pensão reduzida. O casal tinha uma filha. Ismael teria sido morto por "queima de arquivo".

Os demais crimes atribuídos à dupla Rodrigo e Davi são os assassinatos de dois jornalistas: Robson Ferreira Giorno, de 45 anos, morto em maio, e de Romário Barros, de 31, no mês seguinte. A outra vítima seria Sidnei da Silva. Segundo as investigações, este último foi morto apenas por Rodrigo por vingança — após uma discussão em via pública, poucos dias antes do crime, entre a vítima e a sua ex-cunhada, esposa do acusado.

"Vanessa Alicate" teria péssima fama

Acusada de mandar matar o ex-companheiro, o advogado Thiago Marins, "Vanessa Alicate" é descrita no relatório da DHNSG "como pessoa problemática, de péssima fama na localidade onde vive", ou seja, em Maricá. Ela é amiga de infância e vizinha de "Rodrigo Negão". Ela teria recorrido ao "quase irmão" para ameaçar Thiago num restaurante, quando o ex-companheiro reduziu a pensão que dava para ela e a filha do casal.

Segundo os investigadores, ela receberia um salário de R$ 18 mil como funcionária do Hospital municipal Dr. Ernesto Che Guevara, em Maricá.

"Rodrigo Negão" pertenceria a uma milícia de Maricá

"Rodrigo Negão" é apontado por moradores do município de Maricá como sendo chefe de uma milícia da região. O relatório da DHNSG informa que ele comanda, aliado a traficantes, as favelas Cantinho, Cocadinha, Mumbuca, Saco da Lama, Saco das Flores, Recanto de Itaipuaçu, Morro do Amor e Bairro da Amizade, todas em Maricá.

O suspeito dos cinco homicídios seguidos na cidade, em 2019, é descrito como homem "muito perigoso, envolvido em atividades ilícitas". Ele é amigo de infância de "Vanessa Alicate", conforme os investigadores da DHNSG escrevem no relatório: “...ambos foram criados praticamente juntos, e possuem uma afinidade bem grande. Narrou que a residência em que VANESSA vivia com a mãe, enquanto criança, era bem próxima da residência que o declarante residia, razão pela qual tiveram uma infância muito próxima...”

"Subtenente Davi" da PM, parceiro de Rodrigo

Fiel escudeiro de Rodrigo, o subtenente da Polícia Militar Davi Esteves está praticamente em todas as ações criminosas da dupla, segundo os investigadores. O policial e Rodrigo foram vistos por testemunhas em um Fiat Punto, no dia do duplo homicídio do vereador Ismael e seu filho Thiago, no trajeto Restinga em direção à Barra de Maricá. Eles teriam quebrado ou desabilitado as câmeras de monitoramento da prefeitura, visando apagar o registro da passagem deles pelo local no dia do crime. O carro foi encontrado, mas, dois anos depois do crime, o veículo foi estranhamente incendiado no pátio da DHNSG, em Niterói. O relatório cita que o incêndio ocorreu num fim de semana, quando a unidade está com menos vigilância.

Os investigadores declaram no relatório que: "No que pertine ao investigado conhecido como “SUBTENENTE DAVI”, a equipe de investigação descobriu que se trata de um aliado de “RODRIGO NEGÃO”, um cidadão de alta periculosidade envolvido em vários homicídios no Município de Maricá com influência na área de segurança do Município de onde recebe cobertura para prática de seus atos ilícitos. Faz-se importante destacar o modus operandi empregado na condução da empreitada criminosa que levou à morte de THIAGO e ISMAEL. Os criminosos invadiram a residência das vítimas no período da madrugada, arrombaram portas, surpreenderam-nas enquanto dormiam e foram executadas por disparos de armas de fogo que, inclusive, uma delas seria do mesmo calibre (38) utilizado na morte da vítima SIDNEI, outro crime ocorrido em Maricá no ano de 2019, no qual há também o envolvimento de "RODRIGO NEGÃO"".



baseado em matérias de Vera Araújo para O Globo, Extra e G1