Mesmo antes de ser preso, o ex-presidente Lula já pagava por todos os seus pecados. E crimes. Ganancioso e arrogante, o petista foi duramente atingido pelas consequências de seus erros históricos e perdeu praticamente tudo que tinha. Ficou sem o tão querido sítio de Atibaia, sem o triplex, sem a cobertura em São Bernardo, sem as palestras, sem o tesouro que roubou do Palácio do Planalto, sem a mulher, sem moral e sem credibilidade. Lula é o primeiro ex-presidente do país a ser condenado por crime de corrupção e lavagem de dinheiro.
Esquecido pelo povo que tanto lhe ovacionou, é lembrado apenas por alguns poucos aliados políticos.
Vocês já reparam que nem os filhos falam dele? Por que será que os filhos não o visitam com frequência, não dão entrevistas e não gritam Lula Livre para o povo ouvir?
Nunca o efeito bumerangue foi tão devastador na vida de um sujeito. Me faz lembrar uma das passagens mais prosaicas do livro Zorba, o Grego, de Níkos Kazantzákis. Acompanhe abaixo:
"Fui deitar-me em minha cabina e peguei um livro: Buda governava ainda meus pensamentos. Li o Diálogo de Buda e o Pastor, que nos últimos tempos me enchia de paz e segurança.
O Pastor – Minha refeição está pronta, minhas ovelhas cuidadas. À porta de minha cabana está passando o ferrolho, e meu fogo está aceso. E tu, céu, podes chover quando quiseres!
Buda – não preciso mais nem de comida nem de leite. Os ventos são meu teto, meu fogo se apagou. E tu céu, podes chover quando quiseres!
O Pastor – tenho bois, tenho vacas, tenho os pastos de meu pai,e um touro para cobrir minhas vacas. Eu tu, céu, podes chover quanto quiseres!
Buda – não tenho bois nem vacas. Não tenho pastos. Não tenho nada. Não tenho medo de nada. E tu, céu, podes chover quanto quiseres!
O Pastor – tenho uma pastora dócil e fiel. Há alguns anos ela é minha mulher, e sinto-me feliz em brincar com ela à noite. E tu, céu, podes chover quando quiseres.
Buda – tenho uma alma dócil e livre. Há alguns anos eu a exercito e ensino-lhe a brincar comigo. E tu, céu, podes chover quando quiseres.
Essas duas vozes falavam ainda quando veio o sono. O vento se tinha levantado de novo, e as ondas quebravam sobre a escotilha de vidro grosso. Eu vagava como fumaça entre a vigília e o sono. Uma violenta tempestade caiu, os prados escureceram, os bois, as vacas e o touro foram tragados. O vento arrancou o telhado da cabana e o fogo apagou-se. A mulher deu um grito e caiu morta na lama. E o pastor começou a lamentar-se; ele gritava, eu não entendia o que dizia, mas ele gritava; e eu mergulhava cada vez mais no sono, deslizando como um peixe no mar."
Lula está gritando, mas quase ninguém está ouvindo.
Baseado em texto da Imprensa Viva com inserções do jornalista Pery Salgado