sexta-feira, 29 de março de 2019

Temer é denunciado pela Lava-Jato do Rio por corrupção, lavagem de dinheiro e peculato

Ex-presidente chegou a ser preso, mas foi solto após pedido de habeas corpus; Moreira Franco e coronel Lima também foram denunciados


O Ministério Público Federal (MPF) apresentou nesta sexta-feira duas denúncias contra o ex-presidente Michel Temer, o ex-ministro Moreira Franco (MDB-SP), o coronel João Baptista Lima Filho e mais dez pessoas. As denúncias acontecem um dia após o ex-presidente virar réu no caso da mala com R$ 500 mil da J&F . Caberá ao juiz Marcelo Bretas , da 7ª Vara Federal Criminal do Rio, decidir se eles viram ou não réus.

Na primeira denúncia, Temer foi acusado de crimes de corrupção e lavagem de dinheiro pelo suposto desvio de R$ 1 milhão de um contrato de prestação de serviços de mídia para o Aeroporto de Brasília. Na segunda, o crime é de peculato e está relacionado ao favorecimento de uma empresa ligada ao ex-presidente nas obras da usina nuclear de Angra 3, na Costa Verde. A força-tarefa do MPF, que tem pressa em formalizar as acusações, passou o último fim de semana analisando provas colhidas nas ações de busca e apreensão da última quinta-feira contra o grupo de Temer .


Temer foi preso por determinação de Bretas , mas foi solto quatro dias depois após decisão do desembargador Ivan Athié, do Tribunal Regional Federal da 2ª Região (TRF-2). Ele foi alvo de investigação por suspeita de recebimento de propina da construtora Engevix, em troca de contratos na execução de obras da usina nuclear de Angra 3, na Costa Verde fluminense.

Temer tentou falar com Moreira Franco na madrugada do dia em que foram presos
Ex-presidente ligou para ex-ministro faltando menos de cinco horas para a deflagração

O Ministério Público Federal ( MPF ) informou, durante entrevista coletiva nesta sexta-feira, que o ex-presidente Michel Temer tentou falar com o ex-ministro Moreira Franco na madrugada do dia em que foram presos na Operação Descontaminação.  Os dois emedebistas foram denunciados hoje pela Lava-Jato do Rio .  O contato se deu faltando menos de cinco horas para a deflagração da ação, que ocorreu no dia 21 de março.

O procurador da República Almir Teubl afirmou que foi reconstituído o histórico de comunicação entre Moreira e Temer, por meio do celular do ex-ministro apreendido durante a ação. De acordo com ele, nos 86 dias que constam nesse histórico, as ligações ocorriam na parte da tarde ou, no máximo, até as 22h.

Às 1h24m do dia da operação, Temer manda mensagem no WhatsApp a Moreira Franco, perguntando se ele estava acordado. Às 1h40m do mesmo dia, o ex-ministro tenta ligar, por meio do aplicativo, para o ex-presidente. A chamada, no entanto, não se completa. O MPF chama atenção para o fato de que ligações por meio do WhatsApp são uma forma codificada de comunicação e não podem ser interceptadas. Logo em seguida, Moreira manda uma mensagem dizendo que estava acordado e tenta ligar para Temer. Os procuradores não descartam que os dois tenham se falado por outros aplicativos que autodestroem mensagens ou outros aparelhos.

Para o MPF, isso indica uma probabilidade de que eles tenham tido conhecimento da operação antes de sua deflagração.

- É possível que sim, vamos continuar investigando - afirmou o procurador.

Para o coordenador da força-tarefa da Lava-Jato no Rio, procurador Eduardo El Hage, a tentativa de comunicação fora de um horário habitual em que Moreira e Temer costumavam falar causou estranheza nos investigadores:

- Nos causou espécie que os dois tenham tentado se falar no dia da prisão.

O histórico de chamadas do celular de Moreira Franco para Temer, analisado pelo MPF, começa no dia 26 de dezembro do ano passado e termina na data de deflagração da operação.  Nesse período, foram 27 comunicações ou tentativas de comunicações ocorridas entre os dois, nenhuma depois das 22h. A exceção foram as duas tentativas de comunicação na madrugada do dia da operação.

Outro lado
Em nota, a defesa de Moreira Franco diz  que a denúncia reproduz a versão do delator José Antunes Sobrinho, da Engevix.

"Além disso, a narrativa do Ministério Público não se atem aos fatos da delação, incluindo ilações sem qualquer respaldo probatório. As imputações apresentadas serão afastadas no curso do processo", afirmou a defesa.

As defesas do ex-presidente Michel Temer e do coronel Lima ainda não se manifestaram sobre a denúncia apresentada pelo MPF.