segunda-feira, 26 de outubro de 2020

ESTUDO APONTA CIDADES ONDE COMPRA DE VOTOS E AÇÃO DAS MILICIAS É MAIOR NO ESTADO DO RIO

Estudo aponta relação estreita entre milícias, prefeituras e Poder Legislativo

Documento ainda aponta articulações com igrejas evangélicas pentecostais

Um estudo da Rede Fluminense de Pesquisas sobre Violência, Segurança Pública e Direitos Humanos aponta para a articulação de milícias em prefeituras, câmaras de vereadores e igrejas evangélicas pentecostais.

O trabalho foi desenvolvido durante um ano e o resultado dos pesquisadores corrobora com outros dados divulgados nas últimas semanas, que mostram a influência dos milicianos em 57,5% do território da capital fluminense e de 670 colégios eleitorais do estado, que são considerados "currais eleitorais" devido a ação de grupos paramilitares.

A articulação com igrejas evangélicas, segundo o relatório, serve não só para legitimar as milícias localmente, mas também para a lavagem de dinheiro das atividades ilícitas e proximidade com políticos.

No estudo, são apontados os municípios com maior incidência da ação das milicias (em parceria com igrejas evangélicas) e a grande compra de votos registrada nas últimas eleições. Os municípios com maiores problemas são: Rio de Janeiro, São Gonçalo, Maricá, Duque de Caxias, Nova Iguaçu, Paracambi e Belford Roxo.

Os pesquisadores concluíram que os milicianos têm habilidade de transitar entre o legal e o ilegal, já que os criminosos fundam associações de moradores para mobilizar a Defensoria Pública da União e assegurar o acesso de habitantes de comunidades ao programa Minha Casa Minha Vida.

Para o promotor do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado, do Ministério Público do Rio, Fábio Correa é preciso priorizar o combate ao braço-financeiro da milícia.

O documento alerta ainda para as conexões entre milícia e polícia terem se tornado estruturais, com interferências em operações de segurança, como lembra Fábio Correa.

Depois de muitos anos de antagonismo, tráfico de drogas e milícia, agora atuam juntos e ganharam uma nova nomenclatura: a narcomilícia. Além de explorar todos os serviços de uma comunidade ou de um bairro, a milícia também passou a autorizar a venda de drogas, nesses locais.

Uma força-tarefa da Polícia Civil foi criada para tentar impedir essa expansão e a influência de milicianos e traficantes nas eleições. Dezenas de suspeitos de integrarem grupos paramilitares foram presos e mortos, desde o início do mês, em uma série de operações. Lojas que tem aparência lícita, como farmácias, mas que na verdade são usadas para lavagem de dinheiro do crime, também foram fechadas.