quinta-feira, 8 de outubro de 2020

Brasil supera 5 milhões de infectados pela Covid-19, cerca de 2% da população

 

Duzentos e vinte e cinco dias após seu primeiro registro no país, em São Paulo, a pandemia do coronavírus alcançou na quarta-feira (07/10), o patamar de 5 milhões de notificações no Brasil. Segundo o boletim das 20 h divulgado pelo consórcio de imprensa em 08/10, o Brasil tem 5.002.357 infectados e 148.304 mortos em decorrência da doença.

Um levantamento independente, no entanto, indica que a Covid-19 já atingiu 30 milhões de pessoas. Apesar das divergências nos cálculos e do problema da subnotificação dos casos, é consenso que o contágio está mudando de cara. Hoje, as ocorrências são menos graves, em parte porque os profissionais de saúde aprenderam o comportamento da doença.

Reitor da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), Pedro Hallal assegura que a pandemia já infectou seis vezes mais pessoas do que os números divulgados pelo Ministério da Saúde. Sua estimativa vem do levantamento EpiCovid-19, que coordena, e já realizou testes rápidos de coronavírus em 133 cidades dos 26 estados brasileiros, além do Distrito Federal.

As quatro primeiras fases da pesquisa já foram concluídas - as duas últimas, financiadas pela Fapesp e pelo próprio Ministério da Saúde, devem ser encerradas em novembro.

- Os testes rápidos são facilmente aplicáveis e permitem conhecer o panorama da doença nos dois meses anteriores a sua aplicação. Mas os casos mais antigos, especialmente de leve gravidade, não são identificados - pondera o epidemiologista. - Voltamos às cidades em cada fase do estudo e vemos como é complicado dizer se alguma chegou a imunidade de rebanho. Pensei que isso teria ocorrido em Manaus e Boa Vista, mas a média móvel de ocorrências voltou a aumentar nos meses seguintes. Então, não acredito que haja uma região do país com este tipo de proteção contra o vírus.

O perfil dos infectados, no entanto, está mudando. Na primeira fase, as principais vítimas eram da população economicamente ativa. Agora, segundo Hallal, são de "grupos etários extremos" - jovens e idosos que estão abandonando a quarentena. Ainda assim, desde o início da pandemia, pessoas de baixa renda são as mais vulneráveis à Covid-19.

- O Brasil e todo o planeta viverão uma segunda onda do coronavírus. É inevitável - explica. - A boa notícia é que a ciência evoluiu no manejo da doença. Sabemos, por exemplo, qual é o remédio mais adequado para cada fase do tratamento e o momento em que o paciente deve ser entubado. Meses atrás, não tínhamos conhecimento sobre a rápida queda dos anticorpos e a alta transmissão entre crianças. Também não conhecíamos o sintoma mais clássico da Covid-19, que é a perda do olfato e do paladar.

Hallal sugere que o país demoraria um ano e meio para dobrar o atual número de infectados - uma demonstração de que a taxa de contágio está diminuindo.

- Somos um carro de Fórmula 1 que segue andando, mas devagar. Até termos uma vacina, os números continuarão crescendo.

Doutor em Epidemiologia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Paulo Petry concorda que a subnotificação da pandemia é alta no país, mas os números oficiais têm sido cada vez mais fiéis à realidade, já que aumentaram a testagem e o número de instituições envolvidas na análise da Covid-19.

Petry também sublinha os avanços científicos, como a aplicação de medicamentos antivirais, entre eles o Remdesivir. Mas a pandemia ainda cresce, embora em ritmo inferior, amparada em um "novo público".

- Os jovens estão desrespeitando normas de distanciamento social e, agora, são os novos infectados. São vetores circulantes, ou seja, contraem o vírus e levam para casa, onde interagem com idosos ou pessoas que têm comorbidades, que são os responsáveis pelo maior número de internações.

Petry, portanto, considera que é "precipitado" reabrir as escolas, uma medida aventada em diversos estados, e que aumentaria a aglomeração nas ruas.

- O número de casos subiu rapidamente no país desde o início da pandemia e, agora, desce devagar. Mas não podemos nos acostumar com a quantidade de ocorrências registradas hoje, que continua muito elevada. Ainda temos um caminho a seguir.