A aprovação do ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, disparou nas últimas duas semanas pela condução da crise do coronavirus, aponta pesquisa do instituto Datafolha divulgada nesta sexta. Os dados apontam que 76% dos entrevistados apoiam a pasta, um salto em relação aos 55% registrados em 20 de março, data do último levantamento. Já a imagem do presidente Jair Bolsonaro tem se desgastado durante a pandemia: 39% dos entrevistados afirmam reprovar sua postura (no dia 20, eram 33%). Embora o resultado esteja dentro da margem de erro da pesquisa, de três pontos porcentuais para mais ou para menos, ele confirma uma tendência vista em outros levantamentos. Bolsonaro e Mandetta têm discordado sobre a melhor forma de conduzir as medidas sanitárias. O presidente, contrariando recomendações de órgãos internacionais e de seu próprio ministério, quer o fim das medidas de isolamento, com medo dos prejuízos que elas devem causar à economia. Em uma entrevista à rádio Jovem Pan, nesta quinta, ele afirmou que falta “humildade” ao ministro, que deveria ouvi-lo mais.
O Datafolha ouviu 1.511 pessoas de todo o país por telefone, entre quarta (01 de abril) e esta sexta (03). Os dados estão em consonância com outras duas pesquisas divulgadas também nesta sexta. Segundo a XP Investimento, 42% dos entrevistados avaliam como ruim ou péssima a atuação do presidente, contra os 36% que tinham esta opinião no início de março. Já a consultoria Atlas Político aponta que a rejeição a Bolsonaro passou de 57% para 60% entre o dia 26 de março e esta sexta, uma oscilação também dentro da margem de erro do instituto, de cinco pontos porcentuais para mais ou para menos.
Os levantamentos são divulgados em meio a uma crise entre Mandetta e Bolsonaro, que se agudiza a cada dia. O próprio presidente admitiu à Joven Pan que os dois têm se “bicado” há algum tempo. “Não pretendo demiti-lo no meio da guerra. Agora, em algum momento, ele extrapolou”, disse Bolsonaro. Ao ser questionado por jornalistas sobre a declaração, o ministro respondeu que “seguia trabalhando”. Nos bastidores, segundo os jornais locais, Mandetta afirma a aliados ter o desejo de deixar a pasta, mas aponta que não pedirá demissão. O incômodo de demiti-lo e ir contra a opinião pública teria que ser, portanto, do próprio presidente.
O principal ponto de discordância entre ambos é em relação ao isolamento. Enquanto Bolsonaro foi à TV criticar as medidas tomadas por parte dos governadores e prefeitos, que ordenaram o fechamento do comércio para incentivar o isolamento das pessoas, Mandetta repetiu em diversas coletivas que a ruptura de circulação é necessária e que ele segue critérios “técnicos” e não políticos. Para o ministro, o isolamento diminui a circulação do vírus e ajuda a evitar um colapso nas estruturas de saúde, que já sofrem com a falta de equipamentos de proteção antes mesmo do pico de casos, previsto para este mês. Após seu primeiro pronunciamento em rede nacional ter sofrido críticas em todos os setores da sociedade, incluindo o Congresso, ele diminuiu o tom em um segundo pronunciamento. No entanto, o presidente segue defendendo a volta das atividades no país, alardeando o aumento do desemprego. E tenta incendiar seus seguidores, especialmente nas redes sociais, porque afirma que apenas com o apoio do povo pode tomar medidas mais duras contra o isolamento. Também à Joven Pan, ele afirmou que avalia publicar um decreto na semana que vem para reduzir as medidas tomadas pelos Estados e municípios.
Base fiel
Apesar do desgaste neste período, o presidente ainda mantém uma base fiel. O Datafolha, assim como as outras duas pesquisas divulgadas nesta sexta, mostram que o apoio a Bolsonaro continua firme entre cerca de um terço dos entrevistados. No Datafolha, 33% aprovaram a postura do presidente diante da emergência sanitária —outros 25% têm avaliação regular de Bolsonaro. Na pesquisa do Atlas Político, divulgada nesta sexta, 32% aprovam a postura de Bolsonaro durante a crise do coronavírus. Na XP Investimentos, 28% conceituam como ótimo ou bom o Governo do presidente (27% a consideram regular).
Cerca de 50% responderam à XP que a economia está atualmente no caminho errado, um sentimento que o presidente tem explorado à exaustão para justificar a abertura da atividade econômica. Mas os dados apontam ainda que o medo de contrair coronavírus vem crescendo à medida que os dados de infectados e mortes no país crescem. Nestes dias de abril, 37% dos entrevistados se dizem com “muito medo” do surto que chegou ao Brasil. Em fevereiro esse porcentual era de 21%, e em março, 34%. Os dados mais recentes do ministério, divulgados nesta quinta, apontam a existência de 7.910 casos confirmados da doença, que já provocou 299 mortes. Há, entretanto, um gargalo na testagem, reconhecido pelo próprio Governo, que represa os dados.
O presidente Jair Bolsonaro decidiu demitir ainda nesta segunda-feira o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, em meio à crise do novo coronavírus. O ato oficial de exoneração de Mandetta está sendo preparado nesta tarde no Palácio do Planalto. A expectativa é que a decisão seja publicada em edição extra do Diário Oficial da União após reunião do presidente com todos os ministros, entre eles Mandetta, convocada para as 17h. A informação sobre a exoneração de Mandetta foi confirmada ao Globo por dois auxiliares do presidente da República.
O deputado federal Osmar Terra (MDB-RS), ex-ministro da Cidadania, é o mais cotado para substituí-lo. Ele almoçou com Bolsonaro e os quatro ministros que despacham do Palácio do Planalto nesta segunda.
BOLSONARO DEMITIRÁ MANDETTA NESTA SEGUNDA FEIRA 06/4
A ala militar do governo defende o nome da imunologista Nise Yamaguchi para assumir o Ministério da Saúde. A avaliação é de que o nome dela seria aceito pela população, que hoje admira Mandetta, já que Nise tem mais de 40 anos de experiência, é médica do Hospital Israelita Albert Einstein e atuou em diversas áreas da saúde no Brasil. Há uma tendência de que o nome dela não sofra rejeição pela bagagem de conhecimento e também por ser mulher. Nise defende o uso de cloroquina em pacientes infectados pelo novo coronavírus.
Em reunião com integrantes do Ministério Público nesta segunda-feira, o ministro da Saúde admitiu a dificuldade que encontra no cenário político e que não sabe "até quando ficará Ministro da Saúde". A reunião pode ter sido um dos últimos compromissos de Mandetta no cargo.
O diagnóstico entre auxiliares do presidente é que a permanência de Mandetta no cargo se tornou insustentável após uma série de críticas do presidente à sua atuação no enfrentamento à Covid-19. Ele foi acusado por Bolsonaro de falta de humildade, em entrevista na última quinta-feira, e contrariou o presidente ao defender o isolamento e o distanciamento social para combater a disseminação da Covid-19.
No domingo, Bolsonaro havia dito, sem citar nomes, que "algumas pessoas" do seu governo "de repente viraram estrelas e falam pelos cotovelos" e que ele não teria medo nem "pavor" de usar a caneta contra eles.
Mandetta vem negando que pediria demissão e disse que só sairia do governo por decisão do presidente. Na sexta-feira, após as críticas de Bolsonaro, afirmou que não iria "abandonar o paciente".
Terra, que é médico, manteve sua posição de apoio ao governo e pela flexibilização do isolamento, o que agradou Bolsonaro.
Na última quarta-feira, o presidente teve três audiências com a participação de Terra no Palácio do Planalto, a primeira com o ministro-chefe da Casa Civil, Walter Braga Netto, e as outras duas com dez médicos, para discutir o uso da hidroxicloriquina no tratamento de infectados com a Covid-19. Mandetta, por sua vez, não foi convidado para as reuniões com os médicos.
Também na semana passada, o ministro da Saúde chamou Terra de "Osmar Trevas" em um grupo de WhatsApp do DEM, seu partido, após o compartilhamento de uma notícia sobre a reunião com os médicos. Foi a única vez que ele se pronunciou no grupo da sigla em toda a crise.