terça-feira, 12 de maio de 2020

Corte de gastos da Petrobras ameaça até 45 mil empregos no setor de óleo e gás. Royalties serão afetados.

Freio da estatal por causa do coronavírus coloca em risco a operação de 300 fornecedores com a revisão de R$ 6 bi em contratos


Os cortes nos gastos que a Petrobras vem fazendo para preservar sua saúde financeira diante da crise gerada pelo coronavírus - que derrubou a demanda por combustíveis e os preços internacionais do petróleo - atingem contratos com grandes fornecedores, mas também ameaçam pequenas e médias empresas da cadeia de óleo e gás.

Com o freio na produção de petróleo e combustíveis, cerca de 300 prestadoras de serviços de manutenção temem não conseguir manter 45 mil empregos ligados a contratos com a estatal que somam R$ 6 bilhões, de acordo com dados da consultoria BrainMarket. Isso porque a estatal já sinalizou que pretende rever os contratos.

Se forem levados em conta trabalhadores que atuam em projetos novos, como as obras do Comperj, em Itaboraí, na Região Metropolitana do Rio, o total de empregos ameaçados com a retração das atividades da Petrobras chega a 50 mil.

No mês passado, a Justiça concedeu liminar suspendendo a decisão da empresa de redução de jornada de trabalho e salários, como uma das medidas para cortar custos com despesas de pessoal neste momento de crise.

A Petrobras já reduziu a produção de petróleo em 200 mil barris por dia, paralisou plataformas e campos terrestres, adiou investimentos e reduziu a menos de 60% a operação de refinarias em todo o país.

O cenário é preocupante principalmente para a economia do Estado do Rio, maior produtor de petróleo do país. O setor responde por cerca de 30% do PIB fluminense, de acordo com dados da Federação das Indústrias do Rio (Firjan).

- Até o momento a Petrobras apenas formalizou para cada contratada que a pandemia é um caso fortuito de força maior, e que estes impactos financeiros deverão ser suportados por cada uma das partes. As empresas não sabem o que fazer. Corremos o risco iminente de uma demissão em massa — diz Eduardo Aragon, diretor da BrainMarket.

Ele descreve um clima de insegurança entre as pequenas e médias empresas do setor.

- Nenhum órgão público sinalizou com alguma ajuda ao setor, que está buscando diálogo com a Petrobras. As demissões já começaram. Cada empresa está demitindo naqueles contratos que acha que não vão ser renovados. Essa insegurança é o que mata os empresários.

Ação reduzida no Comperj
Karine Fragoso, gerente de Petróleo e Gás da Firjan, acredita que, com a pandemia, todas as petroleiras vão tirar o pé do acelerador, não só a Petrobras. Isso, diz ela, vai afetar os empregos em toda a cadeia de fornecedores do setor:

- A economia do Rio é dependente do petróleo. Se o mercado de óleo e gás vai bem, o Rio vai bem. Mas temos que aproveitar a competência instalada no Rio.

No Comperj, que se tornou um dos símbolos do esquema de corrupção investigado pela Operação Lava-Jato, estão nos canteiros de obras apenas 30% dos seis mil operários contratados para a construção ali da Unidade de Processamento de Gás Natural (UPGN) e da malha de gasodutos da chamada Rota 3, que escoará gás natural dos campos do pré-sal da Bacia de Santos.

Pouco mais de quatro mil trabalhadores estão em férias coletivas. A Petrobras informou, em nota, que “paralisou temporariamente” as obras no Comperj atendendo a um ofício da Secretaria Municipal de Saúde de Itaboraí que solicitou a interrupção de 70% das atividades do empreendimento para ajudar na contenção do coronavírus.

Projetos paralisados
As empresas que atuam no projeto reduzido do Comperj têm se reunido com representantes da Prefeitura de Itaboraí e autoridades sanitárias para viabilizar a retomada gradual das obras. Paulo Cesar Quintanilha, presidente do Sintramon Itaboraí e São João da Barra, sindicato que representa trabalhadores das empresas de montagem e manutenção industrial da região, diz que os operários esperam demissões a partir deste mês:

— Se essa situação continuar por mais 15 dias vai ter demissão.

Rafael Lima, vice-presidente da Associação Brasileira de Engenharia Industrial (Abemi), diz que a paralisação dos projetos em andamento tem um impacto muito forte na cadeia de óleo e gás. Ele destaca ainda a perda de contratos futuros, já que muitas concorrências estão sendo adiadas no setor:

— Vamos sofrer muito. Efeitos começam a ser sentidos.

Solução negociada
Sobre seus contratos de serviços e manutenção, a Petrobras informou que vem acompanhando a evolução da pandemia no mundo e seu impacto no mercado de petróleo e combustíveis.

Em nota, a estatal afirmou que “dada a complexidade e a diversidade dos contratos de bens e serviços, qualquer impacto destas condições nos termos contratuais está sendo tratado individualmente com cada empresa”.

A Petrobras disse ainda que mantém contato permanente com os seus fornecedores “privilegiando sempre a busca de uma solução negociada”. Em relação à segurança dos trabalhadores em suas operações, a empresa diz seguir orientações da Organização Mundial da Saúde (OMS) e do Ministério da Saúde.