terça-feira, 26 de maio de 2020

Após OMS suspender estudos com cloroquina, Ministério da Saúde diz que manterá orientação

Durante coletiva de imprensa, secretária da pasta criticou estudo da organização internacional e disse que não serve como base para recuo



A secretária de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde do Ministério da Saúde, Mayra Pinheiro, afirmou nesta segunda-feira, que a pasta não modificará sua orientação sobre cloroquina por conta decisão da Organização Mundial de Saúde (OMS) de suspender estudos com a substância.

— Estamos muito tranquilos a despeito de qualquer entidade internacional cancelar seus estudos com a medicação. Seguimos no ministério da saúde, na secretarias especializadas acompanhando todos os estudos no mundo —  disse Mayra.

Segundo ela, o Ministério da Saúde tem um banco de informações com 216 protocolos sobre as substâncias utilizados ao redor do mundo. A secretária criticou o estudo da OMS e disse que ele não serve como base para levar a um recuo da orientação do ministério. Um grupo internacional articulado pela organização conduzia uma  pesquisa que foi suspensa após estudo com 96 mil pessoas mostrar ineficácia das substâncias e risco de arritmia cardíaca.

— Não se trata de um ensaio clínico, é apenas um banco de dados coletado de vários países e isso não entra no critério de um estudo metodologicamente aceitável para servir de referência para nenhum país do mundo e nem para o Brasil — argumentou Mayra.— Nesses estudos, a forma de seleção dos pacientes onde não havia dose padrão, uma duração padrão, uma medicação padrão para que possa ser considerado ensaio clínico nos faz refutar qualquer possibilidade de citá-lo como referência para o Brasil recuar na sua orientação de respeitar a autonomia médica.

A secretária afirmou que a decisão do órgão em orientar o uso precoce da medicação vai na direção de respeitar a autonomia médica, uma vez que o Conselho Federal de Medicina editou resolução autorizando a prescrição da droga desde a fase inicial da doença. Mayra disse ainda que o Ministério tem recebido informações de diversos grupos, como a Unimed e Prevent Sênior, sobre a eficácia da cloroquina no tratamento de pacientes com covid-19. No total, segundo a secretária, o Ministério tem acompanhado dados de 40 mil pacientes.

— Se constatarmos que não haja de fato comprovação podemos recuar da nossa nota.  Até o momento temos muita segurança — afirmou.

O secretário executivo, Élcio Franco, justificou que o país já tem experiência na administração de cloroquina para "várias viroses".

— Meu filho, por exemplo, pegou malária esse ano e tomou cloroquina. Eu participei de uma missão em Angola em 1996 e tomei a mefloquina que tem o mesmo princípio durante seis meses ininterruptos, diariamente.

Hospitais de campanha
Os representantes do Ministério da Saúde também anunciaram orientações para a construção de hospitais de campanha, que devem ser administrados pelos estados. De acordo com a diretriz, esses hospitais devem atender pacientes de baixa e média complexidade. Estados e municípios devem considerar construí-los diante da falta de leitos públicos e particulares para atender os pacientes.

Além de leitos clínicos, os hospitais de campanha poderão funcionar como unidades de suporte ventilatório pulmonar, ou seja, para auxiliar pacientes com piora no quadro respiratório e tentar reverter os danos antes que necessitem de um leito de UTI. O ministério repassará aos estados e municípios uma quantia de R$ 43 mil por leito para financiar 90 dias de internação. A reportagem questionou quantas vagas o Ministério financiará e o secretário executivo informou que não há um número limite.