sábado, 21 de janeiro de 2017

Temer diz que só indicará substituto de Teori após escolha do novo relator da Lava-Jato

Temer diz que só indicará substituto de Teori após escolha do novo relator da Lava-Jato


O presidente Michel Temer disse neste sábado que só vai indicar o nome do novo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) depois que a Corte escolher quem será o novo relator dos processos da Operação Lava-Jato. A declaração foi dada em Porto Alegre, onde Temer acompanhou o velório do ministro Teori Zavascki.


A declaração de Temer demostra que o presidente não concorda que o substituto de Teori deva assumir o comando dos processos da Lava-Jato, uma das possibilidades levantadas pelo regimento do STF. A proposta levantada por Temer é de que o Supremo faça um sorteio entre os ministros para redistribuir os processos que estavam sob responsabilidade de Teori.
- Só vou indicar (o novo ministro) após indicação do relator.
Ao falar sobre o ministro, morto quinta-feira em um acidente áereo em Paraty, Temer declarou que ele é um "exemplo a ser seguido":
- Teori era um homem de bem, e o que o Brasil precisa cada vez mais é de homens com a competência pessoal, moral e profissional do ministro Teori.
Questionado sobre alguma preferência na sucessão de Teori, o ministro das relações exteriores, José Serra, disse que isso é responsabilidade de Temer. Ele também lamentou a perda:
- Sinônimo de equilíbrio, preparo e isenção. Uma perda imensa, um capricho do destino que nos deixa consternados.

O presidente chegou no início da tarde no Tribunal Regional Federal da 4ª Regiao, em Porto Alegre, onde acontece o velório do corpo do ministro do STF. Ele estava acompanhado dos ministros da Justiça, Alexandre de Moraes, e do Desenvolvimento Social, Osmar Terra, e dos governadores Geraldo Alckmin, de São Paulo, e Ivo Sartori, do Rio Grande do Sul.




O ministro do Superior Tribunal de Justiça (STJ) Paulo de Tarso Sanseverino afirmou que a relatoria dos processos deveria ficar com um ministro que já compõe o Supremo. Ele também defendeu que a ministra Cármen Lúcia, presidente do STF, faça a homologação da delação da Odebrecht, que já estava sendo encaminhada pela equipe de Teori.
— Acho que não se deve deixar a relatoria para o ministro que for assumir. Seria uma situação política extremamente delicada. Vários senadores estão sendo investigados na Lava-Jato. Isso criaria uma situação embaraçosa politicamente, com as pessoas que vão ser julgadas — disse Sanseverino.
Muito emocionado, o ministro Dias Toffoli lamentou a morte do ministro, a quem descreveu como um amigo pessoal. Questionado sobre o futuro da análise dos processos da Operação Lava-Jato, Dias Toffoli respondeu apenas que "não é momento de se conversar sobre isso".
- Pudemos desfrutar da amizade dele. É uma perda pessoal que nos abala. Estamos ainda sofrendo muito com essa passagem - afirmou o ministro, com a voz levemente embargada. - É uma perda para a nação brasileira. A serenidade, a simplicidade a humildade dele marcarão para sempre a Justiça brasileira.




O juiz federal Sérgio Moro, responsável por julgar os processos da Lava-Jato na primeira instância, foi uma das primeiras autoridades do meio jurídico a chegar ao velório. Em breve declaração à imprensa, Moro disse que Teori foi um 'verdadeiro herói".
- Pela relevância, importância dos serviços que ele prestava, pela situação difícil desses processos, ele foi um verdadeiro herói. Há uma grande desolação da magistratura - declarou Moro.
Amigo de Teori há mais de 40 anos, o ex-presidente do Grêmio e ex-deputado estadual Paulo Odone disse que o ministro não dava importância a ameaças, recebidas principalmente por meio de redes sociais, e trabalhava nos processos da Lava-Jato mesmo durante uma viagem à praia, na semana passada.
— O que ele disse que teve de pressão foram os radicalismos das redes sociais, principalmente quando deu despacho em relação ao Lula (o ministro anulou a validade de escutas telefônicas entre os ex-presidentes Lula e Dilma), em relação ao impeachment. Fizeram ameaças pela rede social, protesto na frente do edifício dele aqui em Porto Alegre. Fizeram ameaças de morte, coisa assim, contra filhos, a ele. Mas isso passou também — disse Odone.
O sepultamento do corpo do ministro do STF está marcado para as 18h no Cemitério Jardim da Paz, também na capital gaúcha.