Estatal confirmou a renúncia da presidente na manhã desta quarta-feira
Investidores enxergam nova estratégia com saída de Foster
Especialista diz que nova diretoria terá mais espaço de manobra
(BAND)
Mesmo antes de ser oficializada nesta quarta-feira, a saída de Graça Foster da presidência da Petrobras já trazia reações positivas ao mercado. Ontem, as ações da estatal fecharam com alta de mais de 15% na Bovespa.
Para o e economista da Troster Associados e doutor em economia pela USP (Universidade de São Paulo), Roberto Luís Troster, o ânimo dos investidores se dá mais por causa da vinda de um novo executivo do que a saída de Graça Foster particularmente. E isso porque um novo gestor representa uma nova estratégia à companhia.
A nova diretoria, segundo análise de Troster, terá mais espaço de manobra nesse momento em que a estatal está paralisada diante das denúncias da operação Lava Jato.
Ele destaca, no entanto, que a variação do preço das ações só deve ocorrer de maneira mais uniforme após o anúncio dos nomes de quem vai compor a nova diretoria da empresa.
Segundo comunicado oficial da Petrobras, o Conselho de Administração da estatal vai se reunir na próxima sexta-feira para eleger a nova diretoria.
Renúncia
A empresa oficializou a saída de Graça Foster da presidência na manhã desta quarta-feira. Segundo o comunicado, a ela renunciou ao cargo. E, além de Graça, outros cinco diretores também estão deixando o cargo.
O governo federal já estaria sondando possíveis substitutos para o cargo. Estariam na lista para assumir a vaga Rodolfo Landim, ex-sócio de Eike Batista que já atuou pela Eletrobras e BR Distribuidora; e Roger Agnelli, que comandou a Vale por uma década.
RELEMBRE A TRAJETÓRIA DE GRAÇA FOSTER
Graça Foster deixa a presidência da Petrobras quase três anos após assumir o cargo. Formada em Engenharia Química, ela começou como estagiária e está na empresa há 35 anos.
A agora ex-presidente da petrolífera ainda estudava na Universidade Federal Fluminense quando, aos 24 anos, foi contratada para atuar no setor de lubrificantes, aditivos e graxas. Depois de efetivada, ela se tornou engenheira de perfuração da estatal.
Entre 2003 e 2005, Graça Foster foi secretária de Petróleo e Gás do Ministério de Minas e Energia - então comandado pela presidente Dilma Rousseff (PT). E dois anos mais tarde, em 2007, se tornou a primeira mulher a assumir um cargo de diretoria na empresa.
A executiva comandou o setor de Gás e Energia até 2012, quando foi indicada pela presidente Dilma para assumir a presidência da empresa no lugar de José Sérgio Gabrielli.
No discurso de posse, ela destacou que aquele se tratava de um momento histórico:
"A Petrobras e eu, nós duas, crescemos juntas. Nós temos praticamente a mesma idade. Sinto que vocês sentem a forte emoção que invade a minha alma nesse dia tão especial da minha vida. Assumir a presidência da Petrobras, uma funcionária de carreira, uma mulher, a primeira mulher no mundo a comandar uma empresa de petróleo deste porte", disse na época.
Graça Foster nasceu em Caratinga, no interior de Minas Gerais. Mudou para o Rio de Janeiro quando tinha dois anos. Ela e a família moravam em uma favela que hoje faz parte do Complexo do Alemão, na zona norte da capital fluminense.
Chegou a trabalhar como catadora de papéis para ajudar a família a pagar as contas de casa.
Lava Jato
A confiança dos investidores na gestão de Graça Foster começou a cair a partir da operação Lava Jato da Polícia Federal, que investiga um esquema bilionário de corrupção e lavagem de dinheiro na estatal.
As primeiras acusações, embora atingissem outros membros da cúpula da empresa, não envolviam Graça Foster. Ela dizia não saber das propinas que eram pagas para fechar contratos.
Em um dos casos, a Petrobras teve prejuízo de mais de R$ 1 bilhão na compra de uma refinaria em Pasadena, nos Estados Unidos. A presidente da companhia primeiro defendeu que a aquisição era um bom negócio, mas depois voltou atrás.
Em dezembro, a ex-gerente da Petrobras Venina Velosa da Fonseca veio a público dizer que vinha alertando Graça Foster sobre os crimes cometidos na empresa há pelo menos seis anos.
A funcionária trabalhava na área de Abastecimento, comandada pelo então diretor Paulo Roberto Costa, e foi transferida para a Ásia em 2009, depois de fazer as denúncias.
As ações da estatal, que chegaram a custar R$ 22 em outubro do ano passado, despencaram com o andamento das investigações e hoje valem menos da metade, cerca de R$ 10.