sábado, 7 de fevereiro de 2015

DILMA DÁ CARTA BRANCA PARA NOVO PRESIDENTE DA PETROBRÁS QUE JÁ ESTÁ SENDO INVESTIGADO

Novo presidente assume com carta branca de Dilma para aumentar controle financeiro da estatal

Com poucas horas no cargo, Aldemir Bendine traçou um plano para blindar a estatal do maior escândalo de corrupção do país

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BRASÍLIA - Com poucas horas no cargo, o novo presidente da Petrobras, Aldemir Bendine, traçou um plano para blindar a estatal do maior escândalo de corrupção do país. São três metas, segundo o novo presidente informou a fontes ouvidas pelo GLOBO. A missão mais urgente é resolver a questão contábil, que levou a empresa a não ter seu balanço financeiro auditado pela consultoria PricewaterhouseCoopers (PwC). Bendine deve passar o fim de semana lendo 800 páginas sobre as metodologias utilizadas na empresa para começar a ter noção do trabalho que tem de ser feito. E já avisou a alguns funcionários que urgência não significa trabalho malfeito.
Para isso, será feita uma avaliação de perdas e alguns testes de retorno financeiros sobre vários ativos. A nova diretoria ainda pretende fortalecer a área financeira com um novo plano de negócios. O terceiro objetivo é fazer com que a petrolífera atravesse a investigação da Operação Lava-Jato com o mínimo de danos. Bendine recebeu carta branca da presidente Dilma Rousseff para fazer o que for preciso, até reformar o estatuto da Petrobras.
As tarefas mais árduas já foram repassadas a Ivan Monteiro, o novo diretor financeiro, segundo fontes do setor. O técnico era até ontem o vice-presidente de Finanças do Banco do Brasil, e subordinado a Bendine na instituição. A primeira avaliação do técnico foi que é preciso criar um processo financeiro mais confiável, como o que teria feito no BB. A primeira ação é resolver a questão do balanço, já que isso influencia diretamente na imagem da estatal no mercado financeiro. A divulgação das perdas de R$ 88 bilhões com corrupção na semana passada foi considerada uma “barbeiragem” pelo governo, que alega que a avaliação não seguiu a melhor metodologia para o cálculo.
Em segundo lugar, o objetivo é fortalecer a área financeira. Para isso, Monteiro — considerado pelo mercado um dos melhores na área — deve analisar a situação de caixa e promover novas captações para resolver problemas mais urgentes. A intenção é fazer um “novo mix” nas finanças da instituição. A nova diretoria quer rediscutir papéis dentro do corpo técnico. E, depois disso, criar um novo plano de negócios, de investimentos e de capital.
A terceira missão é enfrentar a Lava-Jato, mas a avaliação do novo presidente é que a empresa tem tratado a investigação com transparência e colaborado com a PF e o Ministério Público.
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Antes da reunião de ontem do conselho da Petrobras, Graça Foster, que renunciou ao cargo de presidente da empresa dois dias antes, conversou com Bendine e se colocou à disposição para colaborar numa transição mais tranquila. Segundo funcionários da estatal, Graça está abalada emocionalmente com o escândalo e com a forma que a levou a sair da empresa, na renúncia coletiva da diretoria.
Bendine não participou da primeira parte da reunião do conselho da estatal e só entrou na sala após ter o nome aprovado. Enquanto o ex-ministro da Fazenda e ainda atual presidente do colegiado, Guido Mantega, conduzia a reunião que votava sua escolha, Bendine aguardava em uma sala ao lado. Segundo participantes, os acionistas minoritários se incomodaram quando souberam que o nome de Bendine havia sido veiculado pela imprensa como o novo presidente mesmo antes da votação.
Bendine foi convidado para o posto na quarta-feira, quando Dilma o chamou para uma conversa e apresentou a missão. No encontro, ela teria dado autonomia total para o executivo.