Sem consenso sobre Lula, PT busca sucessor do presidente Rui Falcão
Legenda escolherá novo presidente no primeiro semestre do ano que vem.
Atual presidente do partido, Rui Falcão defende que Lula assuma função.
Com a decisão de antecipar as eleições internas, o PT passou a buscar um substituto para o atual presidente, Rui Falcão, e, conforme relatos de dirigentes de quatro correntes internas do partido ouvidos pelo G1, ainda não há consenso sobre se o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva deveria assumir a função.
No último dia 5, após reunião da Comissão Executiva Nacional, Falcão disse a jornalistas que, em setembro, o partido decidiu antecipar do segundo para o primeiro semestre do ano que vem a escolha da nova direção.
Um grupo contrário à presidência de Rui Falcão chegou a marcar, para a noite desta segunda-feira (17), um ato na sede do PT em Brasília para pedir a troca no comando do partido.
Falcão, diz sua assessoria, defende que Lula assuma o comando do PT por considerar que o ex-presidente é uma "unanimidade" na sigla.
Segundo apurou o G1, o atual presidente tem tentado convencer Lula a se tornar presidente do partido, mas o ex-presidente teria mostrado resistência à ideia.
Atualmente, Lula é réu em três processos na Justiça – no Distrito Federal e no Paraná – e é alvo de inquéritos no Supremo Tribunal Federal. O petista é acusado, por exemplo, de tentar obstruir as investigações da Operação Lava Jato e de ter envolvimento em fraudes em contratos do BNDES para execução de obras em Angola. O ex-presidente nega todas as acusações.
Avaliações
Um dos cinco vice-presidentes do PT, o deputado Paulo Teixeira (SP), da corrente Mensagem ao Partido, por exemplo, avalia que as investigações sobre Lula não são um "impeditivo" para que o ex-presidente assuma o comando do PT.
Ao G1, ele disse, porém, acreditar que a legenda precisa passar por um processo de "refundação", envolvendo a troca no comando da cúpula e a "atualização da agenda".
"Eu acho que esses aspectos [processos] não são impeditivos. Ele [Lula] tem toda condição de assumir o PT, mas, talvez, seja melhor para o próprio Lula ficar solto para desempenhar suas tarefas políticas. Esse negócio das acusações contra ele são, na verdade, uma narrativa política e, por isso, acho que não são impeditivas. Mas é preciso buscar um nome que renove e unifique o partido", afirmou o deputado.
Na mesma linha, o deputado José Guimarães (CE), também vice-presidente do PT, da corrente Construindo um Novo Brasil (CNB), afirma que a legenda precisa passar por uma "renovação geral, ampla e irrestrita" porque, em sua avaliação, o partido "envelheceu".
Embora ele diga que Lula tenha "todas as condições" para assumir o posto de presidente do PT a partir de 2017, acrescenta que há outros nomes para a função, como o do ex-ministro da Casa Civil e ex-governador da Bahia Jaques Wagner.
"Se o Lula quiser [assumir como presidente do PT], ele tem todas as condições, mas acho que há outros nomes. Claro que, se ele desejar, se ele avaliar que vai ser bom para o partido, tudo bem, não tenho objeção nenhuma. Mas há outros nomes e o Lula será sempre o Lula. Mas eu prefiro a renovação. Que tal apostarmos em outros nomes? O Jaques Wagner está aí, por exemplo", declarou Guimarães ao G1.
'Melhor presidente da história'
Ligado à corrente Democracia Socialista, o atual líder do PT na Câmara, Afonso Florence (BA), avalia que o ex-presidente Lula tem "totais condições" de assumir oficialmente o comando do partido por ter sido "o melhor presidente da história" do país.
O parlamentar baiano, entretanto, diz que o "tema central" do partido deve ser a "renovação" em 2017 porque, além da escolha do novo presidente, a legenda precisa identificar os desafios que o novo presidente terá nos próximos anos.
"Ele [Lula] pode assumir todos os cargos em que isso for possível, ele foi o melhor presidente da história. Mas o tema central é: quais são as tarefas do momento? O PT precisa ver é isso. O PT precisa viver um momento de atualizar seu programa, atualizar sua agenda para o país, se renovar", disse o líder.
Discurso 'raso'
Ex-presidente da Câmara e integrante da corrente Movimento PT, o deputado Arlindo Chinaglia (SP) avaliou, sem citar nomes, que o discurso sobre uma possível renovação do partido é "raso" porque, diz, "os problemas do PT não vão se resolver só com a mudança de direção."
Ao G1, Chinaglia acrescentou ainda ter "seriíssimas dúvidas" sobre a tese de renovação, porque, "para assumir esse discurso, o PT precisa, antes, olhar para si e dizer que os velhos quadros não servem mais".
"Eu não estou defendendo o nome dele [Lula] ao dizer isso, mas a pergunta que o PT deve se fazer é: 'Se o Lula assumir, qual o peso que ele dará ao PT?'. Quando alguém fala que o Lula, se quiser, pode assumir, mas não deve, está querendo encontrar uma forma de dar um tapa e esconder a mão. Parece um debate que ainda está verde", concluiu.