Lula diz que não tem que provar que tem apartamento
Ex-presidente é acusado de tentar obstruir a Operação Lava Jato
Após ter virado réu na Justiça por suspeita de tentar obstruir as investigações da Operação Lava Jato, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou na tarde desta sexta-feira, durante evento em São Paulo, que tomou conhecimento da denúncia por meio da imprensa, mas que não sabe detalhes da acusação.
O ex-presidente limitou-se a comentar as suspeitas de que ele teria cometido ocultação de patrimônio. "Eu já cansei, eu não tenho que provar que tenho apartamento, quem tem que provar é a imprensa que acusa. O Ministério Público que fala o que eu tenho, a Polícia Federal que falou o que eu tenho, eles que têm que apresentar documento de compra, pagamento de prestação, algum contrato assinado. E se não tiver, eles terão que me dar de presente um apartamento e uma chácara, aí eu ganharei de graça essas coisas que eles falam que eu tenho", disse.
Lula tornou-se réu na tarde desta sexta 29 de julho, quando o juiz Ricardo Leite, da Justiça Federal do Distrito Federal, aceitou denúncia contra o ex-presidente, o ex-senador Delcídio Amaral e outros cinco investigados, todos acusados pelo Ministério Público de tentar obstruir a Operação Lava Jato.
Segundo o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, Lula teria participado de uma trama para comprar o silêncio do ex-diretor da área Internacional da Petrobras Nestor Cerveró. Ontem, Lula encaminhou ao Comitê de Direitos Humanos da ONU uma denúncia contra o Estado brasileiro para tentar barrar ações que considera "abuso de poder" do juiz Sérgio Moro e dos procuradores da Operação Lava Jato. O órgão, no entanto, não tem como punir o Brasil nem impedir uma prisão.
Pode apenas fazer recomendações e, eventualmente, indicar se um juiz atua com parcialidade, sem qualquer implicação legal imediata. Mas uma avaliação da entidade poderia pesar e criar pressão a favor ou contra o ex-presidente.
Impeachment
Lula afirmou ainda que o Brasil passou por um golpe parlamentar. Para ele, a admissibilidade do processo de impeachment da presidente afastada, Dilma Rousseff, foi, na verdade, um gesto de vingança política dos deputados e senadores que votaram contra a petista.
"Os deputados e senadores que votaram pela admissibilidade do processo de impeachment de Dilma (Rousseff) carregarão na sua consciência, pelo resto da vida, o fato de terem votado de forma irresponsável, rasgando a constituição, contra uma mulher que não tem contra ela nenhum crime de responsabilidade", disse o ex-presidente.
Lula também criticou as homenagens que os deputados fizeram a seus familiares no dia da votação da admissibilidade do processo na Câmara. "Essa gente não pensa na família, querem tirar do governo um partido que, com todos os defeitos que tenha tido, é o partido que poderia ter a historia mais longeva de governar esse país, que fez em apenas 13 anos o maior processo de inclusão social, sem dar um único tiro, apenas exercendo a democracia e a participação popular", afirmou.