O ex-ministro Antonio Palocci sinalizou ao juiz Sérgio Moro que pode municiar a Lava-Jato com novas informações capazes de "dar mais um ano de trabalho". Depois de afirmar em audiência que sabia da existência de caixa 2, mas que nunca operou ou organizou pagamentos de caixa 2, o ex-ministro disse:
— Apresento todos os fatos com nomes, endereços e operações realizadas. Posso lhe dar um caminho que vai lhe dar mais um ano de trabalho, que faz bem ao Brasil — disse Palocci, afirmando que falaria sobre "nomes e situações" que optou por não falar na audiência.
Durante a audiência, Palocci falou sobre a atuação de um banqueiro, “personalidade do mundo financeiro” que atuaria como arrecadador de campanha. O ex-ministro não citou nomes durante a audiência.
A ação de nomes do mercado financeiro no financiamento de campanhas é uma das possibilidades apontadas para uma possível delação premiada do ex-ministro da Fazenda, que foi o principal interlocutor do governo Lula com o setor privado durante vários anos.
Ao comentar sobre a planilha especial Italiano, que o empresário Marcelo Odebrecht afirma ser uma conta-corrente, Palocci negou ter orientado, organizado pagamentos ou operado caixa 2 com o empresário.
Palocci disse ainda que nunca pediu nem recebeu doações partidárias da Odebrecht como contrapartida por projetos que a empresa tinha com o governo federal e negou que tenha determinado pagamentos aos marqueteiros João Santana e Mônica Moura no exterior. Mônica afirmou que era Palocci quem determinava os pagamentos.
O ex-ministro admitiu, porém, que havia episódios em que as empresas procuravam políticos prometendo doações caso seus interesses fossem atendidos. Ele cita como exemplo a votação da medida provisória 460, de 2009, que previa mudanças na cobrança de tributos para incorporadoras.
— Não preciso dizer o quanto se falava no Congresso sobre contrapartidas para a MP 460. Era uma coisa... Aconteceu intensamente, mas jamais recebi ou ofereci da Odebrecht qualquer contrapartida — afirmou Palocci.
Ao longo do depoimento, Palocci se lembrou de uma visita que recebeu do então presidente da Odebrecht, Marcelo Odebrecht, a quem descreveu como “insistente” ao defender seus interesses econômicos. Segundo a versão do ex-ministro, Marcelo teria dito que foi procurado por um petista, que pedira uma doação como contrapartida pela liberação de um projeto de submarino que era de interesse da Odebrecht.
— Ele (Marcelo) me pediu para ajudar a tirar esse assunto da mesa. Faço isso porque sou absolutamente contra qualquer vinculação a projeto — disse Palocci. — Eles jamais me pediram uma contrapartida e jamais dei margem que eles pensassem que era possível.
Moro quis saber que petista havia feito o pedido a Marcelo. Palocci respondeu que não saberia indicar um nome, mas que, na época, a única pessoa que solicitava doações em nome do partido era o ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto.
PAGAMENTOS NO EXTERIOR
Ao responder a uma pergunta de seu advogado, Antonio Palocci afirmou que nunca autorizou pagamentos a fornecedores da campanha de Dilma Rousseff no exterior
— Jamais, absolutamente não — disse Palocci. — Se aplica a João Santana, Mônica Moura. Nunca tratei de onde seria pago ninguém, onde pagar alguém.
Segundo ele, quem decidia como pagar eram empresa e o recebedor. Perguntado se solicitou, interferiu ou defendeu interesse da Odebrecht ou da Sete Brasil na questão das sondas, o ex-ministro foi afirmativo.
— Eu digo não. Absolutamente não.
Palocci disse ainda que nunca atuou em favor da empresa para que fosse facilitada a liberação de créditos no BNDES.
— Jamais fui ao BNDES buscar linha de crédito para qualquer empresa, não digo só a Odebrecht.
A exceção, segundo o ex-ministro, só deu em casos de empresas que estavam ameaçadas de falência.
— Aí, sim, discutíamos com as empresas e o BNDES a possibilidade de salvamento.Essa nunca foi a situação da Odebrecht.