segunda-feira, 5 de agosto de 2013

Quaquá decide cancelar contrato de R$ 2,1 milhões com empresa de segurança

Após denúncia do GLOBO, prefeito de Maricá desiste de pagar proteção pessoal com dinheiro público

Ofício será entregue ao governador Sérgio Cabral para solicitar escolta de PMs

Foto: Marcelo Carnaval / Agência O Globo

RIO — O prefeito de Maricá, Washington Quaquá, do PT, decidiu nesta segunda-feira cancelar o contrato de R$ 2,1 milhões com a Guepardo Vigilância e Segurança Empresarial Ltda para fornecer segurança particular a ele, à família e ao vice-prefeito, professor Marcos Ribeiro, também do PT. Pelo contrato, a empresa disponibilizaria 24 homens armados. A informação foi confirmada por Quaquá cinco dias depois de O GLOBO revelar a contratação, por licitação, da Guepardo pela prefeitura. O ato será publicado no Diário Oficial do município nesta quarta-feira.
Na semana passada, o Secretário-geral do PT e candidato a presidente nacional do partido, o deputado Paulo Teixeira (SP), cobrou que o diretório regional do Rio investigue se o prefeito de Maricá estaria usando a máquina da prefeitura para comprar votos e se eleger presidente estadual do partido, em novembro. Conforme revelou O GLOBO, Quaquá nomeou, desde abril, 78 filiados do PT de fora da cidade para cargos de confiança em sua administração, além de 54 petistas do próprio município, segundo cruzamento feito entre o Jornal Oficial de Maricá e os registros de filiação partidária do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
Ainda nesta segunda-feira, Washington Quaquá enviará um ofício ao governador do Rio, Sérgio Cabral, e à Secretaria Estadual de Segurança Pública pedindo proteção da Polícia Militar. O prefeito, no entanto, deixará a PM definir o número de policiais a ser fornecido. Um das justificativas de Quaquá para contratar os seguranças era justamente porque o governo estadual não havia atendido ao seu pedido, em 2008, logo após ser eleito para o primeiro mandato. O petista alegava ter recebido ameaças de morte.
— Diante da repercussão da reportagem, a Secretaria de Segurança deu a entender que eu não formalizei o pedido de segurança. Então, estou formalizando agora, mesmo já tendo feito isso em 2008. E, consequentemente, vou cancelar o contrato com a empresa. Enviei uma carta ao governador Cabral explicando a situação — disse Quaquá ao GLOBO.
Na semana passada, a Secretaria de Segurança Pública confirmou que Quaquá solicitou os PMs. Mas argumentou que o prefeito não fora atendido porque não registrou as supostas ameaças na delegacia, procedimento exigido pelo governo do estado. O dinheiro público repassado à Guepardo, que tem sede em Niterói, na Região Metropolitana, bancaria a segurança de Quaquá durante 24 horas por dia. Por mês, o município iria desembolsar cerca de R$ 173 mil para evitar que o prefeito de Maricá fosse vítima de qualquer ataque.
Agora, sem os seguranças particulares, Quaquá diz que recorrerá a “amigos policiais” protegê-lo até o estado decidir se fornece ou não ao prefeito os policiais militares.
— Meus amigos policiais vão ajudar, por enquanto. Mas, vou ficar descoberto — avisa Quaquá.
Na Ordem de Paralisação do serviço, assinada pelo chefe de gabinete de Quaquá, Kleber Ottero, nesta segunda-feira, a justificativa para o cancelamento do contrato com a Guepardo considera, entre outras coisas, “a necessidade de avaliar o equilíbrio econômico financeiro da execução orçamentária de 2013” e “a queda e a frustração na arrecadação dos últimos meses”
Um dos sócios da Guepardo, Cristiano Lobo, diz ter sido pego de surpresa com a decisão de Quaquá.
— Vou ligar para ele (Quaquá) e saber o que realmente houve. Não estou sabendo de nada. Mas, claro, fico surpreso porque participei de uma licitação. Não fui convidado. Participei de uma licitação com outras empresas. Primeiro, quero saber o que aconteceu para, depois, ver se entro ou não na Justiça — disse Lobo.
Depois da reportagem do GLOBO, Quaquá reagiu. O prefeito atribuiu à denúncia a um fogo amigo dentro do próprio PT do Rio. Segundo ele, há interessados dentro da legenda em boicotar sua candidatura à presidência regional da sigla, em novembro. Do grupo, citou apenas o nome do vice-presidente nacional do PT, Alberto Cantalice.
— Essas denúncias têm uma origem: é do PT. É a disputa interna. Um grupo de burocratas do PT do Rio que tem se incomodado pelo fato de eu ser candidato à presidência estadual do PT — disse Quaquá, na última quinta-feira.
No PT, Quaquá integra a corrente Construindo um Novo Brasil (CNB). Disputa poder com a deputada federal Benedita da Silva, que também é candidata à presidência do diretório regional e tem a simpatia do senador Lindbergh Farias, pré-candidato ao governo do Rio em 2014. Cantalice faz parte da CNB e apoia Benedita. O atual presidente, Jorge Florêncio, é o outro candidato, mas pertence a mesma corrente.

O GLOBO ON LINE segunda 05 de agosto de 2013.