quarta-feira, 24 de julho de 2013

Papa promete voltar a Aparecida em 2017

Após missa, Francisco discursou para fiéis no lado externo da Basílica

Ao discursar para os fiéis do lado externo da Basílica de Aparecida, o papa Francisco prometeu retornar ao Santuário Nacional em 2017. “Vou voltar”, disse.
Antes, ele disse que não sabia falar “brasileiro”; por isso, fez seu pronunciamento em espanhol.
Francisco questionou os fiéis se uma mãe se esquece dos filhos, em referência à Nossa Senhora. Ouviu um sonoro “não” como resposta dos peregrinos. Ele completou dizendo que “ela nos quer e nos cuida”.
O papa, antes de fazer a benção final, pediu para que os fiéis rezassem por ele. “Necessito”.

Homilia
Em sua homilia na missa em Aparecida, nesta quarta-feira, o papa Francisco disse que os católicos não podem pensar no pior. "Cristão não pode ser pessimista, ter uma cara de constante estado de luto", falou. Para o papa, essa é uma das três posturas que os seguidores da religião devem ter. Além de viver na alegria, as outras são conservar a esperança e deixar se surpreender por Deus.
Sobre a alegria, Francisco ainda apontou que os católicos não podem deixar de ser testemunhas dela. "Jesus nos mostrou que a face de Deus é a de um pai que nos ama”.
A segunda postura, deixar se surpreender por Deus, estaria ligada à atuação do divino. “Deus sempre surpreende, nos reserva o melhor, mas que nos deixe surpreender por seu amor, suas surpresas”, argumenta Francisco. "Se permanecemos com ele, aquilo que é dificuldade e pecado se transforma em vinho novo na amizade com ele".
A respeito da esperança, o papa apontou aos peregrinos que "Deus caminha ao seu lado, nunca lhes deixa desemparados, nunca deixa que a esperança se apague no coração", fala o papa.

Para os jovens, motivo da JMJ (Jornada Mundial da Juventude), o pontífice relata que dinheiro, poder, sucesso e prazer frequentemente dão uma “sensação de solidão”. Ele também lembra que a fé cristã é “a raiz da esperança e da felicidade”.
"Foi uma homilia que surpreendeu pelo conteúdo e a tradução que ele fez das três leituras aplicada", diz o padre Valeriano Costa à BandNews FM.
Lembrança
No início de seu sermão na missa em Aparecida, o papa Francisco mencionou a alegria de estar na “casa da mãe do povo brasileiro". Ele ainda recorda uma ocasião de seis anos atrás, quando ele esteve no Santuário Nacional. “Lembro como os bispos eram animados, inspirados pelos milhares de peregrinos que vinham confiar sua vida a Nossa Senhora”.

Íntegra do sermão
"Venerados irmãos no episcopado e sacerdócio, queridos irmãos e irmãs!
Quanta alegria me dá vir à casa da Mãe de cada brasileiro, o Santuário de Nossa Senhora Aparecida. No dia seguinte à minha eleição como Bispo de Roma fui visitar a Basílica de Santa Maria Maior, para confiar a Nossa Senhora o meu ministério.
Hoje, eu quis vir aqui para suplicar à Maria, nossa Mãe, o bom êxito da Jornada Mundial da Juventude e colocar aos seus pés a vida do povo latino-americano.
Queria dizer-lhes, primeiramente, uma coisa. Neste Santuário, seis anos atrás, quando aqui se realizou a 5ª Conferência Geral do Episcopado da América Latina e do Caribe, pude dar-me conta pessoalmente de um fato belíssimo: ver como os bispos – que trabalharam sobre o tema do encontro com Cristo, discipulado e missão – eram animados, acompanhados e, em certo sentido, inspirados pelos milhares de peregrinos que vinham diariamente confiar a sua vida a Nossa Senhora: aquela Conferência foi um grande momento de vida de Igreja.
E, de fato, pode-se dizer que o Documento de Aparecida nasceu justamente deste encontro entre os trabalhos dos Pastores e a fé simples dos romeiros, sob a proteção maternal de Maria. A Igreja, quando busca Cristo, bate sempre à casa da Mãe e pede: “Mostrai-nos Jesus”. É de Maria que se aprende o verdadeiro discipulado. E, por isso, a Igreja sai em missão sempre na esteira de Maria.
Assim, de cara à Jornada Mundial da Juventude que me trouxe até o Brasil, também eu venho hoje bater à porta da casa de Maria, que amou e educou Jesus, para que ajude a todos nós, os Pastores do Povo de Deus, aos pais e aos educadores, a transmitir aos nossos jovens os valores que farão deles construtores de um país e de um mundo mais justo, solidário e fraterno.
Para tal, gostaria de chamar atenção para três simples posturas: conservar a esperança; deixar-se surpreender por Deus; viver na alegria.
Conservar a esperança: A segunda leitura da missa apresenta uma cena dramática: uma mulher, figura de Maria e da Igreja, sendo perseguida por um dragão – o diabo – que quer lhe devorar o filho. A cena, porém, não é de morte, mas de vida, porque Deus intervém e coloca o filho a salvo.
Quantas dificuldades na vida de cada um, no nosso povo, nas nossas comunidades, mas, por maiores que possam parecer, Deus nunca deixa que sejamos submergidos. Frente ao desânimo que poderia aparecer na vida, em quem trabalha na evangelização ou em quem se esforça por viver a fé como pai e mãe de família, quero dizer com força: Tenham sempre no coração esta certeza! Deus caminha a seu lado, nunca lhes deixa desamparados!
Nunca percamos a esperança! Nunca deixemos que ela se apague nos nossos corações! O “dragão”, o mal, faz-se presente na nossa história, mas ele não é o mais forte. Deus é o mais forte, e Deus é a nossa esperança! É verdade que hoje, mais ou menos todas as pessoas, e também os nossos jovens, experimentam o fascínio de tantos ídolos que se colocam no lugar de Deus e parecem dar a esperança: o dinheiro, o poder, o sucesso, o prazer.
Frequentemente, uma sensação de solidão e de vazio entra no coração de muitos e conduz à busca de compensações, destes ídolos passageiros. Queridos irmãos e irmãs, sejamos luzeiros de esperança! Tenhamos uma visão positiva sobre a realidade.
Encorajemos a generosidade que caracteriza os jovens, acompanhando-lhes no processo de se tornarem protagonistas da construção de um mundo melhor: eles são um motor potente para a Igreja e para a sociedade. Eles não precisam só de coisas, precisam sobretudo que lhes sejam propostos aqueles valores imateriais que são o coração espiritual de um povo, a memória de um povo.
Neste santuário, que faz parte da memória do Brasil, podemos quase que apalpá-los: espiritualidade, generosidade, solidariedade, perseverança, fraternidade, alegria; trata-se de valores que encontram a sua raiz mais profunda na fé cristã.
A segunda postura: Deixar-se surpreender por Deus. Quem é homem e mulher de esperança – a grande esperança que a fé nos dá – sabe que, mesmo em meio às dificuldades, Deus atua e nos surpreende. A história deste Santuário serve de exemplo: três pescadores, depois de um dia sem conseguir apanhar peixes, nas águas do Rio Paraíba, encontram algo inesperado: uma imagem de Nossa Senhora da Conceição.
Quem poderia imaginar que o lugar de uma pesca infrutífera, tornar-se-ia o lugar onde todos os brasileiros podem se sentir filhos de uma mesma Mãe? Deus sempre surpreende, como o vinho novo, no Evangelho que ouvimos. Deus sempre nos reserva o melhor. Mas pede que nos deixemos surpreender pelo seu amor, que acolhamos as suas surpresas. Confiemos em Deus!
Longe d’Ele, o vinho da alegria, o vinho da esperança, se esgota. Se nos aproximamos d’Ele, se permanecemos com Ele, aquilo que parece água fria, aquilo que é dificuldade, aquilo que é pecado, se transforma em vinho novo de amizade com Ele.
A terceira postura: Viver na alegria. Queridos amigos, se caminhamos na esperança, deixando-nos surpreender pelo vinho novo que Jesus nos oferece, há alegria no nosso coração e não podemos deixar de ser testemunhas dessa alegria.
O cristão é alegre, nunca está triste. Deus nos acompanha. Temos uma mãe que sempre intercede pela vida dos seus filhos, por nós, como a rainha Ester na primeira leitura. Jesus nos mostrou que a face de Deus é a de um Pai que nos ama. O pecado e a morte foram derrotados.
O cristão não pode ser pessimista! Não pode ter uma cara de quem parece num constante estado de luto. Se estivermos verdadeiramente enamorados de Cristo e sentirmos o quanto Ele nos ama, o nosso coração se “incendiará” de tal alegria que contagiará quem estiver ao nosso lado. Como dizia Bento XVI, aqui, neste santuário: “o discípulo sabe que sem Cristo não há luz, não há esperança, não há amor, não há futuro”.
Queridos amigos, viemos bater à porta da casa de Maria. Ela abriu-nos, fez-nos entrar e nos aponta o seu Filho. Agora Ele nos pede: “Fazei o que Ele vos disser”. Sim, Mãe nossa, nos comprometemos a fazer o que Jesus nos disser! E o faremos com esperança, confiantes nas surpresas de Deus e cheios de alegria. Assim seja."