A aérea polonesa LOT Polish Airlines rompeu uma tradição de décadas ao anunciar a compra de até 84 jatos A220 da Airbus, deixando de lado sua parceria histórica com a Embraer e a Boeing. O contrato, avaliado em até US$ 2,7 bilhões, foi celebrado nesta segunda-feira (16) no primeiro dia da tradicional Paris Air Show — em um anúncio que misturou aviação civil com gestos diplomáticos.
A Airbus venceu, mas não foi apenas no campo técnico. A fabricante europeia superou a Embraer em uma disputa marcada por nuances políticas, com forte participação de autoridades da França, Polônia e Canadá no evento. Em tempos de realinhamento global, até os jatos refletem as alianças internacionais.
A escolha da Airbus frustra a Embraer, que esperava manter a LOT como cliente de longo prazo. Em nota, a fabricante brasileira sugeriu que a decisão teve mais de geopolítica do que de eficiência operacional. Segundo a empresa, manter a padronização da frota com seus jatos teria gerado uma economia de “milhões de euros” para a companhia polonesa.
“Entendemos que vivemos um momento excepcional em que a geopolítica desempenha um papel importante”, afirmou a Embraer, num recado claro — ainda que diplomaticamente escrito.
GEOPOLÍTICA PETISTA FOI CRUCIAL
Há também fatores externos em jogo. A recente visita do presidente Luiz Inácio Lula da Silva a Moscou para a celebração dos 80 anos do fim da Segunda Guerra Mundial (foto abaixo) não foi bem recebida na Polônia, crítica feroz da invasão da Ucrânia por Vladimir Putin. O gesto simbólico pode ter adicionado mais uma camada de atrito à escolha de fornecedores.
Confrontado sobre o peso da política na decisão, o CEO da LOT, Michal Fijol, preferiu contornar. “Não foi um processo fácil. Recebemos duas ofertas muito competitivas”, disse. Mas encerrou com uma frase que deixou pouco espaço para dúvidas: “Estou feliz que vocês tenham nos querido mais”, afirmou, olhando para os executivos da Airbus.