segunda-feira, 3 de março de 2025

"AINDA ESTOU AQUI", o primeiro Oscar para o Brasil

MELHOR FILME ESTRANGEIRO: Longa de Walter Salles venceu na categoria de Melhor Filme Internacional, desbancando "Emilia Pérez".


O filme brasileiro "Ainda Estou Aqui" venceu o Oscar de Melhor Filme Internacional na premiação em 2025. O troféu é histórico, visto que é a primeira vez na história que uma produção brasileira vence um troféu na premiação mais famosa do mundo.

Disputavam com ele "Emilia Pérez", "A Semente do Fruto Sagrado", "Flow" e "A Garota na Agulha". O primeiro, o longa francês, era outro mais cotado para vencer na categoria - em especial pelas 13 indicações que teve ao Oscar deste ano. Entretanto, a produção sofreu com muitas polêmicas, entre elas a de mensagens antigas xenofóbicas e racistas da protagonista Karla Sofía Gascón.

O Brasil venceu seu primeiro prêmio na categoria em sua quinta indicação. Os anteriores que disputaram foram: "O Pagador de Promessas", "O Quatrilho", "O que é isso, companheiro?", "Central do Brasil" e "Orpheu Negro" (saiba mais sobre o primeiro Oscar que o Brasil venceu - em 1960 - mas não levou, no final desta matéria).

Além disso, o país teve diversas outras indicações ao longo dos anos em outras categorias, como em Melhor Documentário, Melhor Atriz, Melhor Animação, entre outros. No entanto, em nenhuma delas houve uma vitória.

“Ainda Estou Aqui” conta a história do desaparecimento de Rubens Paiva (interpretado por Mello) durante a ditadura militar e a luta da esposa, Eunice Paiva (feita por Fernanda) para o reconhecimento do estado da morte do marido.

A produção estreou nos cinemas brasileiros em novembro e já levou mais de 5 milhões de espectadores até as salas de cinema, em uma arrecadação que passou de R$100 milhões.

Mundialmente, o longa está próximo dos US$ 30 milhões (cerca de R$ 176 milhões) de arrecadação mundialmente. Nos Estados Unido, são mais de US$ 5 milhões (por volta de R$ 30 milhões). A produção brasileira é a primeira a ser indicada e Melhor Filme no Oscar e a quinta nacional na categoria de filmes não falados em inglês.

“Ainda Estou Aqui” foi amplamente aclamado pela crítica mundial com uma média de 85 de 100 no Metascore, que reúne textos críticos do mundo inteiro.

"Isso vai para uma mulher que, depois de uma perda tão grande em um regime tão autoritário, decidiu não se dobrar e resistir", disse Salles, ao receber a estatueta. "Também vai para as mulheres extraordinárias que deram vida a ela: Fernanda Torres e Fernanda Montenegro."

Três indicações, outro fato inédito


Além de Melhor Filme Estrangeiro, AINDA ESTOU AQUI, foi indicado para Melhor Atriz e Melhor Filme, porém, na categoria de Melhor Atriz, o prêmio ficou para Mikey Madison, de "Anora" e na principal premiação da noite, ANORA levou o Oscar de Melhor Filme.

Parabéns para Walter Sales, para todo elenco, em especial para Fernanda Torres, inspirada na grande EUNICE PAIVA.

'Orfeu Negro': a vez que o Brasil 'ganhou' o Oscar, mas não levou


O filme se passa no Rio de Janeiro. A história é em português brasileiro. As músicas são de Tom Jobim (1927-1994), Luiz Bonfá (1922-2001), Vinicius de Moraes (1913-1980) e Antônio Maria (1921-1964). A produção também é brasileira — mas não só; oficialmente o filme é ítalo-franco-brasileiro.

Quando se diz que o Brasil, até o prêmio deste domingo (02/3) para Ainda Estou Aqui nunca havia ganhado, é preciso explicar a história desse grande sucesso internacional chamado Orfeu Negro.

Vamos deixar claro: o Oscar de melhor filme estrangeiro de 1960 (categoria hoje chamada de melhor filme internacional), faturado por essa película, foi para a França.

Isso porque a principal produtora foi a francesa Dispat Films, em participação maior do que a italiana Gemma Cinematografica e do que a brasileira Tupan Filmes. O produtor responsável foi Sacha Gordine (1910-1968), francês de origem russa.

"O filme Orfeu Negro" foi rodado inteiramente no Rio de Janeiro, com quase que a totalidade do elenco sendo brasileira, falado em português, com música brasileira e, sobretudo, inspirado em uma peça do Vinicius de Moraes, que é um brasileiro bem conhecido também... e esses brasileiros foram, sim, creditados no filme", diz à BBC News Brasil o produtor de cinema Cao Quintas, professor na Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM).

Quintas diz, ainda, que "essa discussão é extremamente apropriada no momento, não só pela euforia da indicação brasileira ao Oscar agora [o filme 'Ainda Estou Aqui' recebeu três indicações, recorde na história do cinema brasileiro], mas pela discussão sobre regulamentação do streaming no Brasil, que precisa passar por uma definição do que é uma obra cinematográfica brasileira".

O professor explica que "em relação a coproduções", "normalmente o coprodutor majoritário indica o produtor delegado do filme, que passa a ser responsável por qualquer aspecto ligado à obra".

Nesse caso, conforme fica claro nos créditos de abertura, Sacha Gordine é o delegado. "E a França foi o país responsável por indicar o filme para concorrer ao Oscar. Nessa modalidade [filme estrangeiro], os filmes são indicados pelos respectivos países de origem", esclarece.

De acordo com o regulamento da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas dos Estados Unidos, que confere o prêmio, é nomeado como responsável por cada filme aquele que responder pela produtora com maior participação no trabalho —no caso de Orfeu Negro, a companhia francesa. Isto justifica o fato de que quem inscreveu o filme na competição foi a Dispat Films.

Um caso semelhante que ilustra essa situação foi com o filme O Beijo da Mulher Aranha, de 1985. Dirigido pelo argentino naturalizado brasileiro Hector Babenco (1946-2016), com elenco internacional e falado em inglês, a obra sempre foi considerada mais americana do que brasileira. A coprodução entre os dois países foi indicada ao Oscar de melhor filme de 1986, sendo considerada uma candidata dos Estados Unidos. Não levou.