Na central estourada no Recreio, havia uma organização de como o trabalho funcionaria no intuito de dar ainda mais veracidade ao golpe para roubar dados bancários das vítimas. Duas das acusadas — Anna Carolina de Sousa Santos e Rayane Silva Sousa — eram as responsáveis por fazer o primeiro contato com os alvos ao telefone, alegando ser da central telefônica do banco. Elas diziam que passariam a ligação para outro setor, deixando que entrassem em cena as outras três acusadas, que se revezavam. O trio — Yasmin Navarro, Mariana Serrano e Gabriela Silva Vieira — finalizavam o golpe, fazendo com que a pessoa revelasse seus dados bancários para a quadrilha.
O grupo tinha integrantes de outros núcleos, com funções distintas, que também estão sendo investigados. Os mais altos na hierarquia do bando são os responsáveis por recrutar as jovens e os demais integrantes do grupo, além de escolher o local de atuação. São eles os que mais lucram com o esquema. Em um caderno encontrado no apartamento no Recreio, os policiais encontraram anotações indicando o pagamento de R$ 416 mil para uma pessoa identificada como Junior no período de 15 dias. Há suspeitas de que o homem seja um dos chefes do bando.
No grupo de WhatsApp batizado de Apto 302 Recreio, número do apartamento onde funcionava a central, interagia com as cinco jovens presas uma pessoa identificada apenas como JN, que era avisado sobre os golpes que tinham dado certo e os dados bancários que elas conseguiam extrair das vítimas. O grupo era usado exclusivamente para tratar da rotina do trabalho criminoso na central.
A polícia já identificou que esses chefes têm recrutado jovens paulistas, além das cariocas para atuar nas centrais de telemarketing. Das cinco presas trabalhando no apartamento no Recreio, três são de São Paulo e duas, do Rio.
O grupo conta ainda com dois outros núcleos — o de motoboys que ficam responsáveis por recolher os cartões das vítimas em suas residências em determinadas situações e os “laranjas”, pessoas que cedem suas contas bancárias para que valores obtidos de forma ilícita sejam depositados nelas.
Apesar de baseada no Rio, a quadrilha faz vítimas país afora. Na planilha com 10 mil nomes encontrados pelos investigadores no apartamento, havia pessoas de São Paulo e de Santa Catarina. Um idoso de Balneário Camboriú, cujo nome estava marcado de verde no documento, confirmou à polícia que tinha sido vítima do bando.
As mulheres recrutadas pela quadrilha para trabalhar na central de telemarketing do crime têm entre 20 e 32 anos. À exceção de Anna Carolina, a mais velha do grupo, todas declararam, ao serem presas, que possuem ensino superior incompleto. Anna, que é carioca, disse ser administradora. No seu perfil no Instagram, ela afirmava ser “influenciadora da vida real” e dona de uma marca de acessórios Outras duas — Yasmin e Mariana — afirmaram serem auxiliares administrativas. Já Rayane disse que é estudante e Gabriela, assistente comercial. As jovens são todas de classe média.
Levantamento feito pelo GLOBO revela que as cinco mulheres pediram auxílio emergencial, benefício pago pelo governo federal em razão da pandemia da Covid-19. Elas receberam, no ano passado, valores em torno de R$ 3 mil. Apenas Yasmin, de 25 anos, teve o benefício negado e não recebeu nada.
Um dos próximos passos da investigação conduzida pela 40ª DP (Honório Gurgel) é pedir a quebra do sigilo bancário das mulheres para identificar suas movimentações financeiras. Nas redes sociais, algumas delas ostentavam e gostavam de posar em locais paradisíacos.
Jovens de classe média do Rio e de São Paulo, nenhuma das presas possuía antecedentes criminais. Os advogados das jovens já entraram com pedidos para que elas sejam soltas, nos quais negam envolvimento delas com a quadrilha. No entanto, ao fornecerem seus dados para a realização da audiência de custódia, três delas admitiram que usavam os números de celular que constam no grupo de WhatsApp usado para falar sobre golpes. Os pedidos de liberdade feito pela defesa das jovens não foram julgados ainda.
Fonte: O GLOBO