Alberto Goldman assumirá interinamente o comando do partido
O presidente licenciado do PSDB, senador Aécio Neves (MG), destituiu nesta quinta-feira o presidente interino do partido, o senador Tasso Jereissati (CE), do comando da legenda. A decisão foi tomada um dia após Tasso oficializar sua candidatura à presidência do partido, na convenção que será realizada em dezembro. Aécio alegou que a decisão foi tomada para que Tasso fique nas mesmas condições que o outro candidato do partido, o governador de Goiás, Marconi Perillo. O ex-governador de São Paulo Alberto Goldman, um dos vice-presidentes do PSDB, irá assumir o comando do partido interinamente.
Aécio reassumiu a presidência, mas apenas para indicar Goldman para o cargo. O tucano mineiro foi afastado do cargo em maio, após a divulgação de gravações feitas pelo dono da JBS em que ele aparece pedindo R$ 2 milhões a Joesley Batista, com a justificativa de que precisava da quantia para pagar despesas com sua defesa na Lava-Jato. Aécio é alvo de nove inquéritos no Supremo Tribunal Federal (STF). No mês passado, o Senado derubou a decisão do STF de afastá-lo do mandato.
Em carta endereçada a Tasso, o senador diz que o objetivo da medida foi "garantir a desejável isonomia entre os postulantes" e "conduzir com imparcialidade a eleição" do partido. No texto, Aécio também agradece o senador por ter aceito ser presidente interino e deseja "sorte em seus futuros projetos".
Goldman foi convocado às pressas e embarcou nesta tarde de São Paulo para Brasília para uma reunião no partido. Até que seja informado de qual será o seu papel na tentativa de solucionar a crise tucana, o ex-governador de São Paulo tem evitado dar declarações sobre a destituição de Tasso.
— Cheguei em Brasília agora e estou indo para o partido. Vamos ver como as coisas vão se dar — afirmou o ex-governador paulista ao GLOBO.
Deputados que fazem parte do grupo conhecido como "cabeças pretas" criticaram a destituição de Tasso. O deputado Daniel Coelho (PE) afirmou que a medida foi uma “intervenção de Temer e aliados”.
“Aécio acaba de destituir Tasso da presidência do PSDB. Vergonha!!!!! Intervenção de Temer e aliados”, publicou o parlamentar em sua conta no Twitter. “Tasso não se curvou a Temer, Aécio, Bruno Araújo e outros, foi chutado. Vergonha!!!!! Nojo!!!!!”, acrescentou.
Perillo, que deve disputar a presidência do PSDB com Tasso em dezembro, afirmou que a decisão foi “correta e justa” e elogiou o nome de Alberto Goldman para o comando do partido.
“Seria antiético e nem um pouco isonômico o processo se essa decisão não fosse adotada, já que a máquina partidária poderia pender para o lado de quem estivesse no comando do partido”, afirmou Perillo, em nota.
No evento de lançamento de sua candidatura na quarta-feira, Tasso fez um discurso forte, com o mote de reconectar o partido com os “ruídos das ruas”. O senador anunciou que irá apresentar na convenção de dezembro o esboço de um programa que será a base do presidenciável do partido na eleição de 2018, elaborado por um conjunto de economistas, entre eles Edmar Bacha, Pérsio Arida e Elena Landau.
O senador cearense se reuniu na terça-feira em um almoço com a bancada do Senado e Perillo. A tentativa era evitar o aprofundamento do racha interno na convenção, mas não houve avanço. Tasso defendeu que o candidato de consenso à presidência do partido teria que assumir o compromisso de liderar a saída do governo Temer.
Atualmente o PSDB ocupa quatro ministérios: Aloysio Nunes (Relações Exteriores), Antônio Imbassahy (Secretaria de Governo), Bruno Araújo (Cidades) e Luislinda Valois (Direitos Humanos).
Segundo interlocutores do presidente, Temer já admite dar início à reforma ministerial ainda este ano, trocando de mãos não só os ministérios ocupados pelo PSDB, mas também outros. Segundo avaliações no Palácio do Planalto, se o presidente perceber que o cenário desenhado nas próximas semanas no ninho tucano for mesmo na direção do desembarque do governo, Temer tende a se antecipar ao partido e tirá-lo de sua administração. Assessores do Planalto afirmam, no entanto, que a intenção do presidente era "manter a coalizão" como hoje está. (Colaborou Silvia Amorim)