A
salvação do Comperj entrou em alerta máximo. Se não houver ações
imediatas, o complexo petroquímico vai virar sucata. O toque deste
alerta é tão alto que quase todos são capazes de ouvir, menos a alta
direção da Petrobrás. A chama da esperança de muitas empresas e empregos
sobreviverem se manteve viva até a divulgação do novo plano de
investimentos da companhia, feita no dia 29 de junho. Mas o seu anúncio
foi como uma missa de corpo presente para centenas de empresas e
milhares de trabalhadores.
E o drama
não para aí. O Petronotícias teve acesso a uma informação crucial para a
sobrevivência do Comperj. A alta direção da companhia decidiu colocar
em operação apenas a UPGN – Unidade de Processamento de Gás Natural -,
mas, para que isso ocorra, é preciso concluir também mais duas outras
unidades coligadas: a Unidade de Centrais de Utilidades (Energia, Vapor,
Água, Ar Comprimido etc), sob a responsabilidade do Consórcio TUC,
formado por Toyo, UTC e Odebrecht; e o Pipe Rack, que nada mais é do que
a distribuição secundária dos produtos (via aérea), que é de
responsabilidade do Consórcio CPPR, formado por Odebrecht, UTC e Mendes
Junior. E existe também a necessidade imperiosa de se concluir a
Tubovia, as artérias do complexo, que está sob a responsabilidade do
consórcio liderado pela Andrade Gutierrez.
Tivemos a
informação de que o contrato da Tubovia termina no próximo mês e a sua
conclusão ainda exige a necessidade de um investimento de 200 milhões
de reais, valor já aceito pela gerência executiva do projeto e pela
própria direção da engenharia da companhia. O consórcio terá que dispor
desse dinheiro e esperar receber da Petrobrás, sem prazo definido.
Apesar da urgência, a Diretoria de Abastecimento se recusa a aceitar. A
alta direção vê tudo isso, mas se exime. Ninguém quer assumir nada na
companhia.
Apenas R$
1,2 bilhão foram destinados pelo plano de negócios para terminar o
Complexo. Esta falta de investimento no Comperj até 2021, como quer a
Petrobrás, e a decisão tecnocrata de se operar apenas a UPGN, será
praticamente o fim de todo esforço. O Parque de Tanques sem utilização,
sem pintura, será inteiramente deteriorado até lá. Bombas, fiações
elétricas, equipamentos de medição, reatores, vasos etc, não resistirão.
Para quem precisa aprender uma fórmula de como se jogar dinheiro na
lata do lixo, basta seguir este roteiro. É o mesmo que comprar um Aston
Martin ou uma Ferrari e não ter dinheiro para consertar dois pneus
furados. Encosta-se um carro de mais de R$ 1,5 milhão e esperam-se quase
sete anos, até imaginar ter dinheiro novamente para consertar os pneus.
Até lá, um patrimônio milionário ficará como sertanejo: esperando tempo
bom.
Alguns
conselheiros do presidente Aldemir Bendine, e ele próprio, acreditam que
esta é a decisão correta de quem, como salvador, irá colocar a
companhia nos eixos. Mas Bendine tem apenas alguns meses de companhia e,
além de corroborar as investigações que perseguem e amedrontam centenas
de funcionários, tornou-se um compositor dos destinos de milhares de
desempregados. Sem qualquer envolvimento afetivo com a companhia, segue o
roteiro frio de sua origem de banqueiro.
E isso
pode se tornar um outro alerta. Os gerentes e os gerentes executivos
formados na companhia, ao sofrerem a perseguição das investigações, são
colocados na pior posição para quem precisa tomar decisões de grande
responsabilidade: a falta de confiança. Tudo isso gerado pelos exemplos
dos Duques, Cerverós, Paulos Robertos, Zeladas e Baruscos. Bendine
talvez resista até o fim do Governo Dilma. Depois disso, estará bem
longe da poltrona de sua sala na sede da Avenida Chile, no Rio. Acabando
o governo, acaba sua gestão. Mas os gerentes executivos responsáveis
ficarão na companhia. E serão cobrados pela falta de decisões cruciais
que ajudaram a não tomar para salvar o futuro da Petrobrás.
Há quem
defenda as decisões de Bendine. Mas a sua falta de conhecimento do
mercado de petróleo e gás talvez o impeça de buscar decisões mais
criativas e solidárias. Em nenhum momento, a Petrobrás procurou o IBP,
por exemplo, que reúne a excelência do setor de petróleo. O seu atual
presidente é o respeitadíssimo Jorge Camargo, forjado na experiência de
grandes companhias internacionais. Ele e o seu experiente corpo de
dirigentes poderiam contribuir com bons conselhos e algumas
alternativas. Vale lembrar que o o diretor de gás da Petrobrás, Hugo
Repsold, é presidente do Conselho de Administração do IBP, e Solange
Guedes, Diretora de Exploração e Produção, é membro deste conselho.
Quem sabe
as empresas associadas ao Instituto, formado pelas companhias
internacionais gigantes que atuam no Brasil, pudessem ajudar a concluir a
construção das unidades do Comperj? Cada uma dessas empresas poderia
assumir a construção de uma das unidades, ainda inconclusas, em troca de
sociedade ou de petróleo extraído nos campos do pré-sal. São as mesmas
empresas que vêm explorando há anos as nossas riquezas. Por que, numa
hora dessas, elas não contribuiriam desta forma? Quanto isso custaria a
cada uma delas?
O certo é
que, se seguir o processo imposto pelo novo plano de investimento
anunciado pela Petrobrás, será um atentado ao bom senso. Ver um país que
está sempre pronto para apoiar iniciativas internacionais em Cuba, na
Bolívia, no Equador, na África e não encontra saídas criativas para se
auto ajudar, é decepcionante. Busca-se sempre a decisão mais óbvia e
mais fácil para quem está acima da cadeia de comando. Prefere-se ver
empresas morrerem e profissionais de todas as classes perderem seus
empregos para seguir a receita “técnica” da salvação.