IRADA, MARTA DETONA PT, DILMA, RUI E MERCADANTE
Praticamente fora do Partido dos Trabalhadores, a ex-prefeita e ex-ministra Marta Suplicy decidiu dinamitar de vez suas pontes com a legenda e com seus quase ex-companheiros; em entrevista à jornalista Eliane Cantanhêde, ela detonou o ministro Aloizio Mercadante ('um inimigo'), o presidente da sigla Rui Falcão ('um traidor'), a presidente Dilma Rousseff ('não ouve') e o próprio PT ('ou muda ou acaba'); sobrou até para o ex-presidente Lula, que, segundo Marta, não teria tido coragem para peitar Dilma e voltar em 2014; ela ainda fez intriga dizendo que Mercadante fará o possível para escanteá-lo novamente em 2018 e sinalizou que irá enfrentar Fernando Haddad, em 2016, na briga pela prefeitura de São Paulo
Marta conta que, em meados de 2013, começou a organizar o movimento 'Volta, Lula', num jantar em sua casa, com figurões do empresariado. "Eles fizeram muitas críticas à política econômica e ao jeito da presidente. E ele não se fez de rogado, entrou nas críticas, disse que era isso mesmo. Naquele jeito do Lula, né? Quando o jantar acabou, todos estavam satisfeitíssimos com ele", disse ela.
Segundo a ex-prefeita, Lula criticava Dilma abertamente. "Ninguém falou claramente, mas todo mundo saiu dali com a convicção de que ele era, sim, o candidato. Nunca admitiu, mas decepava ela: 'Não ouve, não adianta falar'", diz Marta. Ela afirma, ainda, que ele não teve disposição de enfrentar a presidente Dilma. "Ele é um grande estadista, mas não quis enfrentar a Dilma. Pode ser da personalidade dele não ir para um enfrentamento direto, ou porque achou que geraria uma tal disputa que os dois iriam perder."
Marta também defendeu a autonomia da equipe econômica, mas se mostrou descrente. "Vai depender de a Dilma respeitar a independência da equipe. Se não respeitar, vai ser desastroso. Agora, é preciso ter humildade e a forma de reconhecer os erros a esta altura é deixar a equipe trabalhar. Mas ela não reconheceu na campanha, não reconheceu no discurso de posse. Como que ela pode fazer agora?"
"Inimigo" e "traidor"
Os piores adjetivos foram reservados para o ministro da Casa Civil, Aloizio Mercadante, e para o presidente do PT, Rui Falcão. "O Mercadante é inimigo, o Rui traiu o partido e o projeto do PT, e o partido se acovardou ao recusar um debate sobre quem era melhor para o País, mesmo sabendo as limitações da Dilma. Já no primeiro dia, vimos um ministério cujo critério foi a exclusão de todos que eram próximos do Lula. O Gilberto Carvalho é o mais óbvio", diz ela.
Marta também afirmou que Lula será novamente escanteado em 2018. "Mercadante mente quando diz que Lula será o candidato. Ele é candidatíssimo e está operando nessa direção desde a campanha, quando houve um complô dele com Rui e João Santana para barrar Lula", diz ela, prevendo ainda que o chefe da Casa Civil dificilmente vencerá. "Ele vai ter contra si sua arrogância, seu autoritarismo, sua capacidade de promover trapalhadas. Mas ele já era o homem forte do governo. Logo, todas as trapalhadas que ocorreram antes ocorrem agora e ocorrerão depois terão a digital dele."
"Desmandos" no PT
Marta também criticou o que chamou de "desmandos" do PT, sinalizando que irá se abrigar em outra sigla para disputar a prefeitura de São Paulo, em 2016. "Cada vez que abro um jornal, fico mais estarrecida com os desmandos do que no dia anterior. É esse o partido que ajudei a criar e fundar? Hoje, é um partido que sinto que não tenho mais nada a ver com suas estruturas. É um partido cada vez mais isolado, que luta pela manutenção no poder. E, se for analisar friamente, é um partido no qual estou há muito tempo alijada e cerceada, impossibilitada de disputar e exercer cargos para os quais estou habilitada."