QUANTO TEMPO RESISTIREMOS?
No dia 14 de abril deste ano o trágico naufrágio do navio
Titanic completa 102 anos.
Este acidente chocante repercute e é lembrado até os dias de
hoje. Dele podemos retirar importantes lições sobre o comportamento humano.
Vejo um paralelo muito interessante entre o município de
Maricá e o Titanic, mas espero estar enganado.
O projeto do navio preocupou-se tanto com sua beleza e
suntuosidade que negligenciou conceitos básicos de segurança e engenharia
naval. E talvez o projetista estivesse correto e o que os passageiros da
primeira classe desejassem fosse isso mesmo. Os demais não ligavam para a
estética, queriam apenas um lugar a bordo.
O banquete da primeira classe não foi interrompido pelo
impacto da colisão com o imenso iceberg. Durante todo o naufrágio imperaram a
hipocrisia, o delírio e a descriminação. Até que, finalmente, chegou o
desespero.
Quem caminha pelas ruas do centro de Maricá, pode contar
quantas lojas e pontos comerciais encontram-se fechados. É o famoso PASSO O PONTO.
Em outros distritos do nosso município, acontece o mesmo.
A economia de Maricá
não é capaz de gerar expectativas suficientes para segurar sequer os recém
formandos que buscam melhores condições no mercado de trabalho. Maricá bateu em
um imenso bloco de gelo, o casco rasgou e está fazendo água.
Mas o banquete prossegue na primeira classe, a orquestra
executa mais uma valsa, o baile continua. Nos porões do navio, quem já se deu
conta da situação, está na luta desenfreada por um dos poucos botes que ainda
restam.
Não culpem o capitão do navio. Ele não o afundou sozinho.
Como também não culpem o governante A ou B. Isto é uma desculpa limitada, que,
por vezes, esconde a verdadeira origem dos problemas.
Maricá é o espelho de sua sociedade. A maioria dos eleitores
não parece sensível aos problemas que nos afligem. E muito menos dispostos a
encara-los de frente.
A verdade é que temos todos de mudar a nossa atitude,
deixarmos de ser individualistas.
A sociedade parece muito eficiente em apontar os problemas,
mas, na hora em que a solução dos mesmos afeta uma das insignificantes
ilegalidades que o indivíduo comete, como: emporcalhamos as cidades, votamos
levianamente, urinamos nas ruas e defecamos nas praias, fazemos a barulheira
que nos convém a qualquer hora do dia e da noite, matamos e morremos no
trânsito, queixamo-nos da falta de educação alheia sem notarmos a nossa,
compramos droga, soltamos assassinos a torto e a direito, falsificamos
carteiras, atestados e diplomas, furamos filas e, quase todo o dia, para realçar
esse panorama, assistimos a mais um espetáculo ignóbil arquitetado e
protagonizado por nossos governantes, ele não se dispõe a mudar.
Com isso, abre-se o caminho para o clientelismo e o
populismo, por onde entram na vida pública os líderes de visão estreita.
A orquestra toca enquanto o navio aderna. Será que se os
oficiais do Titanic tivessem oferecido cestas básicas ou desses CHEQUE BOLSA
ALGUMA COISA, já que não possuíam coletes e botes para todos, mais pessoas
teriam sobrevivido?
Com que direito reclamamos do governo? Quem não ouviu a
máxima “cada povo tem o governo que merece?” pronunciada em 15 de agosto de
1811 por Joseph De Maistre, filósofo e diplomata, crítico da Revolução
Francesa, inimigo das repúblicas e defensor das monarquias.
Sua intenção era, no fundo, criticar os eleitores e não os
maus governantes.
Nós temos como salvar Maricá, cada um cumprindo com realismo
o seu papel na sociedade, não basta elegermos o político A ou B, o que devemos
fazer é nos engajar e agir.
É a omissão das pessoas de bem que facilitou o aumento do
espaço para os aproveitadores.
Somente através da participação da sociedade civil
organizada e, sobretudo das entidades representativas, como a nossa ACEIM entre
outras, é que as mudanças necessárias poderão ser postas em prática.
Segundo o projetista do Titanic, “nem mesmo as mãos de Deus
seriam capazes de afunda-lo” .
Não se iludam e, sobretudo, não se omitam. Se não
defendermos nossos ideais ninguém o fará por nós. Só depende de nós.
Este texto foi publicado em maio de 2010 no Informativo da
ACEIM e por sua atualidade e atendendo a pedidos, o atual presidente da ACEIM –
Adélio Silva o republicou na circular do mês de abril entregue aos associados e
nós do Barão de Inohan a reproduzimos com algumas inserções.