Reforço petista amplia poder de Eduardo Cunha contra o Planalto
Com ajuda de deputados do PT, núcleo duro na Câmara reforça dissidências e obstrui avanço de projetos de interesse de Dilma
Alçado à condição de principal dor de cabeça do governo no Congresso, o líder do PMDB na Câmara, Eduardo Cunha (RJ), encontrou no partido da presidente Dilma Rousseff reforço para assegurar sua influência sobre a tomada de decisões dentro do Palácio do Planalto. Amparado também pelo presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), Cunha tem hoje, na avaliação do governo, a ajuda direta ou indireta de algo em torno de uma dezena de deputados petistas para alimentar dissidências na base e endurecer a relação com o Executivo.
O apoio ao líder do PMDB é colocado pelo Planalto na conta de nomes como o deputado Cândido Vaccarezza (PT-SP). Outro expoente do grupo é André Vargas (sem partido-PR), que foi pressionado a deixar a vice-presidência da Casa e a se desfiliar do PT, por seu envolvimento com o doleiro Alberto Youssef. A lista inclui também nomes como Vicente Cândido (SP), tido como um dos principais articuladores do PT paulista. Do lado do PMDB, Cunha mantém como fiéis escudeiros, além de Henrique Eduardo Alves, aliados como Lúcio Vieira Lima (PMDB-BA) e Leonardo Picciani (PMDB-RJ).
O grupo mantém conversas frequentes para alinhar a estratégia no Congresso. Foi, por exemplo, num jantar na casa de Henrique Eduardo Alves que foram acertados, há algumas semanas, os pontos de um plano para dar sobrevida a doações privadas de campanha. Diante do avanço no Supremo Tribunal Federal em direção à proibição desse tipo de contribuição, o grupo trabalha para fazer avançar o projeto da reforma política que tramita na Casa e prevê a manutenção do modelo privado de financiamento.
O PT tem posição histórica pelo financiamento público exclusivo das campanhas eleitorais e aval do governo para trabalhar pela aprovação de uma proposta nesse sentido. Ainda assim, quando o texto da reforma política foi desenhado, na esteira das manifestações do ano passado, Henrique Eduardo Alves encarregou-se de colocar Vaccarezza à frente do grupo de trabalho que produziu o texto, a contragosto da bancada petista. O PT chegou a declarar publicamente que não aceitaria ser representado pelo deputado e indicou o hoje ministro de Relações Institucionais, Ricardo Berzoini, para defender as posições do partido no grupo.
A mesma articulação comandada na época voltou nesta semana, quando, sob regência de Eduardo Cunha, o núcleo atuou para fazer avançar o projeto que mantém as doações privadas. Enquanto o PT trabalhava para evitar que a admissibilidade do projeto fosse analisada na Comissão de Constituição e Justiça, Vaccarezza agia para a proposta andar. Henrique Eduardo Alves empenhou-se pessoalmente ao acionar Vicente Cândido, que preside a comissão, para que incluísse o tema na pauta. Na costura de bastidores por apoio às doações privadas, entraram em campo também Leonardo Picciani e Lúcio Vieira Lima. A saída encontrada pelo PT para tentar frear a movimentação foi fechar questão sobre o tema e enquadrar rebeldes com a ameaça de punição a quem contrariar a orientação.
Vaccarezza segue defendendo publicamente o texto, embora prometa, ao fim, seguir a orientação do PT. Segundo líderes peemedebistas, esta é justamente uma das características de petistas que, como ele, ajudam a sustentar a ação de Cunha. Embora não necessariamente contrariem seu partido, esses deputados colaboram com toda a articulação para alimentar dissidências em outros setores da base aliada em votações estratégicas para o governo. Foi assim na apreciação dos MP dos Portos, dos royalties do petróleo e do Orçamento Impositivo.
Reforço
Dentro do Planalto, a avaliação é de que Cunha soube capturar um sentimento de insatisfação com o governo Dilma e agora colhe os frutos de falhas na condução da articulação política. No PT, há ainda a ideia de que o líder do PMDB se beneficiou também do enfraquecimento de um grupo, dentro da bancada petista, que no passado orbitou em torno do ex-presidente da Câmara João Paulo Cunha (PT-SP), condenado no julgamento domensalão. É nessa conta que entram nomes como Luiz Sérgio (RJ), José Mentor (SP), Carlos Zarattini (SP) e Devanir Ribeiro (SP), que na Câmara mantêm atuação próxima de Vaccarezza, André Vargas e Vicente Cândido.
Quando questionado sobre a atuação conjunta com setores do PT, Cunha diz que sua única preocupação é aplicar a vontade da bancada peemedebista. “Eu não faço atuação conjunta com ninguém, apenas trabalho de acordo com o que quer a bancada do meu partido. Sou líder do PMDB, é simples assim”, afirma. “Há temas, como a reforma política, que não são de ninguém. Cada um tem uma posição. Eu defendo a posição da minha bancada. Agora, se alguém pensar igual a nós, que venha conosco”, completa o líder do PMDB.
Vaccarezza, por sua vez, critica a postura de aliados que o classificam como colaborador do PMDB. “Acho uma baixaria informações covardes de quem não tem coragem de mostrar a cara. Não vou debater com o submundo, acho uma baixaria e covardia tratar política dessa forma”, diz. No PMDB, entretanto, Vaccarezza também é tratado como parceiro de primeira hora. Sua relação de proximidade com Cunha é notória entre peemedebistas, que dizem que o petista "ajuda muito" em diversas articulações.
Eduardo Cunha
Protagonista de boa parte das divergências entre o Planalto e a base aliada, o líder do PMDB conseguiu unificar a bancada e dificultou a ação do governo no Congresso em votações estratégicas, como MP dos Portos, Orçamento Impositivo, royalties do petróleo e Marco Civil da Internet. Na avaliação do governo, o peemedebista soube capturar um sentimento de insatisfação em relação ao governo da presidente Dilma Rousseff. Entre peemedebistas, recebe elogios pela capacidade de liderança e disposição em enfrentar o Planalto. Para aliados, soube também ocupar um vácuo de poder deixado por Michel Temer, quando o vice-presidente se licenciou da presidência do partido. Também tem posição de liderança na bancada evangélica.
Protagonista de boa parte das divergências entre o Planalto e a base aliada, o líder do PMDB conseguiu unificar a bancada e dificultou a ação do governo no Congresso em votações estratégicas, como MP dos Portos, Orçamento Impositivo, royalties do petróleo e Marco Civil da Internet. Na avaliação do governo, o peemedebista soube capturar um sentimento de insatisfação em relação ao governo da presidente Dilma Rousseff. Entre peemedebistas, recebe elogios pela capacidade de liderança e disposição em enfrentar o Planalto. Para aliados, soube também ocupar um vácuo de poder deixado por Michel Temer, quando o vice-presidente se licenciou da presidência do partido. Também tem posição de liderança na bancada evangélica.
Em seu 11º mandato consecutivo, Henrique Eduardo Alves assumiu como deputado federal em 1971, aos 23 anos. Em 2013, depois de ser líder da bancada do PMDB na Câmara, conseguiu realizar um sonho antigo ao ser eleito presidente da Casa. No cargo, tem sido parceiro do atual líder do PMDB e pautou matérias contra a vontade do governo, como o Orçamento Impositivo, entre outras. Tem protagonismo nas articulações e tem feito pressão em favor da tramitação da PEC da reforma política. Deverá disputar o governo do Estado do Rio Grande do Norte nas eleições deste ano.
Irmão do ex-deputado federal e ex-ministro Geddel Vieira Lima, Lúcio é vice-líder do PMDB na Câmara dos Deputados. Atua como um dos mais próximos interlocutores do líder Eduardo Cunha. Deputado de primeiro mandato, conquistou a simpatia de colegas e colabora no diálogo com outros partidos. É vice-presidente do PMDB da Bahia e participou da articulação que uniu DEM, PMDB e PSDB. Defensor do financiamento privado de campanhas, participa da articulação para tramitação da PEC da reforma política. Votou contra o governo na apreciação do Orçamento Impositivo.
Filho do presidente do PMDB fluminense, Jorge Picciani, Leonardo está em seu terceiro mandato na Câmara dos Deputados. Atua de forma muito próxima ao líder da bancada e conterrâneo, Eduardo Cunha. Também vice-líder da bancada, tem trabalhado pela tramitação da PEC da reforma política. Votou contra o governo na apreciação da PEC do Orçamento Impositivo. Atualmente, preside o diretório carioca do PMDB e atua na articulação da chapa do vice-governador Luiz Fernando Pezão. Um dos principais líderes da ala do PMDB do Rio de Janeiro que defende que o palanque local seja dado para Aécio Neves. Foi secretário estadual de Habitação do Rio de Janeiro em duas oportunidades.
Ex-líder do governo na Câmara, o petista chegou a figurar entre os principais articuladores políticos do PT. Na eleição de 2010, o deputado paulista participava ativamente de reuniões estratégicas da equipe de campanha e esteve entre os favoritos para assumir um assento no ministério. Sem a simpatia da presidente Dilma Rousseff, acabou sendo afastado do Planalto pouco tempo depois da eleição. Aos poucos, tornou-se uma espécie de porta-voz dos deputados petistas insatisfeitos com o governo.
Na mira da PF por seu envolvimento com o doleiro Alberto Youssef, o deputado do Paraná vinha ganhando projeção dentro do PT nos últimos anos. Patrocinado por nomes como João Paulo Cunha e Cândido Vaccarezza, cresceu na hierarquia partidária e chegou a comandar posições estratégicas na legenda, como a Secretaria Nacional de Comunicação. Sob pressão após usar um jatinho do doleiro e aparecer em investigações da PF, foi forçado a renunciar à vice-presidência da Câmara e a se desfiliar do PT.
Com bom trânsito no PT de São Paulo, conseguiu conquistar a presidência da cobiçada Comissão de Constituição e Justiça.